PRÉVIA: Jacksonville Jaguars x Los Angeles Chargers – NFL Playoffs 2022-23 (AFC Wild Card)
Em duelo inédito na história dos playoffs, Jaguars e Chargers protagonizam um dos jogos mais equilibrados da semana inaugural da pós-temporada
Não são poucos os atrativos para o primeiro confronto envolvendo Jacksonville Jaguars e Los Angeles Chargers na história dos playoffs da NFL, que acontece neste sábado, às 22h15, horário de Brasília, no EverBank Field, em Jacksonville. Sendo a segunda de seis partidas do chamado Super Wild Card Weekend, o jogo colocará frente a frente dois jovens e talentosos quarterbacks, ambos fazendo sua estreia na pós-temporada.
Sem dúvidas o principal chamariz para o duelo de sábado (14) à noite, a disputa entre Trevor Lawrence e Justin Herbert trará um intrigante comparativo entre um segundanista que chegou à liga como o principal prospecto na posição mais importante do futebol americano nos últimos dez anos, mas que ainda não produziu à altura dessa expectativa, e um terceiranista que superou, em muito, a condição de prospecto polarizante que tinha em 2020 e que, justo no ano com estatísticas individuais mais discretas ao longo de sua trajetória profissional, terminou a temporada regular com retrospecto positivo e finalmente fez os sempre tão “hypados” Chargers alcançarem os playoffs.
Nesse cenário, é possível dizer, até mesmo, que uma vitória com performance determinante de um dos signal callers pode alçá-lo à condição de principal postulante a rivalizar com o atual “big 3” de quarterbacks da AFC (e talvez de toda a liga), formado por Patrick Mahomes, Josh Allen e Joe Burrow.
Mas não é só: a partida, que apresenta matchups interessantíssimos em diferentes setores e situações, promete ser uma das mais equilibradas da rodada. Isso é traduzido pelas projeções das casas de aposta, que colocam a equipe californiana como favorita por apenas dois pontos, a menor diferença da semana.
Vale lembrar que Jaguars e Chargers já se enfrentaram na atual temporada, em circunstâncias que reforçam o grande leque de possibilidades para o duelo que se avizinha. Isso aconteceu na semana 3, em 25 de setembro de 2022, com vitória acachapante dos, então, visitantes Jaguars, por 38 a 10, partida na qual o “Sunshine” Trevor Lawrence teve um de seus melhores desempenhos da curta carreira: 29 passes completados em 39 tentativas, 262 jardas, três touchdowns e nenhuma interceptação ou sack sofrido.
COMO CHEGAM
Começando pelo mandante Jacksonville Jaguars, que terminou a temporada regular com campanha de nove vitórias e oito derrotas, tendo garantido a vaga para a pós-temporada apenas na derradeira semana 18, em triunfo suado sobre o rival Tennessee Titans, que valeu o título da AFC Sul. A franquia da Flórida experimentou uma reviravolta e tanto em comparação à desastrosa temporada de 2021-22, na qual, treinada pelo controverso Urban Meyer, havia sido a lanterna não só da divisão, mas da NFL como um todo.
Não há dúvidas de que a chegada do experiente e competente Doug Pederson ao comando técnico do time, aliada a boas movimentações na Free Agency e Draft – ainda que não livres de seus próprios questionamentos em relação a salários e predileções entre calouros –, contribuiu sobremaneira para a trajetória “worst to first” dos Jags dentro da divisão. Mas esta não veio sem (esperadas e compreensíveis) turbulências: após um início 2-6, com direito a derrotas para Texans, Colts e Broncos, três dos cinco piores times da liga no ano, a equipe engatou uma série de cinco vitórias nas cinco últimas partidas da temporada regular, que fizeram parte dos sete triunfos ao longo dos nove jogos finais da primeira fase.
Além do evidente aperfeiçoamento do desempenho de Trevor Lawrence, que, em comparação ao ano de calouro, mais do que dobrou o número de TDs lançados (12 para 25), ao mesmo tempo em que diminuiu por mais da metade o número de interceptações (17 para 8), destacou-se, na temporada regular dos Jaguars, o fato de que, pela primeira vez na história da franquia, três jogadores somaram ao menos 70 recepções, sendo eles os wide receivers Christian Kirk (84) e Zay Jones (82) e o tight end Evan Engram (73), todos free agents antes da temporada, o que demonstra o bom trabalho do front office e como o ataque foi capaz de apresentar dinamismo e divisão de protagonismo no jogo aéreo.
