ANÁLISE TÁTICA: o game plan que deu uma vitória tranquila aos 49ers contra os Rams
Niners fizeram ajustes defensivos durante a partida para tornar o ataque dos Rams previsível; entenda
A semana 6 da NFL nos trouxe um excelente duelo tático entre o atual campeão da NFC, Los Angeles Rams, e o atual líder da conferência, o invicto San Francisco 49ers. Dois times com head coaches da mesma “árvore”, discípulos de Mike Shanahan. Como o HC bicampeão do Super Bowl com os Broncos, Kyle Shanahan e Sean McVay implementam um ataque que depende da efetividade do jogo terrestre para abrir o leque de opções ofensivas. Nesse duelo entre dois times da NFC Oeste, os 49ers levaram a melhor e conseguiram se manter invictos, porém a rivalidade McVay x Shanahan promete muito entretenimento para os próximos anos na Divisão Oeste.
O primeiro drive dos Rams parecia um sinal de que McVay finalmente conseguiria estabelecer o jogo terrestre em 2019, coisa que ele não conseguiu em momento algum até agora, e justamente contra a melhor defesa terrestre da NFL. Os Rams vieram com sete jogadas pelo chão até botar a bola na end zone com Robert Woods. Nesse primeiro drive, conseguiram abrir espaço com movimentações antes e depois do snap dos tight ends e wide receivers. Com dificuldade de estabelecer o EDGE, Los Angeles movimentava o TE para o chop block no pass-rush e diminuía a pressão adversária.
Com os WRs contribuindo nos bloqueios avançados e os OLs saindo da linha para bloquear o espaço, os Rams pareciam não sentir falta de Todd Gurley, que desfalcava o time. Aumentando ainda mais a efetividade dessas movimentações pré e pós snap, os recebedores ou RBs se movimentavam para receber jet sweeps e tosses atrás e na frente de Jared Goff, às vezes recebendo a bola e correndo para o lado oposto de onde a jogada parecia ir. Essa estratégia, que funcionou tanto nos últimos dois anos com McVay, parecia confundir a pressão dos Niners. Foi assim que saiu o único TD dos Rams no jogo, com Cooper Kupp se movimentando pré-snap por trás de Goff, que fingiu entregar a bola para Malcom Brown, que correu para o interior da OL; porém a bola é passada para Robert Woods, que se movimenta pós snap por trás de Goff e Brown, corre por fora da linha em um toss e leva a bola ao touchdown.
Porém Robert Saleh (coordenador defensivo dos 49ers) foi ajustando a defesa e conseguiu anular o ataque dos Rams na sequência do jogo. Após o último drive efetivo em que Los Angeles conseguiu botar a bola na linha 1 dos 49ers, Sean McVay optou por ir duas vezes com corridas internas e viu seu RB bloqueado pelo meio da linha. A OL dos Rams já não é mais a mesma dos últimos anos, porém com a contusão de Joe Noteboom e a entrada de Jamil Demby como LG, ela simplesmente desapareceu.
Saleh consegui rodar seus DLs mantendo os jogadores descansados durante todo o jogo, utilizando Bosa, Armstead, Buckner, Warner, Ford e Thomas para pressionar Goff e atacar o RB no backfield. Kwon Alexander encontrava gaps para pressionar em alta velocidade e correr atrás dos RBs. Era comum ver Jared Goff ser pressionado assim que terminava seu drop back. Como um boxeador que ataca o corpo do adversário durante o início da briga, a defesa dos Niners foi tirando o espírito e a confiança do camisa 16, que no final do jogo não confiava também na sua OL e se livrava da bola precocemente. Um game plan perfeito de um coordenador que eu acredito receberá propostas de HC ano que vem.
Sem a ameaça de um jogo aéreo, os 49ers foram transformando o ataque de Los Angeles em um time unidimensional, que não conseguia mais maquiar as deficiências da OL com as movimentações pré snap. O que era para ser um jogo terrestre dividido entre Darrell Henderson e Malcom Brown e começou tão promissor, acabou apagado e sentindo falta de Todd Gurley. E o ataque que ano passado encantou o mundo parecia preso na lama, sem explosão ou garra para reverter o placar. O resultado foi um time que perdeu o controle da posse de bola, facilitando o jogo para o plano de Kyle Shanhanan.
Do lado ofensivo San Francisco não fez nada brilhante, mas teve o sangue frio e o respeito ao adversário para operar e não fugir de um game plan estabelecido perfeitamente antes do primeiro apito, complementando a ótima atuação defensiva. Os Niners, sim, conseguiram manter o equilíbrio entre seu grupo de running backs com Coleman, Breida e Mostert. Esse time tem uma grande vantagem contra os outros times da NFL, chamada George Kittle. O tight end faz o que Rib Gronkowski fazia no auge em New England, auxilia no jogo terrestre com bloqueios em espaço e é um ótimo alvo no meio do campo. Com sua forca física, Kittle é um jogador extremamente difícil de derrubar, e com sua velocidade e capacidade de buscar a bola no ar, é um pesadelo para jogadores mais pesados.
O resultado é um jogador difícil de ser anulado. Se ele alinha contra um linebacker que teoricamente teria mais força para derrubá-lo, ganha no espaço e recebe a bola; caso alinhado contra um jogador de secundária, Kittle ganha no mano a mano por pura forca física e acaba conquistando jardas pós recepção. Repito: um pesadelo para qualquer DC.
A defesa dos Rams conseguiu expor algumas fragilidades em Jimmy G. Postando um jogador como spy, os Rams conseguiram se aproveitar dos erros do QB. Cory Littleton fez isso muito bem; em vez de atacar o QB ou seguir alguém na cobertura, ele sentava perto da linha de scrimmage e lia os olhos de Garoppolo. Foi assim que ele quase intercepta uma bola no primeiro tempo, uma INT que indiscutivelmente terminariam como uma pick 6. Nickell Robey-Coleman também fez o trabalho de spy em alguns lances na posição de nickel. Foi assim que ele derrubou o RB dos 49ers e quase forçou um safety quando o jogo estava empatado. Pode ser uma fragilidade exposta que os times vão tentar aproveitar nas próximas semanas contra os 49ers.
Porém a cobertura de zona frouxa dos Rams foi o que acabou matando essa defesa. Mais uma semana com espaço no meio do campo e uma secundária que falhava constantemente na hora do tackle. Kyle Shanahan abandonou os passes longos e continuou com as “pancadas no corpo” da defesa de Los Angeles. Mantendo o time em campo por drives longos e eventualmente cansando a defesa, abrindo espaço para o jogo terrestre. Essa estratégia também serviu como uma ótima defesa, mantendo o ataque de Los Angeles fora de campo e fora de sintonia.
Um game plan executado perfeitamente, que resultou na maior vitória dos 49ers na “era Shanahan” e provou que o time não está invicto à toa.
Por Raphael Fraga
Foto: Reprodução site oficial/San Francisco 49ers