[PRÉVIA] Playoffs da NBA 2020: Denver Nuggets x Utah Jazz
Jazz tenta desbancar favoritos Nuggets para avançar às semifinais da Conferência Oeste
Com não muitos momentos de grande esforço dentro da “bolha”, em Orlando, e sem preocupação com vitórias na parte final da fase, Denver Nuggets e Utah Jazz chegam à primeira rodada dos playoffs da Conferência Oeste da NBA em confronto interessante, que se inicia nesta segunda-feira (17).
Depois de cinco temporadas longe dos playoffs, os Nuggets voltaram à disputa na temporada passada, avançando até as semifinais de conferência, em que perderam para o Portland Trail Blazers em sete jogos. A equipe do Colorado, nascida em 1967, tem falhado em avançar da primeira rodada dos playoffs. De 2003/2004 para cá, os Nuggets foram 11 vezes para os playoffs e passaram para as semifinais de conferência em somente duas oportunidades. Este ano, Nikola Jokic e Jamal Murray estão aí novamente, e saudáveis, e contam com bom e extenso elenco de apoio, sob a batuta de Michael Malone, para furar a primeira rodada.
De Salt lake City, o Jazz sofreu com a perda de Bojan Bogdanovic para o restante da temporada, mas conseguiu recuperar a relação de Rudy Gobert e Donovan Mitchell e conta muito com a inspiração dos dois para passar pelos rivais. Depois de quatro ausências consecutivas na pós-temporada, a equipe de Utah participou dos últimos três playoffs, porém sem muito sucesso. Nas últimas duas, eliminações por 4 a 1 para o Houston Rockets. A franquia, extremamente temida na década de 90 e com uma final de conferência em 2007, ainda procura melhor sucesso nos anos recentes.
Para quem gosta de um breve histórico, Nuggets e Jazz já se enfrentaram por quatro vezes em playoffs (1984, 1985, 1994 e 2010), com três vitórias para o Jazz e uma para os Nuggets. O último embate, em 2010, foi uma vitória do Jazz por 4 a 2 na primeira rodada, uma temporada depois dos Nuggets terem perdido sua última final de conferência disputada.
Diante disso, o que esperar dessa série? Confira em mais uma prévia do The Playoffs!
NUGGETS x JAZZ
Terceiro colocado do Oeste e sexto lugar geral da NBA, os Nuggets terminaram a temporada regular da “bolha” com a campanha de 3-5. A equipe estava bem postada na terceira colocação da conferência, com poucas chances de serem ultrapassadas ou ultrapassar alguém, então Malone usou a fase final de laboratório para experimentos com o elenco, que de fato teve muitos desfalques no retorno da competição, como os titulares à época Jamal Murray (coxa esquerda), Will Barton (joelho direito) e Gary Harris (quadril). Murray voltou na última rodada, mas Harris e Barton ainda não tem uma previsão de retorno imediato.
A boa notícia foram os substitutos. O grande nome foi o calouro Michael Porter Jr., que teve sequência digna do segundo time da “bolha” da NBA e liderou a equipe nos últimos jogos em pontos (22,0), rebotes (8,6) e minutos (33,3), ainda com 42,2% de aproveitamento nas bolas de três. Além dele, destaques também para Monte Morris, com média de 29,3 minutos e 13,9 pontos, em 39,3% de aproveitamento nas bolas de fora, e P.J. Dozier, que teve 22,3 minutos e 10,3 pontos de média em 43,9% de aproveitamento nos arremessos de quadra.
