[ENTREVISTA] Cairo Santos se diz preparado para disputar vaga com novato nos Buccaneers
Recebendo mídia e fãs em restaurante de São Paulo, kicker brasileiro fez uma prévia da batalha pela posição
Nesta terça-feira (16), o kicker brasileiro Cairo Santos participou de uma agitada noite de autógrafos em um restaurante do Shopping Center Norte, na zona norte de São Paulo. Cairo recebeu os fãs e autografou camisetas, bolas de futebol americano, pedacinhos de papel e qualquer outro artigo para que os torcedores que estiveram presentes tivessem uma lembrança memorável.
Antes disso, Cairo tirou um tempo para conversar com o The Playoffs e falou da expectativa de encarar a pré-temporada do Tampa Bay Buccaneers tendo que enfrentar na briga por um lugar no elenco principal o novato Matt Gay, que foi recrutado pelo time de Tampa Bay no último Draft da NFL. Além disso, o kicker brasileiro revelou uma conversa com o épico kicker Martin Gramatica, comentou sobre expectativa para temporada, o que aconteceu com Cody Parkey no Chicago Bears e muito mais.
Confira como foi a nossa conversa com o “Zica das Bicudas”:
The Playoffs: Quando você entrou na liga passou por um training camp como novato e tendo que batalhar posição com um veterano como o Ryan Succop la em Kansas City e ganhou a vaga. Agora em Tampa entra no camp como o veterano e tem a presença de um novato, o Matt Gay. Qual a sensação de estar no outro lado da moeda na batalha da pré-temporada? A preparação é diferente?
Cairo Santos: O curioso é que o Succop tava no sexto ano quando eu entrei e agora eu sou o veterano que está entrando na sexta temporada, então acho que passando por essa experiência eu sei exatamente o que fazer, sendo um cara que ganhou aquela competição e agora também sei das coisas que podem influenciar quem vai ganhar a vaga. Ele é um cara que é mais jovem e mais barato por alguns anos, sei que isso pode afetar. Eu aprendi a focar e tenho que acertar 100% dos meus chutes nos treinos, e se nisso eu acabar ganhando a vaga ou não? Acho que não é algo que eu tenho controle, eu tenho o controle da minha dedicação. Não me preocupo com o resultado, me preocupo em produzir e no fim do eu possa ter emprego com alguma das 32 equipes.
TP: E como é encarar esse TC sendo o estrangeiro e o novato americano chegando? Acha que vai ter alguma diferença no vestiário? Ou é tranquilo isso?
Cairo: Não, é bem tranquilo, eles respeitam muito. Se você está ali em um elenco de NFL é porque você passou por muitos testes para chegar ali. Não importa de qual país você vem ou por qual divisão você passou. O importante é você produzir constantemente. O foco é esse.
TP: Você teve a chance de conversar com algum outro veterano que passou pela mesma situação que você está passando? Por exemplo, o Martin Gramatica, que era um argentino e que em 2006 estava no New England Patriots e teve que batalhar com o Stephen Gostkowski e acabou perdendo. Teve a chance de ter essa conversa com algum kicker veterano sobre isso?
Cairo: Engraçado você ter mencionado o Martin Gramatica. Ele ainda mora em Tampa, ele é locutor de uma rádio dos Buccaneers, e eu joguei golf com ele para um evento dos Buccaneers e a gente conversou exatamente sobre isso e da situação com o Gostkowski. E basicamente o que a gente já conhece da realidade de um kicker e infelizmente acontece isso de times trazerem um cara mais novo para renovar, mas o que importa é que se eu destacar bem e acertar todos os meus chutes e o time ainda acabar escolhendo o cara novo, o importante é eu fazer um currículo bem feito para que talvez uma outra oportunidade apareça. No caso do Martin, acho que ele acabou indo para os Saints. E o meu foco é esse, se no final da pré-temporada eu não conseguir a vaga no Buccaneers, espero que eu tenha com algum outro time que eu vou estar feliz de jogar também.
TP: Você sabe muito bem qual a pressão de ser um kicker na NFL e já teve uma passagem pelo Chicago Bears e teve a oportunidade de conhecer aquela torcida e, como todo mundo, viu o que aconteceu com o Cody Parkey depois do chute que ele errou contra o Philadelphia Eagles em janeiro. Você acha que o Parkey foi um pouco injustiçado pela torcida ou pelo time?
Cairo: A gente sabe que sempre a torcida sempre vai cobrar. A gente fala um ditado lá que você é bom de acordo com o seu último chute. Se você acerta seu último chute você está bem com todo mundo, se você erra eles te cobram como se fosse um técnico de futebol aqui no Brasil. Eu diria que acho que ele foi injustiçado sim, ele assinou um contrato grande com os Bears, e mereceu esse contrato, acho que ele merecia um pouquinho mais de paciência, mas a gente sabe que em Chicago eles cobram muito, o time não chegava há muito tempo e tinha uma equipe que dava para fazer um barulho grande nos playoffs ou até chegar para frente. Acho que essa decepção toda caiu no Parkey, num chute de muito azar, que ele acerta o primeiro e depois teve que refazer o chute, parece que foi bloqueado um pouquinho, bate numa trave e na outra. Às vezes o azar ganha, mas eu torço pro Cody, acho ele um excelente kicker e tem futuro ainda e espero que ele consiga dar a volta por cima.
