ANÁLISE TÁTICA: os segredos da forte defesa dos 49ers
Defesa dos Niners surge como uma das melhores da liga e conduz o time a um recorde impecável no início de 2019
Independentemente do time que você mais gosta na NFL, é preciso admirar o que a defesa do San Francisco 49ers vem produzindo até o momento. Ao longo de cinco jogos, foram atuações incríveis, sufocando os quarterbacks adversários e conduzindo o time ao recorde invicto que permanece ao final da semana 6.
Após grande investimento na offseason, a equipe viu a unidade mudar radicalmente suas atuações logo na semana 1. As adições de Nick Bosa, Dee Ford e Kwon Alexander vêm surtindo efeito, fazendo o time extremamente agressivo do início ao fim do jogo e dando chances a Jimmy Garoppolo de pontuar com mais frequência. Com tanta qualidade apresentada no início da temporada, vale observarmos como essa defesa vem enfrentando cada adversário até o momento.
Dividi a análise em cinco pontos cruciais para o sucesso dos Niners.
Foto: Reprodução Twitter / San Francisco 49ers
1) Capacidade de forçar turnovers
A unidade comandada por Robert Saleh enfrentou os Bucs na abertura da temporada. Após forçar dois punts, algumas falhas ajudaram Jameis Winston a conduzir o time até a red zone. Numa 3ª descida para quase 20 jardas, a defesa mandou apenas a linha defensiva atrás do QB, deixando um espaço proposital para uma recepção curta, evitando o touchdown.
OJ Howard recebe a bola, logo após é atacado por cinco jogadores. Com a certeza do tackle, a defesa foca na bola, e consegue forçar um importante turnover para manter a liderança no placar. Uma das maiores mudanças para 2019 é justamente a agressividade no ataque à bola, que tem auxiliado muito o time a ser um dos melhores em saldo de turnovers (+7).
Neste mesmo jogo, a unidade ainda conseguiu 3 sacks, 4 TFL, 3 INTs (em 2018 foram 2 durante a temporada inteira) e 9 passes defendidos. Vencer a batalha de turnovers é a primeira característica de um time que terá jogos em janeiro.
2) Agressividade contra o jogo terrestre
Na semana 2, a vítima foi o Cincinnati Bengals. Neste duelo, a defesa dos Niners mostrou uma qualidade importante para o sucesso de qualquer franquia: combate ao jogo terrestre. Ao todo, os Bengals terminaram o duelo com apenas 25 jardas por terra, o que facilitou o controle de relógio e domínio na partida.
Ainda no primeiro quarto, os Bengals perdiam por sete pontos e tentavam estabelecer o jogo terrestre, quando o defensive end invade o backfield, ignora o right tackle e derruba o running back muito antes da linha de scrimmage. Este tipo de jogada força descidas longas, facilitando o trabalho do pass rush, uma vez que o QB terá de esperar mais tempo para as rotas se desenvolverem.
No fim do jogo, foram novamente menos de 20 pontos cedidos, 4 sacks, 9 TFLs, INT, 8 passes defendidos. A elevada qualidade em ocupar os gaps sufocou a linha ofensiva dos Bengals, impossibilitando que o ataque variasse jogadas e fazendo a secundária limitar as ações de Andy Dalton. O game plan, mais uma vez, foi decisivo.
3) Game changer
Para uma defesa ser decisiva, não basta apenas forçar turnovers, é preciso mudar o astral de um jogo que, aparentemente, seria uma derrota. Na semana 3, ficou evidenciada a capacidade dessa defesa de mudar completamente o ânimo da equipe. No primeiro tempo, o ataque dos Niners teve seis posses de bola. Destas, quatro foram turnovers forçados pelos Steelers, além de um punt e um field goal.
Entretanto, um atuação de luxo da defesa manteve o placar próximo no intervalo (6 a 3), impedindo que os Steelers tivessem uma vantagem maior e aproveitassem o dia de pouco brilho ofensivo. Na abertura da segunda etapa, a unidade ainda conseguiu uma interceptação sobre Mason Rudolph, iniciando o drive do ataque que terminaria no primeiro touchdown da partida.
