O dono do Phoenix Suns, Robert Sarver, foi acusado de “criar um ambiente de trabalho tóxico e, às vezes, hostil” e utilizar linguajar racista e misógino ao longo de seus 17 anos como dono da franquia da NBA, segundo o repórter Baxter Holmes, da ESPN americana, em reportagem publicada nesta quinta-feira (04).

Holmes conversou com 70 atuais e ex-membros da equipe e resumiu alguns dos episódios que foram relatados a ele.

“Alguns contaram à ESPN que ele já usou linguagem racista repetidamente em sua sala. Funcionários relataram condutas que eles sentiram que fossem inapropriadas ou misóginas, incluindo a vez em que Sarver saiu mostrando uma foto de sua esposa de biquíni para os funcionários e falando das vezes em que ela fez sexo oral nele. Alguns dizem que o dono criou um ambiente em que os funcionários sentiam que eram propriedades dele, inclusive perguntando a uma mulher se ele era ‘dono’ dela para determinar se ela trabalhava para os Suns”.

Em outubro, os Suns e Robert Sarver soltaram notas antes da divulgação da investigação, já com os rumores que vinham na imprensa. O empresário afirmou que: “alguns dos relatos eu acho repugnante para mim e para o ambiente de trabalho dos Suns/Mercury e eu posso afirmar que eles nunca aconteceram”.

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— Phoenix Suns (@Suns) October 22, 2021

Sarver também negou, através de seus representantes legais, várias acusações de Holmes.

“Eu nunca chamei alguém ou um grupo de pessoas pela ‘palavra com N’ ou me referi a alguém ou um grupo pela ‘palavra com N’, seja verbalmente ou por escrito”, afirmou Sarver sobre um termo considerado racista no inglês. “Eu não uso essa palavra. É abominável, feio e degradante e vai contra tudo em que eu acredito”.

Holmes começou sua reportagem contando um episódio de 2016 no qual o ex-treinador de Phoenix Earl Watson disse que Robert Sarver usou o termo racista em sua frente e perguntou: “Por que o Draymond Green pode correr pela quadra e dizer isso?”

Apesar de Sarver assumir que usou o termo uma vez, ele nega que essa conversa de 2016 tenha ocorrido. Ele afirma que, na verdade, chegou para um jogador que havia recebido uma falta técnica por falar essa palavra no meio do jogo e disse ao atleta que ele deveria contestar a marcação.

“Isso é completamente falso”, disse Robert Sarver. “Eu me recordo do jogo e do assunto. Eu, é claro, nunca usei a palavra. Durante a conversa eu disse ‘palavra com N’ sem falar o termo em si. A palavra propriamente dita nunca passou pelos meus lábios”.

O jogador em questão não se recorda desta conversa com o dono da franquia.

De acordo com Holmes, pelo menos seis funcionários do time falaram sobre “Sarver ouvindo uma história de um jogador negro e depois usando a mesma linguagem para recontá-la, inclusive proferindo a ‘palavra com N'”.

Além disso, ele supostamente preferiu contratar Watson ou Lindsey Hunter – técnico interino em 2012-13 – para a vaga de treinador por serem negros. A respeito de Hunter, em específico, um funcionário afirmou que Sarver disse que “esses [palavra com N] precisam de um [palavra com N]”, fazendo referência aos atletas dos Suns.

O porta-voz da NBA, Mike Bass, disse a Holmes que a diretoria da liga ainda não recebeu nenhuma reclamação formal. A diretora executiva da NBPA, Michele Roberts, também afirmou que não estava ciente de relatos a respeito do caso e que a organização não tem muito contato com o Phoenix Suns, exceto com o armador Chris Paul, ex-presidente da NBPA, e o general manager James Jones.

No entanto, um membro atual do Phoenix Suns afirmou que o comissário da NBA, Adam Silver, ficaria “chocado” se a liga investigasse o ambiente interno da franquia.

Uma ex-funcionária disse a Holmes que ela sentia que Robert Sarver não acreditava que as mulheres tinham muito valor e eram “propriedades”.

Os problemas não são exclusivos de Sarver, porém, sendo que vários entrevistados disseram que os executivos dos Suns eram responsáveis por criar um ambiente desconfortável.

Em um dado momento, uma funcionária disse que ela foi fisicamente agredida por um colega fora do ambiente de trabalho. Depois de relatar o caso para o RH da franquia, a mulher afirmou que eles decidiram apenas por mudar sua mesa de lugar, mantendo-a na mesma sala do agressor. Não houve mais nenhuma investigação quanto ao episódio.

Após a divulgação da reportagem, Robert Sarver emitiu outra nota e afirmou que estaria disposto a receber uma “investigação imparcial da NBA”.

“Continuo chocado com as informações falsas relatadas por Baxter Holmes. Embora tenha tanta coisa imprecisa e enganosa nesta história que mal sei por onde começar, deixe-me ser claro: a ‘palavra com N’ não faz parte do meu vocabulário. Nunca chamei ninguém ou qualquer grupo de pessoas pela ‘palavra com N’, ou me referi a qualquer pessoa ou grupo de pessoas por essa palavra, seja verbalmente ou por escrito. Eu não uso essa palavra. É repugnante, feio, degradante e vai contra tudo em que acredito. A maneira como conduzo minha vida pessoal e profissional deixa isso claro. Em vez de relatar a verdade, a história de Holmes é baseada em deturpações do ex-técnico dos Suns Earl Watson e de outras ‘fontes’ não identificadas. O Sr. Watson criou uma atmosfera não profissional e tóxica em nossa organização. Ele claramente não é uma fonte confiável. Apesar de ouvir testemunha após testemunha que contestava as histórias do Sr. Watson, o Sr. Holmes ignorou completamente a verdade aqui. Agora estamos na posição de tentar refutar coisas que não aconteceram”.

“Neste ponto, eu receberia sem problemas uma investigação imparcial da NBA, que pode ser nossa única saída para limpar meu nome e a reputação de uma franquia da qual estou muito orgulhoso”.

Robert Sarver comprou o Phoenix Suns em 2004 por US$ 401 milhões.

Em março de 2019, Kevin Arnovitz, da ESPN americana, detalhou problemas por trás das cortinas que afetavam o Phoenix Suns. No entanto, sua reportagem se baseou em questões relacionadas diretamente ao basquete apenas.

(Foto: Reprodução Twitter/Phoenix Suns)