Meus votos para a classe 2018 do Hall da Fama do Beisebol
Não tenho direito a voto na eleição do Hall da Fama do Beisebol. Se tivesse, eu escolheria...
Na primeira semana de janeiro, o The Playoffs mostrou como está a votação para o Hall da Fama do Beisebol, que terá o resultado divulgado em 24 de janeiro. Graças ao trabalho de Ryan Thibodeaux (confira no Twitter @notmrtibbs), é possível antecipar algumas tendências e descobrir quais, entre os 21 jogadores incluídos na cédula, podem de fato garantir seu lugar em Cooperstown, o palco da imortalidade no beisebol.
Nesta semana, atendendo ao pedido do leitor Marcelo Magnabosco, que participa de um de nossos grupos de WhatsApp, o exercício é diferente. Eu, do alto da minha ignorância, atuarei como se fosse membro da Baseball Writers’ Association of America (BBWAA), ou seja, um dos eleitores do Hall da Fama. Vou criar uma cédula com os meus escolhidos, se tivesse o direito de votar. Você provavelmente discordará, no que faz muito bem. Se realmente discordar, por favor, deixe nos comentários quais seriam as suas escolhas!
Sem mais delongas, vamos aos nomes.
(Foto: Reprodução/Twitter)
Chipper Jones – Qualquer jogador que apareça em discussões sobre os melhores da rica história do Atlanta Braves deve estar no Hall. Jones tem um OPS+ (soma de percentual de chegada em base e slugging, ajustado para um cenário médio, ignorando as características de estádio) 41% acima da média da MLB, disputou oito vezes o All-Star Game, foi MVP da Liga Nacional em 1996 e tem WAR (vitórias sobre um substituto mediano) de 85, o 51º melhor da história. Merece o voto!
(Foto: Divulgação MLB)
Vladimir Guerrero – Talvez o melhor rebatedor de ‘bolas ruins’ que eu vi jogar. Isolava até bolas na terra, e seu desempenho ofensivo compensava a (enorme) limitação defensiva. Terminou a carreira com 449 home runs, 31,8% de aproveitamento e OPS+ 40% melhor que a média da MLB. MVP da Liga Americana em 2004, nove participações no All-Star Game, sete prêmios Silver Slugger e 10 anos brilhantes (1998 a 2008) garantem sua vaga.
Jim Thome – Outro que gostava de isolar bolinhas. Ultrapassou os 600 home runs (foram 612 no total), o que o ajudou a fechar a carreira de 21 anos com um OPS+ 47% melhor do que a média da MLB. Foi um dos principais rebatedores do beisebol entre 1995 e 2009, com média de 35 home runs e 98 corridas impulsionadas por ano. Na carreira, somou WAR de 72.9, 83ª melhor marca da história, mesmo com as limitações defensivas que o transformaram em rebatedor designado de forma quase que exclusiva.
(Foto: Reprodução Twitter/MLB)
Edgar Martinez – Um dos melhores rebatedores designados dos últimos 30 anos. OPS+ 47% melhor do que a média da MLB, sete participações no All-Star Game, quatro prêmios Silver Slugger. Espetacular percentual de chegada em base na carreira (41,8%) e médias de 41 rebatidas duplas e 99 corridas impulsionadas por ano. Praticamente não defendia e, ainda assim, tem o 112º maior WAR da história. Um talentoso jogador, até agora prejudicado por ser DH em grande parte da carreira.
Trevor Hoffman – Basta dizer que apenas Mariano Rivera tem mais saves na história da liga. A posição de closer é razoavelmente nova, assim como as estatísticas da função, mas Hoffman foi um ótimo reliever na última grande fase do San Diego Padres, somando 601 saves em 18 anos (sendo 581 entre 1994 e 2009). A prova de seu talento: foi por duas vezes o segundo colocado no prêmio Cy Young da NL, normalmente ‘exclusivo’ para arremessadores titulares.
Mike Mussina – Não era um arremessador brilhante, mas foi um leão jogando apenas na Divisão Leste da AL exatamente na época dos grandes times de New York Yankees, Toronto Blue Jays e Boston Red Sox. ERA+ 23% acima da média, seis Luvas de Ouro, cinco escolhas para o All-Star Game. Um lutador que tinha média de 226 innings por temporada, raramente lesionava-se (após a temporada de estreia, tirando a temporada 1994, em que houve greve de jogadores, nunca fez menos de 25 jogos como titular) e que tem WAR de 83, o 24º maior entre arremessadores.
Curt Schilling – Se Mussina entra, Schilling também vai. Outro ‘lutador’ das décadas de 1990 e 2000, ele acaba prejudicando-se com suas posições (políticas e sociais) conservadoras. O desempenho, porém, é inegável: seu ERA+ é 27% superior à média, melhor até do que o de Mussina, WAR de 80.7 e entre 1996 e 2004, poucos foram tão bons quanto ele: 3.23 de ERA e atuações brilhantes na pós-temporada, destacando-se nas conquistas das World Series de 2001 (Arizona Diamondbacks, sendo co-MVP) e 2004 (Boston Red Sox).
(Foto: Reprodução vídeo)
Omar Vizquel – A exceção na lista. O venezuelano nunca destacou-se pelo ataque, terminou a carreira com OPS+ 18% abaixo da média da MLB e conseguiu apenas 80 home runs e 951 corridas impulsionadas em 24 anos. No entanto, o venezuelano era um monstro defensivo exatamente na posição mais difícil, a de shortstop. Um ícone da virada do século, ele conquistou nove Luvas de Ouro consecutivas de 1993 a 2001, e voltou a levar o prêmio em 2005 e 2006, este último aos 39 anos. Dificilmente será eleito, mas leva o voto de quem, como eu, acredita que o aspecto defensivo do beisebol deve ser mais reconhecido.
AUSÊNCIAS
Essa é minha lista. Oito nomes. Estranhou duas ausências de peso? Sim, Barry Bonds e Roger Clemens ficam de fora. E aqui vai a razão: eu não sou ingênuo ou purista de imaginar que não há doping no esporte atualmente. Sim, há casos de doping na MLB. A quantidade era muito maior (acredita-se) quando Bonds isolava bolinhas pelo San Francisco Giants e Clemens encaçapava vitórias por New York Yankees, Toronto Blue Jays e Houston Astros, entre outros.
É difícil, porém, conceber que jogadores pegos no doping e envolvidos em escândalos que atingiram níveis federais, entrem no Hall da Fama. É a mesma razão pela qual Manny Ramirez dificilmente será eleito. A comparação não é a ideal, mas se a participação em um esquema de apostas deixa de fora Pete Rose, recordista de rebatidas na história da MLB, o doping será a kryptonita de Clemens e Bonds. De certa forma, ambos pagam (e, talvez, pagarão por anos) o preço por tentar ser mais espertos que os demais, algo que a sociedade norte-americana não costuma aceitar bem.
Isso quer dizer que ambos não serão eleitos? Não. A lista de membros da BBWAA muda a cada ano, e os novos eleitores são, segundo a imprensa dos Estados Unidos, mais propensos a votar nas duas lendas, minimizando os escândalos. O desempenho justifica a entrada de ambos no Hall da Fama. O caso é tão polêmico que, talvez, você veja um artigo meu em 2019 justificando os votos no outfielder e no arremessador. Em 2018, porém, a justificativa é por deixar os dois fora da minha fictícia cédula.