[PRÉVIA] Playoffs da NFL: New England Patriots @ Buffalo Bills
Terceiro encontro na temporada entre os rivais reserva uma vaga para as semifinais de conferência; veja tudo o que você precisa saber
Pela terceira vez nos últimos 40 dias, Buffalo Bills e New England Patriots travam duelo de divisão. Neste sábado (15), os rivais se enfrentarão pela rodada de Wild Card, a primeira semana da pós-temporada, em busca de uma vaga no Divisonal Round da Conferência Americana.
Apesar do último confronto entre as franquias ter confirmado Buffalo com uma mão no título da AFC East, foi o primeiro embate que entrou para o hall de um dos melhores da temporada: os Patriots foram até o Highmark Stadium e saíram com a vitória por 14 a 10, lançando a bola apenas três vezes – foram 222 jardas corridas em 46 carregadas sob condições apocalípticas, com temperatura amena e ventos de 65 km/h. Josh Allen, entretanto, respondeu o revés com 314 jardas aéreas e 64 pelo chão na semana 16, em Boston, em triunfo por 33 a 21 que os recolocou na ponta do leste.
Soma-se ainda a batalha à beira do campo: de um lado, o maior treinador da história do esporte, Bill Belichick, e sua exímia genialidade em pós-temporadas; do outro, o badalado Sean McDermott, que transformou um ataque comprovadamente inábil e irrelevante em uma das unidades mais temidas da liga, centrada em um dos lançadores mais promissores da atualidade.
Eu não perderia essa partida.
(Foto: Divulgação Site / Buffalo Bills)
BUFFALO BILLS
Os Bills confirmaram o favoritismo e chegaram aos playoffs como campeões da AFC East. Mas foi mais duro do que o necessário. A equipe sofreu com inconsistência durante a temporada – a derrota para Jacksonville Jaguars, por 9 a 6, e os 41 pontos concedidos no atropelo do Indinapolis Colts são exemplos –, mas cresceu consideravelmente de produção nessa reta final, inclusive encaminhando o título da divisão justamente em vitória dominante para cima dos Pats em pleno Gillette Stadium.
Retomado o caminho das vitórias – e do título da divisão –, Buffalo é disparado um dos times mais perigosos da liga. A unidade não atuou tão bem quanto em 2020 – muito por conta da irregularidade citada –, mas ainda assim foi uma das 10 melhores da temporada regular: foi a 10ª colocada em DVOA (análise do portal Football Outsiders a partir da descida, distância ao first down e do território consequentemente conquistado, sempre com base no adversário e na posição de campo), a 7ª posicionada em EPA (expectativa de pontos marcados, em tradução) e a 5ª colocada em média de sucesso, que leva em conta a usualidade da criação de boas jogadas (vale lembrar que a métrica não diferencia uma ‘boa’ jogada de uma ‘ótima’ jogada: seis jardas em uma 3ª para 5 acaba se equiparando a 40 jardas ganhas na mesma 3ª para 5), ou seja, na capacidade de ajustes pontuais contra específicas formações de defesa.
O que mais impressiona, no entanto – sim, terei a audácia de escolher um ponto –, é a habilidade do quarterback Josh Allen em construir jogadas a partir do improviso, algo que, inclusive, é bem representado na média de sucesso. Claro, há a mira certeira e a grande qualidade pelo chão, bem como o ótimo trabalho da linha ofensiva nesse final de regular season (nenhum sack e apenas 19 pressões sofridas para Atlanta Falcons e New York Jets), mas foi justamente esse improviso que complicou New England em Foxborough um dia depois do Natal – na opinião do redator, a melhor apresentação de um quarterback na temporada.
Mas se você se impressiona com o ataque, é porque não viu os números da defesa. Nos mesmos critérios, é a melhor em DVOA e na expectativa de pontos concedidos, tendo ainda a 2ª melhor média contra o sucesso adversário. A unidade sofreu também com a irregularidade e muitas vezes foi o calcanhar de aquiles durante a temporada, mas cresceu junto à franquia nesse sprint final e pode ser o contrapeso nos playoffs. Não é a unidade mais aplaudida, mas pode se tornar a mais eficaz, a depender do que Josh McDaniels, Mac Jones e o ataque dos Patriots proporem. Aliás, falando neles…
NEW ENGLAND PATRIOTS
New England se recuperou do início ruim (quatro derrotas nos seis primeiros jogos) para engatar uma sequência de sete vitórias e assumir provisoriamente a liderança no leste. Contudo, como dito, acabou sofrendo o revés para Buffalo no momento crucial da temporada regular e praticamente perdeu as chances de jogar em casa nos playoffs. A verdade seja dita, por outro lado, Bill Belicihick e sua trupe não se deram bem atuando em Foxborough – foram cinco derrotas em nove jogos.
