PRÉVIA NBA 2023-24: Memphis Grizzlies
Depois de excelente campanha na temporada regular e queda precoce nos playoffs, equipe se reforçou com jogadores experientes e anseia por recuperação de Ja Morant
O Memphis Grizzlies vive, atualmente, uma situação relativamente recorrente nos esportes americanos. Apesar de contar com um elenco jovem, o sucesso recente da equipe e a ascensão meteórica de Ja Morant aumentaram consideravelmente as expectativas sobre a franquia do Tennessee, tornando-a refém do próprio êxito. Depois de uma campanha empolgante na última temporada regular, a queda precoce nos playoffs pareceu ligar um sinal de alerta. Em meio às polêmicas de Ja, os Grizzlies se reforçaram em busca de maior sucesso na pós-temporada.
Memphis terminou a temporada regular de 2022-23 na segunda posição da Conferência Oeste, com 51 vitórias e 31 derrotas. Contudo, o sonho de um título inédito teve fim já na primeira rodada dos playoffs. Nem mesmo a vantagem do mando de quadra foi capaz de fazer com que a equipe evitasse a derrocada diante do Los Angeles Lakers, que expôs os principais problemas do time em ambos os lados da quadra, na série que terminou em 4 a 2 para os angelinos.
Dillon Brooks foi extraoficialmente eleito como o principal vilão da eliminação. O polêmico ala inflamou e protagonizou um duelo individual contra LeBron James, que não só saiu vitorioso como dizimou a moral do canadense. A frustração pelas atuações do camisa 24 foi tamanha que, logo após a eliminação, jornalistas estadunidenses já noticiavam a falta de interesse dos Grizzlies na renovação de seu contrato. As declarações não se sustentaram no jogo, e Brooks terminou por assinar com o Houston Rockets na free agency.
O drama dos Grizzlies não terminou com o fracasso nos playoffs. Em meados de maio, Morant apareceu portando uma arma de fogo, em transmissão ao vivo realizada nas redes sociais. A situação foi reincidente, e não passou batida por Adam Silver. O armador foi punido com 25 jogos de suspensão, que serão cumpridos na temporada que se aproxima. A decisão foi confirmada apenas em junho, após o término das finais entre Denver Nuggets e Miami Heat.
Com o cenário de Morant parcialmente resolvido, Memphis voltou suas atenções à busca por reforços no mercado. O principal deles é um nome que, em teoria, tem tudo a ver com a famosa “identidade” construída pela franquia: Marcus Smart. Em um movimento um tanto quanto surpreendente, o armador foi envolvido na troca que levou Kristaps Porzingis ao Boston Celtics, e chega ao Tennessee como uma âncora defensiva, que pode e deve suprir a ausência de Brooks.
Conhecido pela dedicação e empenho facilmente perceptíveis em quadra, Smart se tornou um dos líderes do elenco celta, além de um dos melhores defensores de perímetro do basquete atual. Ele recebeu o prêmio de defensor do ano (raramente vencido por armadores) em 2021-22, e se encaixa perfeitamente no estilo “grit and grid” (coragem e esforço, em tradução livre), criado pelo histórico elenco formado por Mike Conley, Tony Allen, Zach Randolph, Marc Gasol, entre outros. O slogan foi abraçado pela torcida, e denota as qualidades necessárias para fazer parte da franquia, buscando sempre a demonstração de raça e determinação em quadra.
Obviamente, um jogador do calibre de Smart não chegaria de graça. Memphis abriu mão de duas escolhas de Draft de primeira rodada, e de Tyus Jones – para muitos o melhor armador reserva da liga. Depois de quatro anos nos Grizzlies, Jones ruma ao Washington Wizards com a esperança de se tornar titular. Outra contratação que deve impactar no elenco é a do experiente Derrick Rose.
O armador deixou o New York Knicks como free agent e assinou com Memphis por dois anos. Vencedor do prêmio de MVP em 2011, Rose pode ser importante não só nas quadras, para suprir a ausência de Ja, mas também atuando como um mentor do jovem, que busca dias mais tranquilos na próxima temporada. O próprio estilo de jogo de Morant se assemelha com o do veterano. Antes de ser atrapalhado pelas lesões, Rose se destacava pelo atleticismo, agressividade em direção à cesta e qualidade ímpar na finalização de jogadas.
Além das transações citadas, a equipe conta com a chegada do ala-pivô de 18 anos G.G. Jackson, selecionado na segunda rodada do Draft de 2023. Entre as saídas está a do armador Kennedy Chandler.
Em quadra, especialmente durante a temporada regular, o time teve um desempenho formidável. A fortíssima defesa fez com que Memphis terminasse com o terceiro melhor rating defensivo (pontos cedidos a cada 100 posses de bola), além da segunda melhor média de roubos de bola (8,3), a quarta melhor de rebotes defensivos (34,6), a segunda em tocos (5,8), a sexta de turnovers forçados (15,1) e a quinta em pontos cedidos no garrafão (47,5). A equipe também permitiu a menor média de aproveitamento nos arremessos de quadra aos adversários (45,3%).
Os excelentes números conferiram a Jaren Jackson Jr. seu primeiro prêmio de melhor defensor da temporada. O ala-pivô ainda figurou no primeiro quinteto ideal de defesa e liderou a liga em tocos por jogo (3,0). Brooks foi premiado com a seleção para o segundo quinteto ideal de defesa.
