[PRÉVIA] Playoffs da NFL: Kansas City Chiefs x Cleveland Browns – AFC Divisional Round
Franquia de Cleveland vem quebrando recordes neste ano, mas será capaz de derrubar os atuais campeões?
Os playoffs já tiveram sua primeira rodada e, como sempre, zebras aconteceram. Uma das partidas mais surpreendentes foi o amplo domínio do Cleveland Browns sobre o Pittsburgh Steelers, quebrando um jejum de 17 anos sem vencer o rival de divisão fora de casa. Agora, o desafio é “só” o Kansas City Chiefs, que tem na dupla Andy Reid/Patrick Mahomes o ataque mais perigoso da NFL.
Para chegar até o Divisional Round, os Browns tiveram que derrubar várias marcas negativas, para finalmente convencer de que podem figurar entre os melhores. Após um início com duras derrotas dentro da divisão, a equipe acumulou vitórias e passou a ser cotada para o wild card. Contudo, a maioria das vitórias vieram sobre adversários fracos, e a perda de Odell Beckham Jr. certamente colocou ainda mais questionamentos sobre a capacidade da equipe de Kevin Stefanski.
Após uma expressiva vitória sobre o Tennessee Titans e alguns tropeços dos Steelers, o time que todos duvidavam passou a ser cotado como possível campeão da AFC North. Mais uma vez, derrotas duras, especialmente para os Jets, fizeram todos voltarem a duvidar do time. A vaga aos playoffs veio e, logo após, uma expressiva vitória (mesmo em situação adversa) permitiu que o tão questionado Cleveland Browns desafie os atuais campeões.
Como era de se esperar, os Chiefs não tiveram muitas dificuldades para conquistar uma vaga entre os melhores da conferência. Apesar de ter ficado atrás dos Steelers boa parte do ano, mostrou maior consistência e conseguiu garantir a seed #1, muito importante para dar descanso aos jogadores e possibilitar a elaboração de um melhor plano de jogo.
Novamente, Mahomes teve uma temporada excelente, sendo a grande força de uma equipe centrada na qualidade única de seu quarterback. Junto a ele, Travis Kelce cravou de vez seu nome como melhor tight end da NFL e, aliado a Tyreek Hill, forma o trio ofensivo mais letal da liga. O amplo domínio ofensivo garantiu a vitória em vários jogos, mostrando capacidade de adaptação às condições climáticas (como em Buffalo) e aos adversários. Por vezes, jogadas explosivas em drives dinâmicos, enquanto em outras oportunidades (mais raras, é verdade) a equipe controlou o relógio com corridas e passes mais curtos.
O jogo do próximo domingo marcará o 27º encontro entre as franquias, com ligeira vantagem dos Chiefs (13-11-2). Ainda que não se trate exatamente de uma das grandes rivalidades da liga, há jogos absolutamente incríveis na história. Na abertura da temporada 2002, os Browns conseguiram um FG faltando apenas 4 segundos para o final, que daria a vitória à equipe. Entretanto, os Chiefs tentaram uma jogada de corrida com seu OL John Tait, que ganhou muitas jardas, mas não o suficiente. O defensor Dwayne Rudd, contudo, pensou ter sackado o QB adversário, atirando seu helmet para longe como celebração, o que deu 15 jardas e chance do chute da vitória para Kansas City, que venceu por 40 a 39.
(Foto: Reprodução Twitter/Cleveland Browns)
CLEVELAND BROWNS
Depois de anos e anos sendo o maior fracasso da NFL, a equipe finalmente passou a acertar no Draft. Além disto, boas trocas e uma necessária mudança de cultura começaram a atrair bons nomes para a equipe. Mesmo com um elenco qualificado e acertos nas seleções, todavia, Cleveland não conseguia engrenar, pois ainda faltava uma peça essencial neste quebra-cabeça: head coach.
A partir do acerto em trazer Kevin Stefanski, tudo melhorou. Em apenas uma temporada, o HC conduziu a equipe a grandes feitos, baseada em um ataque muito explosivo e uma linha defensiva extremamente qualificada. O grande mérito talvez seja a construção de uma linha ofensiva que realmente consegue jogar em alto nível. Nas eleições de melhores jogadores do ano, três de cinco titulares da unidade estiveram entre os melhores, o que demonstra o elevado nível de jogo.