Durante a temporada, os Nuggets mostraram grandes e diversas armas ofensivas em um elenco profundo. Na temporada, a equipe é a quarta melhor em aproveitamento de arremessos por partida (47,3%) e quarta maior em assistências (26,7), além de quinta em rebotes ofensivos (10,8), fator que contribui para mais um de seus pontos fortes: os pontos de segunda chance. A equipe tem 14,2 tentos por partida em segunda chances (quarta maior marca da temporada). Contando Morris, Dozier, Mason Plumlee, Torrey Craig, Keita Bates-Diop, Troy Daniels e Bol Bol, excluindo Porter Jr., como jogadores do banco com mais de 12 minutos na temporada regular e “bolha”, a média de pontos é de 42,7. Embora saibamos que a rotação deva ser extremamente curta, Malone tem à disposição um leque grande de opções para fazer mudanças e ajustes ao longo da série.
O Jazz teve uma sequência semelhante na “bolha”, com 3 vitórias e 5 derrotas. Diferente dos Nuggets, a equipe esteve em condições reais de brigar por um confronto distinto com Houston Rockets e Oklahoma City Thunder. De acordo com o visto na sequência de Utah, a equipe pareceu fugir dos Rockets, time que joga em um extremo small-ball, com cinco abertos o tempo inteiro, confronto aparentemente desfavorável, que praticamente apagaria todo o impacto de Rudy Gobert poderia ter. Poupando com frequência seus jogadores, o técnico Quin Snyder viu com sofrimento a ausência de Bogdanovic, que passou por cirurgia no punho e não voltará até a próxima temporada.
O impacto sem Bogdanovic é gigantesco. O ala croata jogava mais de 33 minutos na rotação de Snyder e era responsável por 20,2 pontos por jogo, segundo cestinha (atrás apenas dos 24,0 pontos de Donovan Mitchell) e líder das bolas de três da equipe, com 7,3 tentativas por jogo e 41,4% de aproveitamento. Com a saída do croata na retomada da temporada, Utah não conseguiu achar o jogador que precisaria dar um passo à frente e assumir a maioria destes pontos. Dos quatro cestinhas do time na temporada, Gobert não é este jogador e Jordan Clarkson não é dos mais confiáveis.
Com a notícia de última hora da provável ausência de Mike Conley durante os primeiros três jogos da série, Mitchell terá de se desdobrar e aumentar seu volume a níveis talvez não vistos até aqui. Apesar de não ter tido uma boa temporada de estreia pelo Jazz, Conley desenvolveu seu jogo dentro da “bolha” e sua volta é mais do que necessária para o sucesso da equipe.
Contando com Bogdanovic no elenco, o Jazz terminou a temporada regular (contando a “bolha”) com a maior porcentagem de acerto nas bolas de três (38%), sendo a 10ª franquia que mais arremessa bolas de fora. Com a boa produção de fora, a equipe terminou em sexto no aproveitamento de arremessos de quadra (47,1%). Em contraste com a briga na tábua ofensiva de Denver, o Jazz foi apenas o 26º em rebotes ofensivos (9,1), proporcionando poucas novas oportunidades de pontuar.
O CONFRONTO
Um dos pontos cruciais do enfrentamento é o embate dos garrafões. Pensando em Rudy Gobert contra Nikola Jokic, o confronto é complicado para o francês. Grande protetor de aro e ágil nas coberturas, Gobert será obrigado a jogar alto marcando Jokic nos diversos momentos que o croata sai do garrafão para arremessar ou iniciar as jogadas. Esta dinâmica possibilita aos Nuggets afastar Gobert do garrafão e abrir espaço para as batidas para dentro de Murray, Porter Jr., Morris, Barton e Harris, se estes últimos voltarem. Jokic teve quase um triple-double de média no confronto direto (29,3 pontos, 12 rebotes e 9 assistências), mas viu Gobert apanhar média de 4 rebotes ofensivos. O problema é que Gobert briga sozinho na cesta. Nos confrontos, foram 14,5 rebotes ofensivos para os Nuggets contra 10,3 do Jazz.
