Náutico Beisebol rebate dificuldades para o alto e estabelece base nos Aflitos
Quatro meses depois, Timbu diz ter superado polêmica sobre uso do CT e reforça parceria da MLB
Um taco explode na bola que corta rapidamente o céu do Estádio dos Aflitos, no Recife, casa do centenário clube de futebol Náutico Capibaribe. Sempre para cima, como um míssil, a esfera assusta os pássaros e some de vista, assim como os recentes problemas enfrentados por uma nova gestão esportiva. É uma manhã de quinta-feira, dia de treino do Náutico Beisebol. Um home run faz dos Aflitos um lugar de euforia, enquanto o atleta do clube transita calmamente pelas quatro bases vestindo o tradicional terno alvirrubro.
A tranquilidade aparente do rebatedor durante o lance contrasta com a recente polêmica que envolveu o Náutico Beisebol há quatro meses atrás, quando a direção esportiva teve de brigar insistentemente com o Conselho Deliberativo do clube para alcançar uma base, se estabelecer, e ser respeitada como modalidade esportiva.
Tudo ocorreu em abril deste ano, um período turbulento, quando a principal equipe de beisebol de Recife, em Pernambuco, esteve ameaçada de não mais existir, mesmo sendo ela a primeira no Brasil a receber apoio logístico e financeiro da Major League Baseball (MLB) para difundir o esporte no Nordeste. Da direção maior do clube, eles tiveram de ouvir o famoso “está fora”, após votação de membros do conselho que impediram os praticantes da modalidade de treinarem no Centro de Treinamento Wilson Campos, antes dividido com o time principal de futebol.
“A nossa parceria com o Náutico foi firmada no ano passado com o setor de esportes olímpicos, embora o beisebol não seja olímpico e sim amador, mas hoje vai bem. Na verdade nós nunca pudemos utilizar o CT Wilson Campos, usamos apenas uma vez pra treinar e em abril durante a Taça Nordeste que contou com sete times: Natal, Ceará, Salvador A, Salvador B, Petrolina, Recife Imortais e Náutico Beisebol, em que nos sagramos campeões. Jogamos a final nos Aflitos, ou seja nem foi lá, diante de um público superior a 500 pessoas”, explica Eduardo Menezes, gestor da modalidade no Náutico e presidente da Associação Esportiva Recife de Beisebol (AERB).
A derrota no campo administrativo teria sido motivada por uma crise envolvendo o time de futebol, logo após o Timbu ter sido eliminado na primeira fase da Copa do Nordeste. Como o futebol é o principal combustível dos clubes no Brasil, a diretoria e alguns sócios-torcedores decidiram “queimar” a participação do beisebol que utilizava o centro. A alegação era de que a prática esportiva estava prejudicando o gramado utilizado pelo time de futebol.
Depois do veto, que se estendeu ainda para a equipe do Recife Mariners/Náutico de futebol americano (FA), que também era autorizada a utilizar o CT, uma nova crise foi instaurada no clube. A MLB havia planejado junto ao departamento do Náutico Beisebol construir um campo dentro das dependências do CT, de modo a facilitar a prática da modalidade. Depois da negativa dada pelo Conselho Deliberativo do Clube, o acordo entre a liga e o time brasileiro esfriou por um tempo.
“Essa decisão afetou um pouco a gente, pois lá era um lugar ideal para realizar esse tipo de prática, fora isso não prejudica muito hoje em dia. A gente treina nos Aflitos, nas terças-feiras à noite, com uma gaiola de rebatida, uma área que é nossa, e nas quintas pela manhã quando usamos o campo. Aos domingos treinamos no Memorial Arcoverde, em Olinda, que cobre a nossa necessidade”, minimiza Menezes.
Passado o sufoco, o time do Náutico Beisebol retornou aos Aflitos, enquanto o time de futebol usa a Arena Pernambuco para os jogos. Na equipe, o plantel conta com 30 jogadores, sendo 10 atletas rotativos, todos em busca de profissionalização. O clube participou ainda de dois campeonatos, um Nacional de Ibiúna, em São Paulo, onde lograram o quarto lugar, e foram campeões da Taça Nordeste 2015, realizada em Recife.