TP: Você já passou por lugares que tem temperaturas muito diferentes, como o frio de Kansas City e Chicago e o calor de Los Angeles e Tampa Bay. Qual a diferença de chutar no frio e no calor?
Cairo: O jeito que a bola compressa. No calor a bola tá bem quente e o couro está um pouco mais macio e você consegue botar mais força na bola, enquanto no frio a sua perna já tá um pouco devagar e você não está tão bem aquecido e o couro endurece e a bola não esmaga da mesma forma. Existe um preparo e um costume que só com a experiência vem, e acho que kickers que acabam jogando em estádio coberto ou no calor têm um desempenho melhor.
TP: Todo ano a gente especula se alguém vai quebrar o recorde do Matt Prater lá em Denver. Qual é a distância máxima que você acha que alguém consegue acertar um chute na NFL?
Cairo: Olha, se for lá em Denver, com a altitude e o vento a favor, acho que 70 jardas alguém vai acertar. [Justin] Tucker ou o [Greg] Zuerlein têm esse potencial, mas as condições têm que ser excelentes. Dificilmente vai acontecer, mas até 70 acho que alguém acerta.
TP: Você acha que algum jogador de futebol brasileiro conseguiriam jogar como kicker no futebol americano?
Cairo: Acho que sim, penso num goleiro que chuta aqueles tiros de meta bom ou um rebatedor de falta. Queria muito ver o Roberto Carlos no auge dele com aquela coxa duas vezes do nosso tamanho pegar uma bola de futebol americano e ver qual a distância que ele pode acertar.
TP: Agora a gente tem outro brasileiro chegando na NFL, com o Duzão no Miami Dolphins. Qual a importância de ter outro brasileiro na liga e qual a expectativa para esse possível confronto brasileiro na NFL?
Cairo: A gente joga contra o Miami na segunda semana da pré-temporada e vamos treinar com eles durante essa semana. Então vou treinar contra o Duzão por três dias aí e estou animado de ver ele pessoalmente. Torço para que ele consiga se manter e faça uma bela carreira na NFL.
TP: Acha que a gente tem alguma chance de ver um brasileiro chegando na NFL sendo draftado?
Cairo: Sim, mais chances de ser outro kicker, mais jogadores que tenham vindo para fazer intercâmbio da mesma maneira que eu fui e conseguir uma bolsa. Alguém entrando e se destacando na faculdade como eu me destaquei, acho que a gente teria chance dele ser draftado e ser esse primeiro brasileiro draftado.
TP: Sempre que a gente procura nas redes sociais postagens dos times que você está ou se a postagem é sobre você, surge um mar de brasileiros te dando apoio. Qual o efeito dessa torcida brasileira vindo daqui quando você está la nos Estados Unidos jogando?
Cairo: Maravilhoso, o apoio torcedores brasileiros é algo que não existe lá nos Estados Unidos. Lá eles são muito fanáticos pelas equipes deles, mas não existe isso de torcer por um cara de um time que não é do seu time, mas aqui no Brasil a gente vê torcedores dos Patriots dizendo ‘espero que você acerte todos os chutes, mas que os Pats ganhem no final’. Às vezes eu vejo bandeiras brasileiras no estádio para eu autografar, e nas redes sociais, eu leio os comentários e vejo que a torcida ta torcendo por mim e acho isso muito legal. Vejo que cada um tem um time no coração, mas tem um pouquinho do time que eu to lá também. Isso me motiva muito para dar mais para o esporte e para o crescimento dele aqui no Brasil.
TP: Rola um contato com os brasileiros dos outros esportes como o Nenê (NBA), o Paulo Orlando, o Yan Gomes (ambos MLB) e outros?
Cairo: Sim, lá em Kansas City eu tive bastante contato com o Paulo Orlando. Ele foi em um treino dos Chiefs e eu fui num treino dos Royals. Também lá em Kansas no time da MLS tinha o Benny Feilhaber, que é naturalizado americano, mas nasceu no Brasil e fala português perfeitamente. Tive a oportunidade de conhecer esses caras e sentir que eles torcem por mim do mesmo jeito que eu torço por eles
TP: Dos atletas americanos, quem foi o que mais te ajudou? Como é essa relação?
Cairo: A posição de kicker é uma fraternidade. Todo mundo se ajuda e conversa antes do jogo e ajuda com o vento daquele estádio, isso é muito especial. Sempre fui muito bem recebido pelos veteranos. É uma fraternidade como um todo e que a gente sente o apoio de todo mundo.
(Fotos: Luis Felipe Saccini/The Playoffs)