Antes da temporada começar, a defesa tendia a ser o carro-chefe, mas acabou não tendo o destaque esperado. O principal problema, evidenciado também pelos números, foi realmente a falta de imposição em momentos pontuais, como na derrota para os rivais (primeiro jogo na ‘era Belichick’ em que New England não forçou um punt sequer) e nos reveses para o Dallas Cowboys, durante o overtime, e para para o New Orleans Saints, ainda na semana 3 – destaca-se, todas essas partidas foram disputadas em Massachussets.
A questão é que é um time muito beneficiado por giveaways adversários – e isso é, claro, mérito da defesa. Os Pats têm o quarto maior EPA herdado por takeaways da NFL. Sim, turnovers são cruciais em uma partida de futebol americano, mas, a julgar pela característica randômica e eventualmente específica, é difícil jogá-los em uma conta pré-jogo.
Por outro lado, como evidenciado na vitória por 14 a 10 em Nova York, o jogo terrestre é a grande carta na manga de Belichick. Único QB rookie a chegar nos playoffs, Mac Jones teve seus bons momentos, mas também cometeu erros dignos de… novatos. A ideia geral é evitar colocá-lo em situações de grande risco, apostando em corridas e no bom trabalho da OL, bem como em ganhos eventuais no play action.
A unidade terminou no 9° lugar em DVOA, 11° em EPA e teve sucesso médio o bastante para um 6° posto. New England não vai se classificar para as semifinais de conferência com uma boa atução de uma das duas unidades – depende do alto nível de ambas.
O JOGO
É imprescindível retornarmos à semana 13 da temporada regular. Os Pats conseguiram bater os Bills tentando passar a bola em apenas três oportunidades, conseguindo capitalizar dois touchdowns nas duas chances criadas – uma delas, corrida de 64 jardas de Damien Harris. Mas talvez houve reações pós-jogo um pouco mais exageradas do que o ideal. Não foi como se Buffalo tivesse sido completamente dominado pela defesa visitante ou como se New England tivesse sido muito superior – Bill Belichick teve um planejamento inteligente, os adversários não converteram as chances disponíveis e os Patriots acabaram conseguindo uma das maiores vitórias do ano.
Já no clássico mais recente, as coisas mudaram. Sean McDermott lotou o box e tentou diminuir os ganhos terrestres rivais – mesmo assim, New England correu para 149 jardas em 27 tentativas, com média de 5,5 jardas por carregada – com blitzes agressivas, sobretudo em descidas iniciais contra personnels mais pesados. O único problema disso é que se abre um buraco relativamente grande entre os linebackers e a secundária que pode ser aproveitado por Josh McDaniels e Mac Jones, principalmente por meio dos play actions. Daí, também, a importância dos visitantes manterem o ritmo pelo chão contra uma defesa que terminou a temporada regular no 11° lugar em DVOA contra corrida. Outra mudança visível foi a maior utilização da marcação homem-a-homem – Buffalo foi em man to man em mais de 65% dos snaps defensivos na semana 13 e em 46% na 16, ao mesmo pé em que usou o conceito em apenas 35% das jogadas na temporada como um todo.
Do outro lado, New England precisa conter os scrambles de Josh Allen, que se mostra como um dos melhores – senão o melhor – no tocante a improvisar jogadas. No geral – sim, no geral –, jogar contra Buffalo se assemelha muito a jogar contra o Kansas City Chiefs, eventualmente dobrando a marcação para cima do melhor recebedor, Stefon Diggs, e marcando por zona no fundo do campo. O objetivo é ceder espaços via checkdown ou passes curtos em troca de maior segurança contra jogadas explosivas. Só que os Patriots até tentaram algo similar na semana 16 e foram rigorosamente engolidos por Allen. A situação ainda piora se levarmos em conta a agressividade adotada por McDermott e companhia, que não deixaram de arriscar quartas descidas.
E aí voltamos a Mac Jones, que pecou em lançamentos de longa distância na derrota em Boston. Sofrendo com o pass rush adversário, Jones completou apenas dois passes para mais de 15 jardas, uma média de 4,5 por conexão – sua pior na temporada. Se os Patriots quiserem ter alguma chance contra o potente ataque dos Bills, não têm o direito de desperdiçar conexões mais longas. Por melhor que a defesa seja, é impossível parar Josh Allen em seus melhores dias. Pelo menos ninguém provou o contrário ainda.
QUEM PODE DECIDIR?
QB Mac Jones (NE): Mac Jones tem feito uma ótima temporada de novato com o New England Patriots. O recém-draftado na primeira rodada da Universidade de Alabama não só foi o único signal caller rookie a chegar aos playoffs, como foi o único jovem titular a conseguir um recorde positivo. É verdade, ainda está relativamente cru e teve problemas com turnovers em algumas partidas na reta final, mas teve um ótimo impacto na sequência de sete vitórias e, consequentemente, na arrancada rumo à pós-temporada.