No beisebol, os atletas aprendem desde de cedo que a troca de bases é algo comum e natural. Você precisa arriscar para conquistar uma e obter o objetivo maior da pontuação. “Estamos ainda tentando conseguir um espaço para que possamos instalar um campo oficial da modalidade. É algo complicado, mas já estamos em contato com algumas prefeituras, como a de Recife, e aí a gente tenta incluir. Nos Aflitos não podemos fazer isso, infelizmente, e eles não sabem qual será o destino de lá, mas por enquanto fica disponível para esses eventos que citei”, garante. Uma das propostas analisadas é a construção no Parque Jiquiá, no bairro de Jiquiá, em Recife, lugar famoso pela prática do ecoturismo.
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Parceria com a MLB
A parceria com a principal liga norte-americana é ambiciosa e tem também uma contrapartida do consulado americano. De acordo com Eduardo, a MLB está disposta a fornecer treinadores internacionais para a capacitação de atletas, equipamento e know how para a construção do campo que seria custeado meio a meio com a prefeitura escolhida.
“O objetivo deles é fomentar o beisebol, colocar crianças pra jogar, então por isso criamos um programa chamado Pernambuco no Beisebol. Ele é formado por cinco partes: capacitar, equipar, treinar, disputar e formar. E a primeira parte de capacitar já foi feita, já recebemos aqui ex-atletas da MLB que capacitaram pessoas de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Limoeiro, alguns colégios particulares e na nossa escolinha”, complementa.
Entre os atletas que devem participar da iniciativa está André Rienzo, primeiro arremessador brasileiro da liga e que atualmente joga no Miami Marlins, além do capitão da seleção brasileira de beisebol, Jean Tomé. “Capacitamos e estamos no processo de conseguir os equipamentos com a MLB ou com o Partners of Americas. Depois, essas instituições passam a treinar as crianças, e só então organizaremos nosso campeonato no nosso campo de beisebol. Daqui pra lá espero que esteja pronto para então formar, selecionar os melhores atletas para São Paulo ou para fora. Esse é o projeto da MLB”, conta entusiasmado.
Até o final de 2015, o Náutico Beisebol tem a meta de ensinar 600 crianças, além de articular a construção das primeiras federações pernambucana e nordestina da modalidade. Em um ano de existência, o Timbu encara o seu primeiro grande desafio nos dias 7 e 8 de novembro, pelo campeonato nacional da categoria.
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Rivais correm atrás
Por ser o único time de beisebol em Recife oriundo de um clube tradicionalmente de futebol, o Náutico começa despertar a atenção dos principais rivais futebolísticos, Sport Recife e Santa Cruz. Atualmente, o clube pernambucano é o único que investe nas quatro modalidades de origem norte-americana: beisebol, futebol americano, basquete e hóquei (este último jogado em uma variação olímpica de quadra).
“O Náutico hoje é o maior clube de esportes amadores do Brasil”, intervém Eduardo. O basquete é a modalidade mais antiga no Estado, tendo investimento dos três clubes. O Sport Recife é atualmente tricampeão estadual no masculino e referência no feminino nesse quesito. O hóquei tradicional é o segundo mais antigo, praticado desde 1959, e que possui novamente domínio do Sport Recife, atual pentacampeão estadual e bicampeão brasileiro, já o Santa Cruz só mantém equipe no basquete.
Sendo assim, a ideia do Timbu é dar de “lavada” no beisebol e no futebol americano (FA), dois dos esportes que mais crescem no país, e que não são explorados pelos clubes rivais. O Recife Mariners/Náutico de FA atua de maneira similar ao beisebol e possui também permissão para treinar nos Aflitos.
“Acredito que existe sim a possibilidade do Sport Recife e Santa Cruz seguirem este processo e isso vai depender do nosso amadurecimento e do nosso crescimento, e aí nós vamos ter total interesse que eles entrem também para que ajude a divulgar o esporte”, avalia Eduardo Menezes. “Já conversamos com o Sport alguns anos atrás, e eles têm sim interesse nisso, mas foi com o Náutico que conseguimos fechar. Tivemos algumas dificuldades com o clube, mas qualquer investimento tem isso. Aparecendo alguém aí disposto, e acredito que vá aparecer, nós iremos ajudar os rivais a começarem essa rivalidade sadia no beisebol”, prevê.
Saiba mais: Náutico Beisebol