Memória: a incrível história do Draft de Joe Montana
Na coluna desta semana, Raphael Fraga nos conta como o destino colocou os 49ers no caminho da lenda da NFL
Fugindo um pouco do assunto playoffs na NFL, essa época do ano também é cheia de expectativas para o futuro. Uma semana após a eletrizante final da temporada do college football, já nos preparamos para uma offseason que promete muitas mudanças na posição mais popular do jogo.
Vários times vão buscar um novo quarterback para 2018, sendo na free agency ou no Draft, que conta com uma das classes mais talentosas dos últimos anos. Nomes como Sam Darnold e Baker Mayfield são cotados como futuros astros na liga.
A historia da liga é repleta de jogadores que saíram nas primeiras escolhas e não renderam nada (Jamarcus Russel, Ryan Leaf) e de talentos que saíram tarde no Draft e renderam muito (Tom Brady e o assunto dessa coluna). Tudo isso o fã de NFL já está careca de saber, agora o que o leitor vai conhecer agora diz respeito a uma lenda do esporte mundial.
A nossa história começa no dia 25 de março de 1978, quando os 49ers, que na época eram um dos piores times da liga, fizeram uma troca bombástica com os Buffalo Bills por O.J. Simpson, RB hall da fama que hoje é mais conhecido por fatores extracampo.
Simpson, ídolo na USC, voltava para casa na Califórnia; após destruir recordes em Buffalo, ele foi trocado por cinco escolhas no Draft. Orenthal James Simpson jogou um ano em San Francisco correndo 120 vezes para 460 jardas, com o joelho operado. O.J., longe de ser o que foi em Buffalo, se aposentou em um 49ers que teve o pior recorde na liga. O início da era Bill Walsh em San Francisco começava de uma forma bem complicada.
Walsh havia sido coordenador do lendário Paul Brown em Cincinnati de 1968 até 1975. Considerado o herdeiro de Brown, o treinador acabou saindo do time após ser preterido por Bill Johnson com a aposentadoria do lendário treinador.
E Walsh descobriu que o seu mentor não só havia sido contra ele assumir como HC, mas também teria feito comentários negativos sobre ele com os clubes que demonstraram interesse em contratar seu fiel escudeiro, uma decisão que definiu bem o futuro de duas franquias.
Bill Walsh se sentiu sentiu traído e pediu demissão dos Bengals, foi coordenador dos Chargers por um ano antes de liderar uma grande equipe de Stanford no nível universitário por dois anos até assumir os 49ers em 1979.
No Draft daquele ano, o novo HC já sabia que precisaria de um QB. Seu inovador esquema que viria a ser conhecido como “West Coast Offense” precisava de um jogador que conseguisse se movimentar no pocket, e distribuir passes curtos com uma leitura veloz do jogo e esse não era o perfil do veterano Steve DeBerg.
Caso a troca por O.J. não tivesse acontecido, os 49ers teriam a primeira escolha do Draft, com uma possibilidade grande de que eles teriam selecionado Steve Fuller, de Clemson, Jack Thompson, de Washington State, que por sinal foi para os Bengals, ou até Phil Simms, de Morehead State, que fez história com os Giants.
Montana disponível na 3ª rodada do Draft
No segundo round, Walsh selecionou James Owens, WR de UCLA. No terceiro round ele olhou para o seu Draft board, no topo da lista estava o quarterback que havia liderado Notre Dame ao título nacional, um jogador diferente do que a liga estava acostumada a ver na década de 70. Com QBs fortes como Staubach, Stabler e Bradshaw, Joe Montana era franzino, de cabelos loiros e longos, bem tranquilo, O menino parecia mais um astro de cinema, longe da imagem de guerreiro que os líderes da posição passaram na década que se encerrava.
Com a escolha número 76, o outro time que se interessava por um quarterback era o Dallas Cowboys de Tom Landry. Ciente de que seu lendário QB Roger Staubach se aproximava da aposentadoria, ele considerou escolher Montana, porém decidiu que estava satisfeito com o reserva Danny White, que não só era QB como o punter do time. Landry escolheu Doug Cosbie, tight end de Santa Clara, deixando o jovem loiro para ser escolhido pelos 49ers com a escolha de número 82, a última do round 3.
Demoraria dois anos para Walsh escalar de vez Montana como seu QB titular. Dois anos em que a equipe venceria oito jogos e perderia 24. Atá que em 1981 a NFL finalmente se renderia à genialidade da dupla. Após nove anos, os 49ers voltaram para os playoffs, e no seu caminho o poderoso Dallas Cowboys os aguardava no NFC Championship.
Em um dos jogos mais épicos na historia da NFL, Joe Montana liderou os 49ers a uma virada improvável, consagrada por um lance que ficou conhecido simplesmente como “The Catch” (a recepção). Em uma jogada que não ocorreu como foi desenhada, sua opção primária tropeçou o tirando da jogada, Montana se movimentou para a beirada do campo enquanto Dwight Clark quebrou sua rota e seguiu o QB pela end zone. Joe esperou até o último minuto, quando o campo acabou e o pass rush dos Cowboys se aproximava do sack com Ed “too Tall” Jones.
Montana lançou um passe alto para seu wide receiver, a recepção milagrosa e é algo que todo torcedor de NFL tem que ver e rever para apreciar a genialidade do lance. O TD deu uma vantagem de um ponto para o time californiano, que seria suficiente para vencer os Cowboys quebrando uma sequência de três derrotas consecutivas em playoffs para o time de Landry.
O hoje lendário QB vencia Danny White e o lendário treinador que optou pelo punter/QB e armaria de vez a maior rivalidade da NFL. Para aumentar a mística do jogo, Dwight Clark também foi escolhido no Draft de 79, com escolha 249 no décimo round. Clark dividia quarto com o QB Steve Fuller, na universidade de Clemson. Foi ele que atendeu o telefone quando Walsh ligou para marcar o dia dos testes de Fuller, por acaso ele perguntou se Clark poderia correr rotas para ele e o WR aceitou, aproveitando a oportunidade única de ser observado por um HC da NFL.
Walsh ainda teria mais um momento mágico naquela temporada de 81 quando sua equipe conquistou o primeiro de três Super Bowls com o treinador. A vitória veio em cima do seu ex time, Cincinnati Bengals, agora treinado por Forrest Greg, mas sob o gerenciamento de Paul Brown.
Os 49ers dominariam a NFL na década de 80, revolucionando o jogo com a “West Coast Offense” que até hoje é utilizada na liga e tem Andy Reid como principal mentor. Uma dinastia que começou com uma troca desastrosa, que quase viu seu maior ídolo ir para o maior rival. Mais uma prova de que no mundo da bola oval tudo pode acontecer.
(Fotos: NFL.com)
*Por Raphael Fraga
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