Ou seja, após um primeiro tempo desastroso, a defesa foi capaz de manter a equipe no duelo. E não foi fácil: dois dos turnovers foram recuperados no campo de defesa dos Niners, já em área para arriscar field goal. Os outros dois foram ainda mais arrasadores, já que foram na red zone rival, ou seja, além de não pontuar, a equipe acaba abalada por ter a bola roubada tão próximo da linha de goal. Assim, fica evidenciado que esta defesa é capaz de mudar qualquer partida, o que deve manter os adversários sempre atentos para evitar o pior.
4) Sack machine
O duelo realizado no Monday Night Football da semana 5 demonstra outra característica gritante desta equipe: sacks. É muito difícil obter sucesso sem pressionar o quarterback adversário, e os Niners entendem perfeitamente esta lição.
Assim, o time tem sido muito efetivo em pressionar e derrubar os oponentes, ainda que, muitas vezes, mande apenas seus jogadores de linha atrás do QB. Ou seja, a qualidade aumentou tanto na DL que é possível pressionar com apenas quatro jogadores e, a partir disto, cobrir com sete as zonas de passe. Com mais jogadores marcando, o quarterback precisa de uma leitura apurada para não perder a bola e, se não a tiver, acaba sendo derrubado por um dos jogadores de linha.
E talvez o ponto mais incrível seja a consistência. Em todos os duelos a equipe consegue pressionar e obter sacks. Como já teve sua bye week, é preciso avaliar o número de sacks por jogo. Com isto, se vê que unidade atinge a marca ótima de 3,4 sacks por partida, sendo o terceiro melhor da NFL neste quesito. À frente, somente os Patriots (que anotaram sete contra os Dolphins) e os Panthers (que conseguiram oito contra a OL inexistente dos Cardinals). Ao observarmos os stats coletivos, vemos que esta pressão surte em resultados claros: os 49ers têm a melhor defesa contra o passe da NFL, cedendo apenas 150,2 jardas aéreas por partida.
O grande fator para essa evolução em relação ao último ano é a adição de jogadores como Nick Bosa e Dee Ford que, até aqui, têm feito um ótimo trabalho pelos lados da linha, bem como Buckner pelo meio. Depois de humilhar Baker Mayfield e os Browns no horário nobre, os Niners cravam sua bandeira entre as melhores equipes da liga, muito por conta da defesa.
5) No Fly Zone
Se você perguntar a qualquer analista de NFL quem é, atualmente, o grande treinador de mentalidade ofensiva na liga, a maioria irá apontar Sean McVay. O head coach dos Rams, mesmo muito jovem, já consegue impactar profundamente a liga, criando o ataque da franquia de Los Angeles que encantou a todos em 2018.
Após duas vitórias fáceis ano passado sobre os Niners, os times voltaram a se enfrentar na semana 6 de 2019, mas, pela primeira vez na “Era McVay”, havia uma forte defesa do outro lado. Jared Goff teve um das piores tardes de sua carreira, o que demonstra que esta defesa está pronta para os maiores desafios.
Durante o jogo, ficou evidenciada que a secundária dos Niners também subiu de produção, aproveitando a pressão para manter coberturas muito próximas e dando janelas mínimas para os adversários. Com passes apressados, Goff errou o alvo muitas vezes e terminou a partida com 13/24, 78 jardas. Isto mesmo: 78 jardas! Durante todo o duelo, os Rams não chegaram sequer a 80 jardas aéreas, em virtude da forte cobertura. Além de obviamente Richard Sherman, vale o destaque para Jimmy Ward, que conseguiu defender dois passes na partida e garantiu que os Rams conseguissem apenas sete pontos.
Ao todo, são 7 interceptações no ano, apenas 5 touchdowns aéreos cedidos, 150 jardas/jogo e um rating de 62.5 para os quarterbacks adversários. Para vencer os Niners, qualquer ataque precisará estar em seu melhor dia, porque esta defesa parece não ter dias ruins.
Foto: Reprodução Twitter / San Francisco 49ers