Com uma linha ofensiva forte, Nick Chubb e Kareem Hunt conseguem vários gaps, machucando os adversários com frequência e controlando o tempo de jogo. O sucesso no jogo terrestre força as defesas adversárias a trazerem mais jogadores para perto da linha, a fim de evitar novos avanços, o que, naturalmente, deixa mais espaços no fundo do campo. Situações de play action têm sido muito bem executadas por Baker Mayfield, com passes precisos e um release seguro para evitar os turnovers que marcaram sua carreira.
Na defesa, o grupo de linebackers evoluiu durante o ano, assim como a secundária, mas ainda poderiam ter mais talento. A DL, por sua vez, é absolutamente incrível (mesmo com a perda de Vernon), e tem em Myles Garrett o grande expoente. De todas as superações que existem nos Browns, Garrett talvez seja a mais significativa. Após ficar marcado por utilizar o capacete como arma em confronto com os Steelers, o jogador passou a tentar ser melhor dentro e fora de campo. Deu resultado. Por boa parte da temporada, foi o melhor defensor e, se não fosse por lesão no joelho, poderia ter sido o melhor do ano. Além disto, foi eleito por seus companheiro para o prêmio de homem do ano (Walter Payton), mostrando sua preocupação em impactar positivamente a comunidade de Cleveland.
(Foto: Reprodução site oficial/Cleveland Browns)
KANSAS CITY CHIEFS
Em algumas vezes nesta temporada, Andy Reid mencionou que ter Mahomes no elenco possibilita a ele tentar jogadas e aproveitar situações de forma singular. A junção da mente incrível do head coach com o talento natural do quarterback fazem os Chiefs serem a franquia a ser batida na NFL (e será assim por um bom tempo).
Obviamente, é uma equipe que centraliza sua atenção ao ataque, e tentou reforçar ainda mais com a chegada do RB Clyde Edwards-Helaire no Draft. Após um bom começo, o desempenho foi caindo a ponto do time praticamente voltar a apenas passar a bola – e mesmo assim seguir vencendo. Hoje, o grande expoente além do QB é justamente Kelce, que consegue oferecer uma variação incrível de funções exercidas no campo, com bloqueios agressivos e uma capacidade de recepção muito superior a quase todos os recebedores da liga.
A qualidade de Mahomes saindo do pocket e lançando em movimento acabou criando mais uma grande arma: Tyreek Hill. O recebedor tem como principal elemento de seu jogo a velocidade, e acaba queimando os adversários com frequência, especialmente em jogadas que Mahomes ganha mais tempo com as pernas. Sammy Watkins foi muito bem complementando o grupo, mas teve problemas em ficar saudável ao longo de boa parte do ano.
Na defesa, muitos questionamentos. Diferentemente do último ano, a unidade não parece ter evoluído na parte final da temporada e, em várias partidas, forçou o ataque a resolver por simplesmente não conseguir conter avanços dos rivais. É muito claro que a defesa dos Chiefs tenta fazer o básico: não tomar pontos demais, confiando que o ataque vá resolver as partidas e o time seguirá vencendo. Os melhores jogadores hoje são o safety Tyrann Mathieu, que consegue jogar em todas as partes do campo com bastante competência, e Chris Jones, o defensive tackle que domina o interior das trincheiras.
(Foto: Reprodução Twitter/Kansas City Chiefs)
O JOGO
A receita para vencer os atuais campeões é não permitir que Mahomes jogue muito tempo. Como isto não parece possível com a qualidade da defesa, o ataque dos Browns têm a missão não só de pontuar bastante, mas de controlar o tempo de posse de bola, para fazer o quarterback adversário não jogar. Cleveland é capaz disto.
A equipe visitante deverá tentar a fórmula que tem dado certo ao longo ano: corridas frequentes e play actions. Aproveitando as situações, isto permitiria aos Browns pontuarem com frequência e dominarem a bola por mais da metade do tempo, o que possibilitaria uma vitória. Na defesa, Garrett terá que pressionar o melhor QB da NFL, para que ele não se sinta confortável e lance grandes passes com frequência.
