Boston x St. Louis: a história de rivalidade entre as cidades nos esportes americanos
Cidades fazem 2ª final de NHL na história e são as únicas que já se enfrentaram em todas as decisões das ligas americanas
Muitas vezes, no esporte, duas cidades, estados ou até países se tornam rivais por conta de vários encontros icônicos em certas partes da história. Como exemplos, podemos citar as cidades de Madrid e Barcelona na Espanha, ou Brasil e Argentina aqui na América do Sul. O caso de agora é as cidades de St. Louis e Boston, que, mais uma vez, irão decidir um título nos esportes americanos. St. Louis Blues e Boston Bruins se encontram na final da Stanley Cup, valendo mais uma vez o título da NHL e, mesmo que essas cidades não fiquem próximas geograficamente e nem tenham interesses políticos para se tornarem rivais, o esporte as aproximou em inúmeros oportunidades.
Na história das ligas americanas (MLB, NBA, NFL e NHL), St. Louis x Boston é o único confronto que se repetiu em todas elas em algum momento. Essa será a segunda vez que Blues e Bruins se encontram, mas a história começa bem antes, com as cidades se enfrentando 10 vezes antes em diferentes esportes.
Por qual motivo isso acontece? O The Playoffs traz para você uma retrospectiva de todas as vezes que as equipes se enfrentaram em finais nos esportes americanos, mas antes vamos entender esse fenômeno.
(Foto: Divulgação Boston Bruins)
Por que Boston e St. Louis se encontram tantas vezes nas finais dos esportes americanos?
Por mais que as rivalidades locais sejam mais fortes, se encontrarem tantas vezes nas finais cria um gosto especial numa vitória contra o outro, mas qual o motivo desses times estarem sempre se encontrando nessas decisões, além de, é claro, a tradição das cidades nos esportes?
Geograficamente, as cidades são separadas por pouco menos de 2.000 km, então, naturalmente, na divisão das conferências, que são feitas para que as equipes peguem o mínimo de viagens possível, St. Louis e Boston sempre ficam em conferências diferentes, sendo assim, se enfrentando menos, mas como maior chance de se encontrarem em finais. É uma questão de hierarquia baseada na geografia: os times enfrentam mais os times de sua própria divisão, para depois enfrentarem os times de sua conferência e aí sim pegarem os de outras conferências. Isso tudo é desenhado para que as equipes gastem menos tempo com viagens para compensar o calendário pesado. Veja como funciona esta hierarquia em cada Liga:
NHL: 4 jogos contra 7 oponentes da divisão = 28 jogos no total; 3 jogos contra 8 oponentes da mesma conferência e fora da divisão = 24 jogos no total; 2 jogos contra 15 oponentes de outra conferência = 30 jogos no total.
NFL: 2 jogos contra 4 oponentes da divisão = 6 jogos no total; 4 jogos contra uma divisão aleatória de sua conferência (cada time joga contra uma conferência inteira a cada 3 anos); 4 jogos contra uma divisão aleatória da outra conferência (cada time joga contra a outra conferência inteira a cada 4 anos); 2 jogos contra os times da mesma conferência que terminaram na mesma posição que o time em questão e que não são da divisão que estão separados para enfrentar na temporada.
NBA: 4 jogos contra 4 oponentes da divisão = 16 jogos no total; 4 jogos contra 6 oponentes da mesma conferência e fora da divisão = 24 jogos no total; 3 jogos contra os outros 4 times da mesma conferência = 12 jogos no total; 2 jogos contra 15 times da outra conferência = 30 jogos no total.
MLB: Séries de 2, 3 ou 4 jogos – 24 séries dentro da divisão; 20 séries na mesma Liga; 8 séries contra a outra Liga. Em uma estimativa baixa, isso dá 76 jogos na própria divisão, 66 na mesma Liga e apenas 20 contra a Liga rival.
Resumindo, Bruins e Blues só se enfrentam duas vezes durante a temporada e são considerados bons rivais, principalmente por parte de St. Louis.
