Russell Wilson fala sobre experiências pessoais com o racismo
QB do Seattle Seahawks diz estar com o 'coração pesado neste momento'
O quarterback do Seattle Seahawks Russell Wilson não quis falar sobre futebol americano durante uma videoconferência com repórteres nesta quarta-feira (3). Para ele, “nada disso importa” em comparação com “a vida e o que a comunidade negra está passando agora”.
“Quando você pensa sobre a ideia de ‘Black Lives Matter’ (vidas negras importam, no português) elas realmente importam”, disse Wilson, falando de sua casa durante a offseason no sul da Califórnia.
“A realidade é que, eu como pessoa negra, [sei que] as pessoas são assassinadas nas ruas, as pessoas são baleadas e o entendimento de que não é assim para todas as outras raças. É assim em particular para a comunidade negra. Eu penso no meu enteado, penso na minha filha, penso no nosso novo bebê que está a caminho, e é impressionante ver essas coisas acontecerem bem na nossa frente, então estou com um coração pesado agora”.
A voz de Wilson às vezes parecia tremer, enquanto ele falava por mais de 30 minutos em seus primeiros comentários a repórteres desde a morte de George Floyd, enquanto estava sob custódia da polícia e os protestos contra a brutalidade policial que aconteceram em todo o país. Floyd, um homem negro, foi morto no dia 25 de maio em Minneapolis, depois que Derek Chauvin, um policial branco, ajoelhou-se sobre seu pescoço por mais de oito minutos.
“Ser negro é algo real nos Estados Unidos”, disse Wilson. “É uma coisa real no sentido da história e da dor, até minha própria família, pessoalmente”.
Wilson disse que seus trisavós eram escravos e sempre entendeu “que o racismo é real”. Ele lembrou que, enquanto crescia em Richmond, Virgínia, seu pai o alertava para não colocar as mãos nos bolsos quando ele saísse de seu carro em postos de gasolina.
“Você entende completamente, especialmente agora, completando 31 anos e tendo dois filhos e um terceiro a caminho, realmente entende o significado do que isso significa”, disse Wilson. “E o fato de meu pai ter me dito que isso é um problema. E ao ir no supermercado, a suposição de que alguém possa acusá-lo de roubar ou algo assim é um pensamento aterrorizante.”
Wilson foi lembrado dessa época de sua juventude durante um encontro de 2014 em um restaurante na Califórnia, algum tempo depois que os Seahawks venceram o Super Bowl XLVIII. Ele estava na fila do café da manhã quando um homem branco mais velho lhe disse: “Isso não é para você”.
“E eu disse: ‘Huh? Com licença?’ Eu pensei que ele estava brincando no começo”, disse Wilson. “Minhas costas estavam meio que viradas. Eu tinha acabado de sair de um Super Bowl e tudo o mais, então se alguém está falando comigo dessa maneira, você pensa em uma circunstância diferente e em como as pessoas falam com você. Nesse momento, eu realmente voltei a ser jovem e não colocar as mãos no bolso com essa experiência. Esse foi um momento pesado para mim. Eu estava tipo, cara, isso ainda é real e estou na costa oeste. É realmente real agora”.
Wilson seguiu: “Isso realmente machucou meu coração. Mas no meio disso, o que eu entendi foi o que meu pai sempre me ensinou, não voltar atrás naquele momento, porque então se torna algo difícil de lidar. Então eu disse: ‘Com licença, senhor, mas não gosto que você fale comigo dessa maneira.’ Ele meio que se afastou. Mas nesse pequeno vislumbre, mesmo que não tenha se transformado em algo, e se acontecesse? Essa é a parte triste sobre isso, sobre o que estamos falando.”
Wilson chamou de “vergonha” que as pessoas não tenham permissão para protestar pacificamente. Ele falou sobre a necessidade de mudança e reforma da polícia.
“Nem todo policial é ruim, mas a realidade é que acho que precisa haver um processo de… verificar os antecedentes dessas pessoas constantemente, não apenas na primeira vez em que são contratados, mas também por todo o processo de como eles estão trabalhando também “, disse ele. “Acho que há muita coisa que precisa ser mudada.”
(Foto: Ronald Martinez/Getty Images)