A melhora da defesa, unidade preponderante para que o time assegurasse o título da divisão e a vaga nos playoffs no jogo da semana 18 contra os Titans, em que um strip sack retornado para touchdown foi fator decisivo, também foi evidente. Após uma performance constrangedora em 2021-22, os Jaguars, mesmo sem ainda não terem visto o breakout do edge rusher Travon Walker, que foi a primeira escolha geral do último NFL Draft, chegam aos playoffs como o único time que soma TDs defensivos nas duas partidas finais da temporada regular, sendo estes dois metade dos quatro que fizeram o time terminar como o terceiro da liga com mais viagens à end zone por parte da unidade defensiva, que totalizou 27 takeways entre interceptações e fumbles recuperados, quarto maior número do ano.
Já o visitante Los Angeles Chargers chega, claramente, mais pressionado em comparação ao adversário, apesar de ter terminado a temporada regular com uma vitória a mais e uma derrota a menos (campanha 10-7), sendo o segundo colocado da AFC Oeste, atrás do Kansas City Chiefs (seed 1 da conferência), retrospecto suficiente para assegurar a melhor campanha dentre as equipes classificadas via wild card (seed 5).
Isso porque, pelo menos em agosto e setembro passados, a franquia californiana era apontada como uma das principais favoritas ao Super Bowl por muito analistas. Entretanto, em meados de janeiro de 2023, é muito difícil encontrar esse mesmo entusiasmo, ainda que o time treinado por Brandon Staley não tenha terminado a temporada regular do lado mais pessimista da expressão “playoffs ou bust” que acompanhava a equipe no corrente ano de futebol americano.
Sem ter conseguido se livrar da incômoda situação (ou maldição?) de ter que lidar com múltiplas e variadas lesões, o que parece acompanhar a franquia desde sua fundação, os Bolts não podem se dar ao luxo de atribuir apenas a isso a falta de um desempenho que os tivesse feito brigar nas cabeças da conferência em 2022/2023.
Mesmo tendo, finalmente, conseguido alcançar a pós-temporada, o head coach Brandon Staley e suas decisões em momentos chave do jogo seguem sendo alvos de críticas e questionamentos, assim como o gerenciamento do calendário, em especial a opção por escalar titulares na semana 18, quando perdeu para os Broncos com a vaga já assegurada nos playoffs e sem possibilidade de alteração da seed 5 obtida, circunstância que resultou no desfalque de um dos principais jogadores do time para a primeira semana de playoffs: o wide receiver Mike Williams, que sofreu lesão nas costas após já haver perdido outros jogos ao longo do ano.
Nesse cenário, aparece a figura de Justin Herbert como alguém capaz de driblar essas dificuldades e conduzir a equipe a vitórias. Ainda que sem os mesmos números incríveis que produziu em 2021-22, o camisa 10 parece ter amadurecido o aspecto mental do seu jogo, tendo sido crucial para, sem ter contado com seus principais recebedores (Keenan Allen e Mike Williams) juntos em campo ao longo da grande maioria da trajetória, administrar triunfos apertados e, consequentemente, mais burocráticos se comparados ao último ano, no qual os Chargers terminaram do lado perdedor de muitos jogos de placar elástico. Reflexo disso está no fato de que apenas três das dez vitórias dos Bolts foram por mais de uma posse de bola – todas sobre adversários frágeis e/ou já sem qualquer chance de classificação: contra os Texans na semana 4 e contra Colts e Rams nas semanas 16 e 17, respectivamente.
O JOGO
Sem um favorito claro ou a projeção de que a natureza possa ser fator, já que a partida acontece no ameno clima da Flórida, o confronto será decidido – indesejada influência da arbitragem à parte – puramente com base na performance dos jogadores e nas estratégias implementadas pelos treinadores, muito embora a longa viagem dos Chargers, atravessando os Estados Unidos, da Califórnia para a Flórida, deva ser levada em conta.
Com isso, alguns matchups e situações entram em evidência, começando pela importância que o jogo terrestre de ambos os times pode e deve ter ao longo da partida. Se os holofotes estarão voltados quase exclusivamente aos signal callers de bastante grife, o papel desempenhado pelos corredores será preponderante, especialmente para Jacksonville, que buscará tirar proveito do principal calcanhar de Aquiles do adversário. Mantendo o mau desempenho dos últimos anos no quesito, Los Angeles terminou a temporada com a defesa que cedeu o maior número de jardas por carregada (5.42), foi a 28ª em jardas terrestres cedidas por jogo (145.8) e permitiu o 21º maior número de touchdowns corridos (17 – média de um por partida).
