Exclusivo: nova presidente da CBFA, Cris Kajiwara fala sobre os desafios que terá em liderar o FABr
Mandatária da Confederação Brasileira de Futebol Americano assume gestão e diz que irá trabalhar crescimento do esporte em todas as vertentes
A Confederação Brasileira de Futebol Americano tem uma nova liderança. Neste domingo (7) foi realizada virtualmente a assembleia de eleição para a presidência da CBFA, em que a única chapa candidata, intitulada de “CBFA Mais Forte”, formada por Cris Kajiwara e Tiago Munden, indicados pela FEFAPA – Federação Paulista de Futebol Americano, foram aclamados para comandar o esporte pelos próximos quatro anos, já que não houve concorrentes e nenhuma das federações presentes contestou a candidatura.
E nesta segunda-feira (8), a nova presidente concedeu entrevista exclusiva ao The Playoffs, na qual fala sobre os desafios que terá em liderar o FABr (sigla para futebol americano no Brasil). Cris Kajiwara – ou, como muitos conhecem, Cris Kaji -, conta como irá trabalhar o crescimento do esporte no Brasil e quais serão principais objetivos dela e de seu vice para trazer uma nova CBFA e a grande revolução que a modalidade precisa para se desenvolver em todas as vertentes.
A presidente também fala sobre sua decisão de encarar o desafio de estar à frente futebol americano em nível nacional, seus projetos e como sua experiência no Corinthians Steamrollers, SPFL – São Paulos Football League e como diretora executiva da antiga gestão, do ex-presidente Ítalo Mingoni, poderão ajudar no desenvolvimento do esporte para times e atletas.
Confira a entrevista na íntegra.
The Playoffs: Como surgiu o interesse de se candidatar para o cargo e como foi definido o Tiago Munden como o seu vice?
Cris Kajiwara: “Por fazer parte da antiga gestão, vimos – eu e o Dan Muller, antigo diretor esportivo – que existiam coisas que podiam ser feitas a mais, principalmente na área técnica. A gente viu que algumas possibilidades passaram e não fizemos tudo que gostaríamos e havíamos planejado. E quando o Ítalo [Mingoni] falou que não ficaria mais, conversamos para a oportunidade não passar e montar uma chapa como primeira ideia. Contudo, por conta de questões profissionais, ele [Dan] não conseguiria ser o vice e na procura de uma pessoa com os mesmo ideais e pensamentos, chamei o Tiago por conta das relações das federações de São Paulo e Minas Gerais. Isso ajudou para que demais pessoas também passassem a me conhecer, por conta da atuação dele na imprensa do meio. Tudo veio para somar”.
TP: Por não ter uma chapa concorrente, você acredita que as pessoas envolvidas hoje no FABr acreditaram que a chapa de vocês representa tudo o que elas buscam em uma nova CBFA ou os diversos problemas de todos que geriram a Confederação nos últimos anos afasaram a candidatura de demais pessoas?
Cris Kajiwara: “Olha, eu acho que foram as duas coisas. Esperávamos que viessem outras chapas no início do processo eleitoral, inclusive da própria Marcelli Bassani – presidente interina da CBFA após saída do Ítalo Mingoni -, que tinha intenção de continuar no cargo e estávamos nos preparando para as discussões de ideias. Foi uma surpresa que, de última hora, ninguém concorreu ao pleito. E acredito que a comunidade do futebol americano no Brasil está muito cansada e descrente. Que tudo que possa vir da CBFA, possa ter críticas, haters e tudo mais. No geral, acabou afastando as pessoas porque sabemos que as coisas não são tão rápidas como pretendemos e planejamos. E viemos justamente para mudar essa imagem da Confederação e trabalhar para fomentar o esporte”.
TP: Com toda sua experiência nos Steamrollers, SPFL, FEFAPA, quais são os principais desafios que você identifica ao assumir o cargo de presidente da CBFA?