O problema é que talvez – entenda ‘muito provavelmente’ – seja necessário lançar mais de três passes para levar New England ao Divisional Round. Como dito, a atuação da defesa também será crucial, mas tudo começa com um bom desafogo ao jogo terrestre. Se Jones garantir ganhos também pelo ar e cuidar bem da bola, a franquia percorre metade do caminho rumo à classificação.
O problema é que a outra metade é parar Josh Allen.
QB Josh Allen (BUF): Não quero chover no molhado, já falamos muito sobre como Allen pode, mais uma vez, bater os rivais de AFC East. Resumindo: em seus melhores dias, é um dos melhores quarterbacks da liga e o histórico recente comprova que New England não pode pará-lo. Bill Belichick, entretanto, não deve esconder a mão no embate, ainda mais tendo como base as filmagens dos dois jogos anteriores. O principal problema para o lançador será identificar a cobertura adversária, bem como as aproximações por blitz. E é aí que a história fica mais interessante…
LB Matthew Juddon (NE): Um dos jogadores mais bem pagos dos Patriots e adquirido no recente ‘pacotão’ de offseason, Judon foi contratado para, sobretudo, momentos como esse. No recente jogo no Gillette Stadium, o linebacker pouco foi utilizado no pass rush (apenas uma pressão anotada), mas a tendência é de que ele seja mais ativo no Highmark. Ficou claro que a marcação individual deve funcionar, mas dar tempo no pocket – e fora dele – para Allen não foi uma boa ideia no Natal.
É provável que Belichick revisite o plano de jogo da semana 16 e leve mais homens para cima do QB adversário ou aposte mais uma vez na qualidade da secundária contra o ótimo corpo de recebedores de Buffalo. De todo modo, o matchup entre Judon e o left tackle Dion Dawkins será crucial, principalmente em terceiras descidas longas, onde Buffalo teve amplo domínio em Foxborough.
WR Stefon Diggs (BUF): Um dos grandes atacantes da liga, Diggs é sem dúvida alguma a grande ameaça aérea dos Bills, ainda mais se tratando de uma equipe que tanto se deu bem em third downs no último encontro, quando anotou 85 jardas de recepção consequentes de sete conexões completas (média de 12,1 jardas/recepção). A vida do recebedor, no entanto, não deve ser fácil. Um dos grandes duelos do clássico será entre Diggs e o cornerback JC Jackson, já no hall de jovens mais promissores da posição. O fator principal para Diggs é sua comunicação com Allen durante o improviso de jogadas, deixando a marcação usualmente em maus lençóis. Contra Jackson, entretanto, a expectativa é de um duro embate.
CB JC Jackson (NE): Após desbancar Stefon Gilmore no posto de corner principal de New England em 2020, o camisa 27 se tornou, sem sombra de dúvidas, um dos mais talentosos defensores da equipe, ainda com um teto muito alto. A falta de experiência até poderia ser um fator negativo na batalha com Diggs, mas a expectativa é realmente de vida dura para o ex-Minnesota Vikings. É nos playoffs, porém, que realmente fica clara a falta de vivência no esporte – jogador terá que passar por cima da inexperiência a fim de concretizar o difícil plano de parar Josh Allen. A partir do já dissecado, o lançador adversário é do tipo que consegue tempo para lançar a bola, dificultando relativamente a vida da marcação.
PALPITE: New England Patriots
Pode parecer supérfluo, mas há algo nesse time dos Patriots liderado por um rookie que me agrada muito. Entenda, Buffalo tem tudo não apenas para conseguir a classificação em casa como também para confirmar lugar no Super Bowl LVI, mas tem pela frente uma equipe que já saiu vencedora no mesmo Highmark Stadium, correndo com a bola quase 50 vezes.
New England terá que fazer o jogo da vida para sonhar com a classificação, mas ter Bill Belichick e Josh McDaniels fazendo o playcall em janeiro já é um baita começo. O revés da semana 16 deixou cicatrizes, mas também mostrou deficiências que puderam ser corrigidas nesses 20 dias. Se o jogo corrido funcionar e a defesa forçar turnover(s), a equipe se encontra em uma ótima posição.
No final das contas, New England será mais uma vez underdog atuando fora de casa. E essa tem sido uma boa combinação nesta temporada.
SOBRE O JOGO
Dia: 15/01/2021
Horário: 22h15, horário de Brasília
Local: Highmark Stadium – Buffalo, Nova York.
Transmissão para o Brasil: ESPN e Star+.
(Fotos: Reprodução Twitter / Around The NFL)