Do outro lado, a equipe de Kansas precisa mostrar que é capaz de conter a melhor dupla de running backs da liga, e isso sem permitir que Jarvis Landry e companhia apareçam livremente para grandes avanços. A tarefa é bem complicada, mas será absolutamente necessária para que a defesa não coloque (mais uma vez) o ataque em situações desfavoráveis.
Ofensivamente, não parece que os Chiefs terão muitas dificuldades. Ainda que a defesa dos Browns tenha forçado diversos turnovers contra os Steelers, a qualidade e a explosão deste ano são muito superiores às de Pittsburgh. Jogadas que aproveitam as zonas intermediárias do campo, principalmente com Kelce, parecem essenciais para o time avançar e não devolver a bola tão rapidamente. Além disto, não há linebackers, safeties ou nickelbacks neste grupo de Cleveland fortes o bastante para marcar Kelce o jogo todo.
Como dito, a fórmula para que a zebra desfile em Kansas City existe e é possível de ser aplicada pelos Browns, mas a margem de erro é praticamente zero, o que torna a missão praticamente impossível.
(Foto: Reprodução Twitter/Around the NFL)
QUEM PODE DECIDIR
Patrick Mahomes (Chiefs): Desculpa falar dele de novo, mas é o melhor jogador da NFL na posição mais importante do jogo (e que conta com uma das melhores mentes ofensivas desenhando jogadas). O QB dos Chiefs pode colocar mais uma grande vitória na conta e disputar a terceira final de conferência em casa em três anos. Se todos os recebedores estiverem marcados, é possível vermos Mahomes ganhar muitas jardas correndo, pois é um elemento que ele já mostrou ter em situações de necessidade. Se este jogador estiver em um grande dia, a vitória fica com os Chiefs.
Chris Jones (Chiefs): A defesa de Kansas City PRECISA aparecer, e nada melhor do que o defensive tackle para colocar isto em prática. Jones terá uma linha de muita qualidade pela frente, mas pode em alguns segundos aparecer no backfield, forçar um turnover e possibilitar a vitória para sua equipe. O jogador pode ser vital fechando gaps e impossibilitando corridas, forçando Mayfield a ter que decidir com o braço.
Nick Chubb/Kareem Hunt (Browns): a melhor dupla de backs da NFL pode ser vital para que Cleveland tenha o direito de sonhar o jogo todo. Com grandes avanços terrestres e recebendo passes (especialmente Hunt, neste quesito), a dupla pode avançar muito, anotar TDs e controlar o jogo (e o destino dos Browns). A defesa adversária virá preparada para enfrentá-los, então caberá aos RBs a missão de superar isto e conduzir toda a franquia para tentar chegar à final da Conferência.
Myles Garrett (Browns): ter um defensor de elite no grupo é a certeza de que a equipe pode, a qualquer momento, mudar seu destino dentro do jogo. Ainda que o release de Mahomes seja excelente, Garrett é capaz de forçar fumbles no quarterback adversário, de modo a possibilitar novas chances ao ataque. Contra os Chiefs, você é obrigado a aproveitar cada situação, então confiar em seu melhor defensor para criar estas situações é um elemento necessário para a vitória.
(Foto: Reprodução Twitter/Kansas City Chiefs)
PALPITE: Kansas City Chiefs
Ainda que eu veja nos Browns todos os elementos capazes de transformarem este jogo numa grande zebra, acredito que falte experiência ao jovem grupo para derrotar os atuais campeões fora de casa. Para vencer, o time deverá aproveitar cada oportunidade para pontuar, roubar a bola ou evitar a magia de Mahomes e, pelo menos este ano, isto ainda não parece possível.
Os Chiefs são mais maduros, mais experientes e mais capazes de resolver uma partida em poucas jogadas. Além de contarem com grandes jogadores no ataque, tem a bye week que lhes permitiu um merecido e valioso descanso para chegar a este momento da temporada mais preparados. Se tivesse de arriscar um placar, diria uma vitória por duas posses.
SOBRE O JOGO
Dia: 17/01/2021, domingo
Horário: 17h05 (Brasília)
Local: Arrowhead Stadium, Kansas City, Missouri (ouviu, presidente?)
Transmissão para o Brasil: ESPN, Watch ESPN