Gobert é um excelente protetor de aro, um pivô já temido por isso e que faz com que as jogadas ofensivas sempre saiam de sua rota nas infiltrações. Sem me alongar neste ponto o francês, extremamente reconhecido, aqui gostaria de levantar um ponto sobre a melhora defensiva de Jokic. O pivô sérvio não é um grande protetor nato de aro como Gobert, mas tem aproveitado suas qualidades ao máximo para dificultar as ações os oponentes. Inteligente ao se posicionar, com raciocínio rápido, boa envergadura e mãos ágeis, Jokic consegue interceptar passes (“Joker” é o quarto em roubos de bola entre os pivôs, com 1,2 por jogo) e mudar a jogada do jogador adversário em diversos momentos.
Ainda dentro do garrafão, Michael Porter Jr. foi uma grande descoberta para Denver e horrível para o Jazz. A equipe de Utah não tem em seu elenco alguém com tamanho suficiente para bater de frente com o alto e ágil ala. Tirando Gobert, o elenco só conta com Ed Davis e Tony Bradley com tamanhos semelhantes e será muito difícil Snyder colocá-los por longos períodos no jogo para esta função.
Se Porter Jr. souber aproveitar suas qualidades, poderá se sobressair na série. No confronto da “bolha”, o ala teve 45 minutos e contribuiu com 23 pontos e 11 rebotes, mas com 1/8 nas bolas de três. Além de Porter Jr., os Nuggets ainda contam com Jerami Grant e Paul Millsap dentro do garrafão, ambos com agilidade além de seu tamanho. Problema grande para o Jazz.
No perímetro, a briga fica por conta de Jamal Murray e Donovan Mitchell. O ala-armador do Jazz já é um astro da liga, mas viu na série contra Denver muitas dificuldades nos dois primeiros jogos (9/36 arremessos convertidos somados), antes de explodir no terceiro confronto, na “bolha”, para 35 pontos, embora o aproveitamento de arremessos nunca tenha sido um ponto forte de Mitchell no confronto (no terceiro jogo foram 12/33). Por outro lado, Murray esteve presente em dois confrontos e teve as médias de 27,0 pontos, 7,0 rebotes e 6,0 assistências, com apenas 2,5 desperdícios. “Spida” teve uma péssima contribuição quando tinha Bogdanovic a seu lado. Sem o croata, como será o caso da série, teve um volume de arremessos exorbitante, levou o jogo para as prorrogações, mas teve baixo aproveitamento.
Mitchell sofreu com Craig na defesa no 1 contra 1 e com as dobras e eficientes coberturas que barraram suas infiltrações. Quando não forçou arremessos, a ala teve boas decisões ao passar a bola nestes casos e achou seu companheiros para os arremessos. Com a boa marcação, Denver fez com que Mitchell acertasse ínfimos 22,6% das bolas de três, mas também viu Clarkson e Conley acertarem 58,3% e 40%, respectivamente, ao longo do confronto. A chave aí para Denver é conseguir cobrir ambos e pagar para outros chutarem. Para o Jazz, de fora e na ausência de Bogdanovic, é confiar nos dois que já provaram eficiência quando o arremesso está livre e equilibrado.
A batalha dos bancos também se mostra desigual. De um lado, Jordan Clarkson é o sexto homem do Jazz e teve mais de 26 minutos por partida no confronto, liderando a equipe em pontos nas três partidas, com 24 pontos por jogo. Além de Clarkson, somente Georges Niang teve alguma produção relevante, com 14,0 minutos de ação e 7,3 pontos. Pelos Nuggets, excluindo Porter Jr. da segunda unidade, Craig e Morris somaram para 23,0 pontos e 11,0 rebotes de média no confronto, mas, mais do que isso, foram extremamente importantes defensivamente. Como a rotação nos playoffs é mais curta, o prejuízo do Jazz tende a ser menor.
RETROSPECTO
Se formos pelo retrospecto das duas partidas de temporada regular pré-pandemia e pelo jogo da “bolha”, o cenário não é favorável para o Jazz, que perdeu os três confrontos, embora eles tenham sido apertados, decididos por seis pontos ou menos. Um fato que precisa ser lembrado, comum aos três duelos, foram as longas sequências e viradas dos Nuggets.