Cris Kajiwara: “O grande desafio é recuperar a imagem da Confederação. Que mesmo como órgão máximo do esporte no Brasil, não temos a confiança e respeito da comunidade. Então, a primeira coisa a fazer é trabalhar com a equipe muito forte que temos de comunicação e marketing para mudar toda a imagem que ficou de gestões anteriores para tentar algo novo e engajar novos fãs e torcedores, já que muitos dos próprios torcedores da NFL no Brasil ou não sabem que existe o futebol americano no país ou não se interessam por ser um produto mal explorado. Temos um foco de fazer com que as pessoas torçam por times no Brasil e que isso atraia também os patrocinadores. Esse é o principal objetivo.
Trabalhar o Brasil, pois o país é muito grande. Criar comitês de desenvolvimento no norte, nordeste, que é onde se tem times com menos acesso às demais equipes, assim como todos os times pequenos que não estão conectados à CBFA. Descobrir os times do Brasil, desenvolvê-los, para que possam ter estrutura, apoio e unir toda a comunidade. Esse é o grande desafio. E é questão de honra ficar até o final, cumprir os quatro anos de mandato, e que tenhamos a vontade de tentar a reeleição para que a comunidade possa reconhecer o trabalho e permanecer também por conta disso”.
TP: Já faz 12 anos que um presidente não termina sua gestão na CBFA. E um dos grandes problemas da CBFA é a questão financeira. Então como a gestão irá trabalhar essa questão durante o mandato?
Cris Kajiwara: “É um grande desafio não só para a Confederação Brasileira, mas como para o futebol americano no geral. O cenário para os times e federações ainda é muito amador. É difícil conseguir recursos. Por isso a gente vem com um marketing forte e não só depender de taxas confederativas. Elas são uma necessidade e uma fonte de renda importante, mas não pode ser a única. Vamos protocolar projetos de incentivo, para também desenvolver o projeto das bases, das seleções e para campeonatos. Temos essa possibilidade agora e temos que tentar captar patrocinadores, incentivados e diretos, para alavancar e desenvolver os produtos da seleção. Temos que desenvolver outras fontes de receita para que tenhamos capacidade financeira e não depender só da taxa.
Temos uma reunião com a Secretaria Especial de Esportes, inclusive porque o flag football irá se tornar esporte olímpico em 2028. Pretendemos pleitear, assim como o beisebol, que recebeu um aporte de R$ 800 mil, uma verba para a massificação do futebol americano. Temos essa vontade e já temos essa conversa aberta para concretizarmos algo nesse sentido. E quando o caixa estiver estável, fornecer recursos para que os times possam trabalhar a fomentação de seus jovens atletas no desenvolvimento do esporte e do social”.
TP: E quando se trata das seleções. Quais são os planos da CBFA?
Cris Kajiwara: “Queremos dar mais ênfase às seleções e não só dar atenções pontuais. Queremos um trabalho contínuo. Trabalhar todo um ano com todos os estados indicando seus atletas e fazendo training camps regionais para que os atletas não tenham que viajar muito para fazer parte da seleção. Mapear os talentos, mesmo com iniciativas simples, para levantar o máximo de atletas possíveis e com o máximo de talento reunido. Que esse trabalho seja feito mesmo com as categorias de base e colocar as federações mais próximas e trabalhar em prol da confederação. Queremos dar oportunidade para todos e desenvolver os atletas desde novos”.
TP: Em relação à BFA. É um campeonato que tem o apoio da CBFA, mas que gera algumas críticas tanto em torno do campeonato como a forma que a confederação lida com a liga. Como pretendem trabalhar a Liga BFA e há algum planejamento de novos campeonatos regionais e, talvez, um nacional?
Cris Kajiwara: “A Liga BFA tinha o apoio da confederação como o principal campeonato no Brasil. Porém, como você disso, gera muitas críticas e não tem sido recebido muito bem por todos. Houve no ano passado uma ruptura entre a BFA e CBFA, por conta de algumas coletivas de imprensa, onde a gestão da Liga disse que não se sentia mais confortável em fazer parte da confederação, fora não ser responsável pelas cobranças federativas, pois essa era contrapartida com a confederação.