Começo da história: World Series e finais de NBA (1946-1967)
A história entre Boston e St. Louis vem muito antes da modernidade nos esportes e, como era esperado, começa na liga mais tradicional dos Estados Unidos: a MLB. Em 1946, St. Louis Cardinals e Boston Red Sox se enfrentavam na World Series daquele ano, e foi um clássico instantâneo. No jogo 7, os Red Sox empataram em 3 a 3 na oitava entrada, mas uma jogada de coragem acabou decidindo a partida na inning final. Enos Slaughter estava na primeira base quando Harry Walker rebateu uma bola forte para o outfield e Slaughter, ignorando o treinador da terceira base que o mandava parar, foi até o home plate para marcar a corrida da vitória. St. Louis ganhava o título do beisebol e saia na frente na rivalidade.
Daí em diante, se viu uma sequência de embates entre Boston Celtics e o extinto St. Louis Hawks (hoje Atlanta) na NBA. Em 1957, mais um clássico instantâneo surgiu, os Celtics venceram o jogo 7 daquela final por 125-123, sendo o único jogo 7 na história das finais que chegou na prorrogação dupla. No ano seguinte, os times novamente se encontraram, e dessa vez foram Bob Pettit e os Hawks que prevaleceram. Numa atuação de gala no jogo 6 daquela série, em que Pettit marcou 50 pontos, deixou Bill Russell em sua sombra e pegou o rebote decisivo na última posse de Boston para sacramentar a vitória e a revanche de St. Louis.
Na terceira final dos dois times em quatro anos, em 1960, os Hawks estavam com o desfalque importante do seu armador titular, Slater Martin, que havia se machucado na série anterior. Mesmo assim, bravamente conseguiram levar a série para o jogo 7, onde a genialidade de Russell prevaleceu, e os Celtics se sagraram campeões novamente. Boston sacramentou seu domínio um ano depois, quando eles se enfrentaram de novo, e Russell acabou com a série, tendo vitória fácil dos Celtics em cinco partidas.
Depois da mudança dos Hawks para Atlanta, a franquia se tornou parte da Conferência Leste e uma final contra os Celtics não é mais viável.
As duas cidades tirariam “férias” de finais antes de se enfrentarem de novo, para a última parte deste primeiro ato, quando Red Sox e Cardinals se encontraram novamente em 1967. A campanha de Boston até a WS daquele ano era denominada “o sonho impossível”, mas morreria no jogo 7 no Fenway Park, quando St. Louis venceu por 7 a 2 e começou uma “maldição” para os Red Sox diante do rival.
O primeiro encontro entre Bruins e Blues (1970)
Por falar em maldição, vale destacar a que perseguia os Blues (fundados em 1967) quando enfrentaram os Bruins em 1970. Antes disso, em 1968 e 69, a equipe havia sido varrida pelo maior rival dos Bruins, o Montreal Canadiens, em duas finais seguidas. Dessa vez, St. Louis chegava como um time que tinha uma ótima defesa e jogava o Old School Hockey em sua perfeição, mas tinha do outro lado um Bruins de nada mais, nada menos do que Bobby Orr.
Nos primeiros três jogos da série, os Bruins não deram chances para os Blues, marcando 16 gols e sofrendo apenas quatro. St. Louis foi para o jogo 4 destemido e conseguiu tomar a liderança no terceiro período, ficando com 3 a 2 no placar, mas Boston logo empatou e levou a partida para a prorrogação. Com apenas 40 segundos no tempo extra, Orr decidiu a partida marcando o gol da vitória, e proporcionou uma das cenas mais épicas da história do hóquei, quando Noel Picard, frustrado com a derrota, deu uma pancada em Orr, que jogou o defensor pelo ar, mas ele comemorando o título mesmo assim. Isso rendeu para Bobby uma estátua no TD Garden.