No jogo da “bolha”, dia 8 de agosto, o ataque de Utah parou no início do último quarto e o time permitiu a remontada de Denver, que chegou a estar perdendo por 18 pontos no segundo quarto e conseguiu levar o jogo à prorrogação. No fim, depois de duas prorrogações, vitória dos Nuggets por 134 e 132, no primeiro jogo de Murray desde 11 de março, sua estreia na “bolha”.
No primeiro jogo entre os dois da temporada regular, dia 31 de janeiro, em Denver, sem Murray, os Nuggets fizeram uma sequência de 27 a 1 entre o fim do terceiro quarto e começo do último quarto para vencerem por 106 a 100. No segundo jogo, dia 5 de fevereiro, em Salt Lake City, em que os Nuggets jogaram com somente sete jogadores disponíveis, a equipe do Colorado tirou uma diferença de 15 pontos no terceiro quarto e depois outra de nove a seis minutos para o fim do jogo para vencer por 98 a 95.
Alguns pontos a se destacarem do confronto ao longo desta temporada giram em torno do comportamento de Utah. A equipe teve sucesso ofensivo nestes confrontos, arremessando média de 43,7 arremessos de três por jogo (superior aos 35,2 da temporada toda) e acertando 40,5% (superior ao 38% da temporada toda) e atingindo média de 26 assistências (foram 22,4 por jogo em toda a temporada, apenas a 26ª marca entre todas as equipes), porém o lado defensivo deixou a desejar. O time forçou somente 10,7 desperdícios por partida do rival e cedeu diversos pontos dentro do garrafão (mais de 47% dos pontos de Denver vieram da zona pintada), muitos em segunda chances, já que permitiu 11 rebotes ofensivos por jogo para o adversário.
A SÉRIE: Denver Nuggets (#3) x Utah Jazz (#6)
Jogo 1: Segunda-feira (17/08) Nuggets x Jazz, 14h30 – ESPN
Jogo 2: Quarta-feira (19/08) Nuggets x Jazz, 17h – SporTV
Jogo 3: Sexta-feira (21/08) Jazz x Nuggets, 17h
Jogo 4: Domingo (23/08) Jazz x Nuggets, 22h – SporTV
Jogo 5*: Terça-feira (25/08) Nuggets x Jazz, a definir
Jogo 6*: Quinta-feira (27/08) Jazz x Nuggets, a definir
Jogo 7*: Sábado (29/08) Nuggets x Jazz, a definir
* Jogos só acontecem se necessário.
Obs.: Todos os horários são de Brasília.
PALPITE: Denver Nuggets 4-1 Utah Jazz
A parada é dura para o Jazz. Com muitas alternativas ofensivas, jogadores que podem decidir jogos sozinhos e uma boa coesão dentro de um elenco extenso, os Nuggets provaram ao longo da temporada serem um time temido pela grande maioria das outras equipes. Como visto até aqui, principalmente durante a temporada pré “bolha”, é difícil esperar que o Jazz imponha grandes dificuldades aos Nuggets na série melhor de sete, mesmo que o fator casa não esteja presente.
Sem Bogdanovic, segundo cestinha da equipe, o Jazz deverá encontrar dificuldades para pontuar e não tem muitas alternativas a oferecer a não ser grandes performances de Mitchell e a espera de grandes jogos de Clarkson e Conley em termos de pontuação, o último talvez a partir do quarto confronto apenas.
Não acredito em uma varrida, porque Mitchell tem espírito competitivo de uma estrela e o Jazz conta com um exímio defensor de garrafão e um bom técnico, porém acho difícil a série se estender por muitos jogos, creio que a tendência seja de uma série mais fácil para Denver.
(Foto 1: Kevin C. Cox / Getty Images; Foto 2: Reprodução Twitter / NBA; Foto 3: Matthew Stockman / Getty Images)