Na liga BFA não há um contrato para adquirir a chancela da CBFA, mas há a exigência da taxa da confederação. Houve uma tentativa de conversas de negociações com a BFA por conta da cobrança da taxa, mas como não queriam, a contrapartida é a chancela do campeonato, assim como houve com a Taça Brasil e qualquer campeonato no nível nacional, mas há uma rejeição da Liga BFA para isso. Portanto, haverá uma assembleia entre CBFA e federações para o que deverá ser feito em relação a isso. Porém, consideramos sim realizar campeonatos da própria confederação, com um novo formato, incluindo regiões mais isoladas, mas de forma regionalizada.
Estamos estudando todas as possibilidades e, no máximo em um mês, deveremos reunir as federações para que todos esses assuntos possam ser discutidos entre prós e contra. Contudo, cabe nova conversa com a Liga BFA, pois essa ruptura não é interessante, pois haverá uma divisão que não será benéfica para o esporte, mas se faz necessário rever a situação para a CBFA não continuar sem contrapartida e fazer seu trabalho. Fora a melhora de como isso é entregue para os times”.
TP: A CBFA pretende fazer intercâmbios com demais ligas pelo mundo, assim como foi feita com a CFL e Echelon Sports, para que aumente o desenvolvimento e exportação de atletas brasileiros pelos mundo?
Cris Kaji: “Acredito que sim, pois temos muitas pessoas buscando essas parcerias. Temos um bom relacionamento com o KJ da Echelon. Outras empresas estão se aproximando cada vez mais do Brasil por ser um polo de atletas com todos os tipos de biotipos, principalmente nessa nova geração do esporte. Temos muito potencial para começar a exportar e um grande exemplo disso são as meninas que jogam full pads aqui. Várias foram selecionadas para jogar na liga americana, mesmo com a pandemia atrapalhando a ida delas, mas pretendemos dar um suporte nisso.
A ideia de mapear os talentos e facilitar para que os recrutadores tenham mais dados de todos os atletas para que se possa facilitar essa saída e que seja uma consequência de uma trabalho bem feio, a exemplo do Duzão. E possam não só ir para os EUA ou Canadá, mas de repente para Europa. Temos muitos parceiros com esse interesse e devemos fazer mais eventos para fortalecer também esse intercâmbio entre os atletas”.
TP: Qual o principal trabalho que a CBFA fará em relação ao futebol americano feminino, já que a própria escolha de diversas jogadoras do cenário nacional mostra o crescimento e qualidade delas nos campeonatos locais?
Cris Kajiwara: “Vamos tentar incentivar ao máximo. Sabemos que o esporte feminino em si tem ganhado bastante notoriedade, não só no futebol americano, mas em várias as modalidades. Por isso vamos fazer um departamento feminino para cuidar só disso. Não só da parte técnica, mas de fomentar as novas atletas e oferecer atrativos maiores para os públicos que também acompanham. Então vamos trabalhar de diversas maneiras para tentar engajar novas meninas para praticar o esporte, tanto dentro meio como em outros esportes.
O flag feminino, por exemplo, é referência. Temos mundial na Espanha este ano e as meninas vão em busca de um pódio após ficarem em quinto nas duas últimas edições. Acredito que este ano vão mais longe e isso também vai incentivar muitas garotas e mulheres para entrar para o esporte”.
TP: Em relação à CBFA, como a confederação pretende vincular o esporte na grande mídia e não só nas mídias especializadas no assunto no Brasil? Existe um plano só para essa divulgação?
Cris Kajiwara: “É o nosso desafio e a nossa meta. Sair um pouco da nossa bolha do futebol americano no Brasil e tentar alcançar mídias externas. Sabemos da importância desses parceiros dentro da comunidade, mas precisamos dar esse passo para fora. O The Playoffs é um desses exemplos, por ter um público grande externo ao nosso esporte. E queremos aumentar cada vez mais isso e aparecer em mídias cada vez mais abertas para fomentar o trabalho visual do futebol americano e da CBFA. Temos um ótimo produto, mas que não foi bem aproveitado e trabalhado.
Vamos dar uma nova roupagem para ‘vendê-lo’ da melhor forma para se tornar atrativo para patrocinadores, imprensa. Fazer algo bacana para promover essa mudança e alcançar muito outros meios e veículos como caminho para crescer, assim como já foram abertas na ESPN e BandSports. Ainda mais para um esporte tão bonito e bacana”.
(Fotos: Divulgação/CBFA)