Drew Brees pede desculpa por comentário e promete ‘falar menos e ouvir mais’
Quarterback dos Saints criticou protestos no hino nacional americano e causou revolta em companheiros de equipe
No dia seguinte a uma polêmica declaração sobre protestos durante o hino nacional americano, e que gerou revolta em companheiros de equipe, Drew Brees demonstrou arrependimento. Pelo menos, o quarterback do New Orleans Saints veio a público pedir desculpas por suas palavras e prometeu a partir de agora “falar menos e ouvir mais”. Confira abaixo a íntegra da mensagem de Brees em seu Instagram, postada nesta quinta-feira (04):
“Eu gostaria de pedir desculpas aos meus amigos, companheiros de equipe, à cidade de Nova Orleans, à comunidade negra, à comunidade da NFL e a todos que eu feri com meus comentários de ontem. Falando com alguns de vocês, partiu meu coração saber a dor que eu causei. Em uma tentativa de falar sobre respeito, união e solidariedade centrados na bandeira americana e no hino nacional, eu fiz comentários insensíveis e deixei passar completamente a questão que estamos vivendo neste momento como país. Faltaram [nesses comentários] entendimento e qualquer tipo de compaixão e empatia. Em vez disso, essas palavras foram divisivas e dolorosas e levaram pessoas a acreditar erroneamente que eu sou de alguma forma um inimigo. Isto não poderia estar mais distante da verdade e não é uma reflexão certa do meu coração e do meu caráter. É assim que eu me posiciono:
Eu estou ao lado da comunidade negra na luta contra uma injustiça racial sistêmica e a brutalidade policial e apoio a criação de uma verdadeira mudança na polícia que faça a diferença. Eu condeno os anos de opressão que existiram para nossas comunidades negras e que ainda existem hoje. Eu sei que nós como americanos, incluindo eu mesmo, não lutamos o bastante por essa igualdade ou entendemos de verdade os problemas e dificuldades da comunidade negra. Eu reconheço que eu sou parte da solução e posso ser um líder para a comunidade negra neste movimento. Eu nunca saberei o que é ser um homem negro ou criar uma criança negra nos Estados Unidos, mas eu trabalharei diariamente para me colocar no lugar deles e lutar pelo que é certo. Eu sempre fui um aliado, nunca um inimigo. Eu estou chateado pela forma como meus comentários foram entendidos ontem, mas eu aceito toda a responsabilidade e a culpa. Eu reconheço que eu devo falar menos e ouvir mais… e quando a comunidade negra está falando sobre sua dor, todos nós precisamos ouvir. Por isso, eu estou muito arrependido e peço o perdão de vocês”.
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O primeiro jogador a reagir pela fala de Drew Brees, Michael Thomas retuitou a mensagem do quarterback, num sinal de que pode ter aceitado as desculpas. Já o linebacker Demario Davis declarou em entrevista à CNN americana: “para ele (Brees) admitir que estava errado, eu acho que é isso é a liderança no seu melhor”.
(Foto: Kevin C. Cox/Getty Images)
Entenda o caso
Em meio às tensões e protestos após o assassinato de George Floyd, diversos jogadores da NFL se posicionaram abertamente. A postura adotada ao redor da liga, completamente distinta quando comparada à reação contra os protestos realizados por Colin Kaepernick em 2016, ganhou destaque. Roberts ressaltou o papel de liderança exercido por Drew Brees e questionou o quarterback sobre o tratamento a novas manifestações semelhantes às de Kaepernick que eventualmente ocorrerem durante a temporada de 2020. O jogador dos Saints negou apoio e garantiu que não pretende defender o “desrespeito à bandeira americana”.
“Jamais concordarei com qualquer pessoa que desrespeite a bandeira dos Estados Unidos da América, nosso país. Deixe-me explicar o que vejo e o que sinto quando olho para a bandeira dos Estados Unidos durante a execução do hino nacional: eu vejo meus dois avôs, que lutaram por esse país durante a Segunda Guerra Mundial, um com o exército e outro com os fuzileiros navais. Ambos arriscaram as próprias vidas para proteger nosso país e para tentar tornar o país e o mundo lugares melhores.
Então, todas as vezes, quando estou em pé, com a mão sobre o peito, olhando para a bandeira e cantando o hino nacional, é sobre isso que penso. E isso muitas vezes me leva às lágrimas, pensando a respeito de tudo o que foi sacrificado. Não apenas nos integrantes do exército, mas também do movimento pelos direitos civis durante os anos 60 e tudo o que foi suportado por tantas pessoas até aqui. Está tudo bem em nosso país neste momento? Não, não está e ainda há muito pela frente. Mas acredito que quando você está em pé, com a mão sobre o peito, mostrando respeito à bandeira, isso demonstra união. Isso mostra que todos estamos nessa juntos, que todos podemos fazer melhor e todos somos parte da solução”.
A resposta de Brees foi imediatamente criticada, apontando que os protestos não têm a intenção de desrespeitar o símbolo e trazem atenção para o problema da brutalidade policial contra a população negra. Michael Thomas, porém, foi mais enfático.
Em uma sequência de publicações no Twitter, o wide receiver criticou a opinião do quarterback: “ele não sabe de nada”, “ninguém liga se você discorda ou se alguém mais discorda, que tal assim?”. Depois, utilizou um emoji de enjoo para comentar uma postagem do jornalista Mike Freeman: “como alguém pode assistir ao assassinato de George Floyd e, como primeira reação, pedir às pessoas que respeitem a bandeira?”. Por fim, Thomas também compartilhou uma matéria do canal History a respeito do tratamento desigual a veteranos negros após a Segunda Guerra Mundial, outra clara referência à resposta de Drew Brees.
Pouco depois, foi a vez de outro wide receiver do time se juntar a Thomas nas críticas ao quarterback. Contratado durante a free agency, Emmanuel Sanders publicou um “smh”, abreviação para a expressão shake my head (balançar a cabeça como sinal de reprovação) e definiu Brees como “ignorante”.
Malcolm Jenkins, safety da equipe, também não deixou barato. Disse ter muito respeito e admiração por Drew Brees, mas algumas vezes é necessário “calar a boca”.
Outras figuras importantes se manifestarem sobre o tema, como Aaron Rodgers e até mesmo o astro da NBA LeBron James.
*Atualizado em 4 de junho de 2020, às 12h12