Warner x Brady: o começo da dinastia dos Patriots (2002)
Depois de muito tempo sem se enfrentarem em uma final nos esportes americanos, Rams e Patriots voltaram com a rivalidade entre St. Louis e Boston, e nada melhor para retomar do que um encontro entre dois dos melhores quarterbacks de todos os tempos: Kurt Warner e Tom Brady (apenas um segundanista na época). Warner comandava um ataque que ficou conhecido como “greatest show on turf” (o maior show na grama), que já havia ganhado um título em 2000, enquanto Brady era uma escolha 199 do Draft daquele ano. Dois anos depois, eles se encontravam num embate que ficou muito conhecido por ser o confronto entre o melhor ataque de todos os tempos contra a maior mente defensiva de todos os tempos.
Durante toda a partida, o que se viu foi um domínio da defesa dos Patriots, que frustrava Warner e os Rams seguidamente, inclusive conseguindo uma interceptação no primeiro período. Na parte final da partida, com 17 a 3 no placar para New England, St. Louis conseguiu dois touchdowns seguidos e empatou. Nisso, entrou a genialidade de Brady, que fez uma campanha final maravilhosa, sem tempos para pedir, levando a equipe para a linha de 30 do campo de ataque, deixando um field goal de 46 jardas para Adam Vinatieri acertar. O kicker não decepcionou e os Patriots venceram o primeiro título de sua história.
Vale lembrar que neste ano, as franquias reeditaram o Super Bowl, mas os Rams agora jogam em Los Angeles.
O fim da maldição e consagração de Boston (2004 e 2013)
Depois de 37 anos e uma esfriada na rivalidade, Red Sox e Cardinals se enfrentariam novamente na World Series em 2004. Boston amargava 86 anos sem um título na MLB e um dos culpados dessa seca foi justamente St. Louis, que também não ganhava um título há muito tempo, sendo o último deles em 1982 (eles voltariam a vencer apenas em 2011). Existia muita tensão e muita raiva envolvida no começo da série, mas os Red Sox resolveram rápido.
A empolgação por ter vencido a Liga Americana após uma virada de 3 a 0 para 4 a 3 contra o rival New York Yankees e o bom time dos Red Sox liderado por Manny Ramirez foram demais para os Cardinals, mesmo contando com a sua potência ofensiva e uma grande temporada de Albert Pujols, que bateu 46 home runs. Na World Series, o domínio foi total de Boston, que venceu a série com uma varrida. Ramirez foi impressionante, batendo .412 de média durante os quatro jogos da série. Esse foi o triunfo do estilo de jogo mostrado no filme “Moneyball”, que foi introduzido por Billy Beane no Oakland Athletics e acabou tendo o seu auge com o título de Boston.
Em 2013, era a vez dos Cardinals chegarem empolgados a uma final contra os Red Sox pelo fortíssimo time que tinham. Yadier Molina, Carlos Beltrán, Matt Carpenter e Matt Holliday eram os nomes do ataque, com Adam Wainwright muito bem na parte dos arremessadores. Do outro lado, os Red Sox, liderados pelos 40 home runs de David Ortiz, acabaram vencendo a World Series numa série no mínimo estranha. Allen Craig marcou a corrida da vitória dos Cardinals no jogo 3 por conta de uma interferência do terceira base de Boston Will Middlebrooks, que o fez avançar uma base. Na partida seguinte, Kolten Wong foi eliminado na terceira base com um pickoff, sendo a única partida na história das finais da MLB que terminou desta forma. No final, os Red Sox venceram em seis jogos, e confirmaram o domínio de Boston na rivalidade.
Resumo: BOSTON 7 X 3 ST. LOUIS
Na história, Boston venceu sete dos 10 confrontos entre as cidades em finais, e tem uma sequência de quatro títulos seguidos contra St. Louis.
Nessa final de Stanley Cup, os Bruins chegam como favoritos após terem varrido o Carolina Hurricanes na final de conferência, mas os Blues, sendo surpresas desde o começo dos playoffs, vão tentar se aproveitar de sua grande fase defensiva para conseguir o primeiro título da história da franquia e quebrar a sua própria maldição.
A final começa no dia 27 de maio, e tem tudo para ser mais um clássico instantâneo dessa rivalidade improvável.