Kyle Beach se identifica no escândalo de assédio dos Blackhawks
Em entrevista, Beach informa que é ele o atleta no centro dos abusos relatados em 2010 na franquia de Chicago
No SportsCentre da TSN nesta quarta-feira (27), Kyle Beach se identificou como o jogador que está no centro da investigação tanto policial quanto da NHL sobre as alegações de abuso sexual cometidos por Brad Aldrich, analista de vídeo do Chicago Blackhawks na época.
“Está sendo um passo gigante para mim, no meu processo de recuperação, de cura. Sou um sobrevivente e não estou sozinho. Infelizmente, não fui o único e não serei o único. Tentei enterrar isso durante 10, 11 anos e isso me destruiu por dentro. Quero que todo o mundo esportivo saiba que se isso acontecer com você, você não está sozinho e deve falar sobre o caso.”, completou Beach, hoje com 31 anos e jogando hóquei na Alemanha.
O caso aconteceu durante os playoffs da temporada 2009-2010. Com 20 anos, Beach jogava na AHL e foi chamado para participar do elenco do time principal durante a pós-temporada. De acordo com a investigação, o jogador sofreu o abuso sexual no dia 8 ou 9 de maio. Dias depois, Beach contou o ocorrido para Paul Vincent, um dos auxiliares técnicos do time quando a equipe estava em San Jose, jogando as finais da Conferência Oeste contra os Sharks. No dia 23 de maio, uma hora depois que o time garantiu a vaga na grande decisão da NHL, aconteceu uma reunião onde outro auxiliar, Jim Gary, informou a seis membros da franquia sobre o relato de Beach.
Dois dos participantes da reunião seguem na NHL. O treinador Joel Quenneville, hoje no Florida Panthers e Kevin Cheveldayoff, GM do Winnipeg Jets, já têm reuniões agendadas com o comissário da liga, Gary Bettman, para discutir o assunto. Ambos negam que sabiam do caso na época. Dentre os demais integrantes da reunião de maio de 2010, os Blackhawks demitiram Stan Bowman na época GM do time e estava como presidente de operações do time e Al MacIsaac, diretor de administração na última semana. Jay Blunk, vice-presidente e Jim Gary, que montou a reunião, deixaram a franquia nesta offseason. O último participante foi John McDonough, CEO, que foi demitido em abril de 2020.
Sobre Quenneville, Beach deixa claro uma acusação muito grave, a que o caso não poderia desviar o foco da chance de título do time, o que de fato aconteceu em junho de 2010. “Em seu depoimento, Bowman disse que Quenneville informou a todos que os playoffs e a tentativa de conquistar um título eram mais importantes do que um abuso sexual. Como ser humano, eu não posso acreditar nisso, não posso aceitar isso.”, disse Beach.
Alguns atletas importantes da franquia, como Jonathan Toews e Patrick Kane, falaram sobre o tema, dizendo não saberem de nada na época. Beach também emitiu uma forte opinião sobre essa declaração. “O assunto se espalha rapidamente no vestiário. Pessoas falavam sobre isso no vestiário, nos treinos, nos jogos. Jogadores, comissão técnica e imprensa”. A afirmação do jogador ganhou força com as entrevistas de Nick Boynton e Brent Sopel, dois defensores que estavam no elenco de 2009-2010, hoje ex-jogadores da NHL, que confirmaram que o fato era discutido entre os membros da franquia.
Selecionado na primeira rodada do draft de 2008, Beach nunca chegou a jogar um jogo oficial da NHL, ficando restrito a alguns jogos na pré-temporada, mas esteve no elenco campeão em 09-10, apesar do fato não trazer boas lembranças. “Fiquei enojado ao vê-lo (Aldrich) celebrar segurando a Stanley Cup. Ele estava lá nas festas, nas fotos oficiais, eu senti que era invisível, que eu era ninguém.”
Naquela mesma offseason, os Blackhawks rescindiram o contrato de Brad Aldrich e desde então, ele nunca mais retornou a trabalhar na NHL.
(Créditos na foto: Site oficial da NHL)