Fênix: segundo a mitologia grega, é um pássaro que, quando morria, entrava em autocombustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas.

Começo assim por estar sem palavra para dizer o que aconteceu neste domingo no CenturyLink Field entre Green Bay Packers e Seattle Seahawks. Os donos da casa perdiam por 16 a 0, seu quarterback havia lançado para três interceptações, mas com um último período impecável, conseguiu reverter a situação, levar o jogo para o overtime e na primeira posse de bola, um touchdown e o passaporte para o Arizona carimbado.

A vitória por 28 a 22 mantém em termos uma quebra de escrita. Desde 1990, quando este sistema de playoffs foi implantado, os números 1 de cada conferência não iam para o Super Bowl em duas temporadas seguidas. Foi assim ano passado com Denver Broncos @ Seattle Seahawks e caso o New England Patriots derrote o Indianapolis Colts, a escrita será quebrada.

Nem o mais pessimista torcedor dos Seahawks poderia imaginar que sua equipe começaria tão mal a partida. Depois que Aaron Rodgers foi interceptado, Russell Wilson recebeu a bola pela primeira vez na tarde, demorou três jogadas para retribuir a gentileza. Mas Green Bay não conseguiu a pontuação máxima e se contentou com um field goal.

A máxima seguiu logo em seguida: turnover de Seattle, Green Bay transformando a roubada de bola em um field goal curto. Doug Baldwin sofreu um fumble ao retornar o kickoff, forçado pelo DE Datone Jones. Mais uma vez A-Rod teve uma ótima oportunidade de anotar o primeiro TD da partida, mas a defesa de Seattle provou porque é a melhor da liga e teve que se contentar com um FG de 19 jardas do kicker Mason Crosby.

Green Bay dominava o jogo e parecia que estava no Lambeau Field. Apoiado pelas corridas de Eddie Lacy, os Packers foram avançando, até Aaron Rodgers encontrar Randall Cobb completamente sozinho dentro da end zone, na última jogada do primeiro quarto.

Se sua defesa não inspira tanta confiança, Green Bay aprendeu com os melhores como anulá-los e Russell Wilson não conseguia jogar. O ataque dos visitantes seguia pontuando, com um field goal de 40 jardas de Crosby, terceiro dele no jogo. 16 a 0 Packers no CenturyLink Field. E cadê o 12º jogador?

Wilson estava irreconhecível, terminou o primeiro tempo com dois passes completados de nove tentados, 12 jardas e três interceptações.

A sorte mudou de lado com um ‘fake field goal’

Apoiado pelo seu fanático torcedor, os Seahawks foram colocando os nervos no lugar e as coisas começaram a dar certo no começo do terceiro período. Após dois punts, um de cada lado, os Seahawks tiveram uma campanha emblemática, voltando definitivamente para o jogo. Seattle chegou a ter uma segunda descida para 30 jardas, mesmo assim o ataque saiu do buraco e seguiu avançando.  O lance da partida que fez o Seattle Seahawks entrar de vez no jogo aconteceu com um field goal de 37 jardas que se transformou em touchdown: preparado para o chute, o time executou um ‘fake field goal’, o punter Jon Ryan se deslocou para a esquerda e fez o passe para o tackle Garry Gillian dentro da end zone. O grandalhão agarrou o passe e diminuiu a vantagem. O CenturyLink Field explodiu e o 12º jogador estava de volta.

Com muita inteligência, os Packers fizeram de tudo para gastar o máximo de relógio possível. Lacy e James Starks carregavam o piano pelo chão, A-Rod tirava primeiras descidas da cartola com passes muito rápidos. Foi assim que Green Bay foi avançando no último período, campanha de mais de cinco minutos que acabou com o quarto field goal de Mason Crosby na linha de 48 jardas.

Seattle seguiu valente, principalmente com Marshawn Lynch, mas a defesa de Green Bay aparecia em momentos cruciais. Tudo parecia perdido quando Wilson lançou sua quarta interceptação no duelo, 12 pontos atrás e com cinco minutos no cronômetro. Mais uma vez a bola bateu nas mãos do WR Jermaine Kearse e ficou no ar, interceptada por Morgan Burnett.

Acabou o jogo? Packers Classificados? Nada disso, não se pode subestimar o Seattle Seahawks em sua casa e muito menos o futebol americano. Assim, como uma fênix, os atuais campeões foram saindo das cinzas e Wilson foi se redimindo de um dos piores jogos da carreira. Primeiro, o QB anotou um touchdown correndo com a bola. E logo em seguida, o time da casa recuperou o onside kick, após o TE Brandon Bostic não conseguir agarrar a bola no ar.  Marshawn Lynch ligou o ‘beast mode’ e fez o estádio quase explodir, com uma corrida de 24 jardas para dentro da end zone. Seattle ainda fez a com a conversão de dois pontos para abrir três pontos de vantagem.

Faltando 1min19s e contundido, Aaron Rodgers tentou tirar o coelho da cartola para pelo menos posicionar seu kicker para um field goal que levaria para a prorrogação. Foi exatamente o que aconteceu, Crosby converteu a tentativa de 48 jardas e levou o duelo para o overtime, 22 a 22.

Percebemos no futebol americano em determinadas vitórias ou momentos da partida que a estrela da equipe começa a brilhar. Seattle venceu o cara ou coroa, ou seja, toda a sorte que o time não teve nos dois primeiros períodos, apareceu nos períodos restantes, e o time não deu sequer a chance de Rodgers tentar algo no tempo extra.

Wilson se transformou em outro jogador e lançou um fantástico passe para Jermaine Kearse dentro da end zone, o WR agarrou a conexão de 35 jardas e carimbou o passaporte dos Seahawks para o Super Bowl 49. Vitória de time que quer ser bicampeão.