Além disso, a já mencionada capacidade de forçar turnovers que a equipe da Flórida traz para o confronto tende a ser fator preponderante não só para os Jaguars, mas também para os Chargers, que somam apenas três takeaways a menos do que o oponente na temporada regular (24 contra 27), arredondando a conta quando observamos o número de turnovers cedidos, que é inversamente proporcional: 22 dos Jags e 19 dos Bolts, o que deixa o saldo de ambos os times em +5. Para que isso se traduza, o papel do pass rush de ambos os times será fundamental.
Isso posto e excluindo os quarterbacks, que já foram bastante examinados, vamos a…
QUEM PODE DECIDIR
Travis Etienne (Jaguars): Na esteira do que foi dito sobre as dificuldades de Los Angeles em defender contra a corrida, o running back quase calouro de Jacksonville – segundanista que perdeu todo o primeiro ano como profissional por lesão – tem a faca e o queijo na mão para fazer com que sua bela temporada de estreia, com mais de 1.100 jardas terrestres e 1.400 de scrimmage em cenário no qual se tornou titular indiscutível apenas na semana 12, após a troca do ex-companheiro James Robinson para os Jets, ganhe continuidade e seja colocada em maior evidência, já que, para muitos, pode ter passado “debaixo do radar” até o momento. Talento e oportunidade para isso o camisa 1, certamente, possui.
Tyson Campbell (Jaguars): Também segundanista, o cornerback dos Jaguars vem de uma temporada de plena ascensão e se prepara para enfrentar um dos melhores recebedores da liga: o experiente e sagaz corredor de rotas Keenan Allen, dono do maior número de recepções da NFL ao longo das 6 semanas finais da primeira fase (50, sendo 16 em terceiras descidas), exatamente o período no qual conseguiu se livrar de lesões. Considerando que, principalmente após a confirmação de que Mike Williams não atuará, Herbert deve procurar muito por Allen no sábado à noite, Campbell precisará estar na ponta dos cascos e, se conseguir, pode ser a chave para a classificação da sua equipe.
Austin Ekeler (Chargers): Não só, mas também como consequência da ausência de Mike Williams, o ataque dos Bolts novamente terá na figura de seu running back alguém absolutamente fundamental para que a equipe tenha sucesso. Enfrentando uma defesa que, ao contrário da do time pelo qual atua, figura entre as 15 melhores contra o jogo terrestre em 2022-23, o camisa 30 terá que manter sua excelente eficiência, especialmente o aproveitamento de TDs na red zone, mas, principalmente, o bom papel no jogo aéreo, para procurar compensar a evidente queda de qualidade entre o wide receiver que será desfalque e seus potenciais substitutos: o segundanista Josh Palmer e o “journeyman” DeAndre Carter.
Joey Bosa (Chargers): Tendo, recentemente, retornado aos gramados após grave lesão na virilha sofrida na semana 3, exatamente contra o rival deste sábado, o edge rusher atuou em contagem de snaps nas duas últimas rodadas de temporada regular. Agora, em duelo de vida ou morte, precisará estar em condições perfeitas ou perto disso, para que, pressionando o jovem quarterback adversário ao lado de Khalil Mack, possa comandar uma unidade defensiva que melhorou bastante contra o jogo aéreo na reta final da primeira fase, mas precisa desse elemento para tranquilizar Drue Tranquill, Kenneth Murray, Derwin James e companhia na contenção à corrida, não cedendo descidas curtas para Jacksonville, principalmente em 3rd downs.
PALPITE: Jacksonville Jaguars
Este redator confia que, no fim das contas, decisões dos treinadores determinarão o resultado de um confronto que tende a ser equilibrado e se manter parelho até os últimos instantes, com a maior experiência de Doug Pederson, campeão com os Eagles em 2017-18, prevalecendo sobre o questionado Brandon Staley, que terá de administrar importante desfalque decorrente de suas próprias opções de gerenciamento de elenco e calendário e entrará muito mais pressionado numa partida que, quem sabe, pode significar o desfecho de sua trajetória como head coach dos Chargers.
SOBRE O JOGO
Dia: 14/01/2023
Horário: 22h15, horário de Brasília
Local: EverBank Field, em Jacksonville, Flórida
Transmissão para o Brasil: ESPN 2 e Star +