A única fraqueza (se é que assim pode ser chamada) demonstrada pela fortaleza defensiva dos Grizzlies, liderada por Jackson, Brooks e Steven Adams, foram os pontos de contra-ataque. O time foi o pior no quesito durante os playoffs, cedendo uma média de 17,3 pontos por jogo. As transições rápidas foram muito bem exploradas pelos Lakers, e são o principal ponto a ser corrigido para a próxima campanha.
O ataque, por outro lado, não foi tão espetacular quando a defesa, mas, também esteve acima da média. Memphis terminou com o 11° melhor rating ofensivo (pontos marcados a cada 100 posses de bola). Curiosamente, o calcanhar de aquiles da equipe na defesa é justamente a principal virtude ofensiva: os pontos de contra-ataque, situação em que Morant é praticamente imparável. Com uma equipe jovem e veloz, os Grizzlies tiveram a segunda melhor média de pontos no quesito (18). Nas ações de meia quadra, contudo, não foram dos mais produtivos, por muitas vezes dependente das infiltrações de Ja e de arremessos difíceis de Desmond Bane.
A tendência é que o sucesso da equipe, a longo prazo, passe pela volta de Ja Morant. Na temporada passada, o jovem foi selecionado para seu segundo All-Star Game consecutivo. Foram 26,2 pontos de média, além das melhores marcas da carreira em assistências (8,1) e rebotes (5,9) por jogo. A suspensão do armador terá fim apenas em 19 de dezembro, quando os Grizzlies enfrentam o New Orleans Pelicans fora de casa.
A ausência da principal estrela com certeza será sentida pela equipe. Mas, a boa notícia para os torcedores de Memphis é que o retrospecto sem o armador na última temporada foi positivo, com 11 vitórias e dez derrotas. Muito desse sucesso se deve ao ótimo desempenho de Tyus Jones, mas, com um elenco completo e em desenvolvimento constante, espera-se que os Grizzlies se mantenham competitivos mesmo sem o camisa 12.
Jackson Jr. e Bane fecham o ‘big three’ da franquia. O ala-pivô vem de seu melhor ano na liga. Suas médias de 18,6 pontos, 6,8 rebotes e três tocos foram os melhores da carreira. Seu impacto defensivo é incontestável. Ofensivamente, vem contribuindo cada vez mais. Uma leve melhora no aproveitamento de perímetro pode desafogar (e muito) o ataque. Jackson também precisa estar atento ao seu problema com faltas (foi o segundo jogador que mais cometeu infrações na última temporada).
Bane é outro que registrou as melhores médias da carreira em 2022-23. Foram 21,5 pontos, cinco rebotes e 4,4 assistências. O aproveitamento das bolas de três, principal trunfo do ala-armador, caiu de 43,6% para 40,8%, mas continua ótimo. Apesar de alguns jogos perdidos por lesão, foi parte fundamental do sucesso da equipe.
O restante da rotação, em geral, também é de grande qualidade. Steven Adams é um dos pilares do elenco. Parece o complemento perfeito a Jackson Jr. no garrafão, e agrega uma liderança necessária a um plantel jovem. Com a saída de Brooks e a suspensão de Ja, a posição de ala é, aparentemente, a mais aberta do quinteto titular. O jovem Ziaire Williams é um bom candidato. De ótima estatura, pode ganhar mais protagonismo. O europeu John Konchar também deve estar na briga, assim como Luke Kennard, dono do melhor aproveitamento do perímetro na temporada passada, com 54% (!), mas que apresenta deficiências defensivas.
O garrafão também tem boas opções de banco. A principal delas, Brandon Clarke, perdeu o fim da última temporada após o rompimento do tendão de Aquiles, e sua recuperação deve levar mais alguns meses. Xavier Tillman foi o substituto nos playoffs, e apresentou desempenho melhor que o esperado. O jovem espanhol Santi Aldama também pode ganhar minutos e se desenvolver.
A chegada de Smart mantém ou, possivelmente, eleva o patamar da já excelente defesa da franquia. No ataque, ainda existem melhorias a serem pensadas pelo treinador Taylor Jenkins, que vai para sua quarta temporada no comando do time. Talento à disposição ele tem de sobra. Em um Oeste muito competitivo, Memphis possui as ferramentas necessárias para viver uma excelente campanha. A ver como vai se desenrolar a situação de Ja Morant.
(Foto: Reprodução Twitter/Memphis Grizzlies)
Principais chegadas: Marcus Smart e Derrick Rose
Principais saídas: Dillon Brooks e Tyus Jones
Ponto forte: A defesa, ancorada em Jaren Jackson Jr., Steven Adams e, agora, Marcus Smart. Uma unidade capaz de parar até mesmo os melhores ataques da liga.
Ponto fraco: A instabilidade recente de Ja Morant. A equipe deve sentir sua ausência nos 25 jogos iniciais, e depende de boas escolhas do armador dentro e fora das quadras para cumprir as expectativas criadas.
Campanha em 22-23: 51-31 (segundo lugar do Oeste)
Provável quinteto: Ja Morant, Marcus Smart, Desmond Bane, Jaren Jackson Jr., Steven Adams
Franchise player: Ja Morant
Sexto homem: Luke Kennard
Head coach: Taylor Jenkins
Briga por: Mando de quadra nos playoffs