PRÉVIA NBA 2022-23: Atlanta Hawks
Com uma das piores defesas e o segundo melhor ataque da liga na última temporada, Hawks se reforçaram em busca do equilíbrio
Em 2021, quando o Atlanta Hawks forçou o futuro campeão da temporada, Milwaukee Bucks, a seis jogos na final da Conferência Leste, esperava-se uma mudança de patamar da equipe na temporada 21-22. Hoje, a conclusão óbvia é que os Hawks deram um passo maior que a perna. Com uma campanha oscilante, a franquia não conseguiu sequer se classificar diretamente aos playoffs, terminando no nono lugar. Atlanta deu sinais de que, mesmo com um núcleo jovem, já havia atingido seu teto. Por isso, a direção não hesitou em fazer mudanças.
A temporada passada terminou cedo para os Hawks. Em meados de janeiro, na metade da temporada regular, Atlanta contava com 17 vitórias e 24 derrotas. A arrancada final teve uma sequência de sete vitórias, confirmando a classificação ao play-in. Depois de vencer Charlotte Hornets e Cleveland Cavaliers, garantindo a oitava posição do Leste, a equipe não ofereceu resistência ao Miami Heat, eliminada por 4 a 1 na primeira rodada.
Muito por conta do desempenho da principal estrela, Trae Young, a defesa foi o ponto fraco dos Hawks na campanha frustrada. A baixa estatura do armador – para os padrões da NBA – e a fragilidade física fizeram de Young um alvo fácil para os adversários. Esse aspecto contribuiu para que a equipe terminasse a temporada regular como a quinta pior defesa da liga.
Além disso, foi a sétima equipe que mais cedeu tentativas certeiras, e a décima que mais sofreu com bolas do perímetro. A defesa no garrafão foi um problema menor. Clint Capela é um protetor de aro reconhecido, e John Collins tem seus momentos como defensor. Os Hawks ficaram entre os 15 times que menos cedeu rebotes ofensivos aos adversários, apesar de terem sido o 11° que mais tomou pontos no garrafão.
Podemos entender melhor a deficiência defensiva de Trae nas estatísticas pessoais. O camisa 11 teve um rating defensivo (pontos cedidos a cada 100 posses) de 117,8. Clint Capela registrou, nesse aspecto, 109,3. De qualquer forma, os números servem apenas para traduzir que, coletivamente, a defesa dos Hawks não funcionou.
Se a defesa foi a principal causa do fracasso, o ataque de Atlanta foi avassalador. Aqui, Trae teve papel fundamental. Enquanto esteve em quadra, a maioria esmagadora das jogadas ofensivas do time passaram pela mão do armador, que foi o quarto maior pontuador da liga em média (28,4) e o primeiro em pontos totais (2.155). Não apenas um exímio finalizador de jogadas, capaz de criar seu próprio arremesso e com um alcance acima da média nas bolas de três, Young foi também o terceiro melhor passador da temporada, com 9,7.
O elenco de apoio também foi efetivo no ataque. Atlanta teve incríveis nove jogadores ultrapassando a média de dez pontos por jogo, com destaque para Collins (16,2), Bogdan Bogdanovic (15,1) e De’Andre Hunter (13,4). Capela teve média de double double, com 11,1 pontos e 11,9 rebotes (quarto melhor da temporada regular).
Por todos os fatores citados acima, ficou evidente que o principal problema da franquia da Georgia foi o lado defensivo da quadra. Isso explica as movimentações desta offseason, quando Landry Fields (general manager) e Dwight Lutz (presidente de operações) optaram por buscar jogadores com características defensivas.
Entre as transações, o nome de mais destaque é o de Dejounte Murray. O ex-jogador do San Antonio Spurs foi trocado para os Hawks no final de junho. Os texanos receberam Danilo Gallinari, três escolhas de Draft de primeira rodada e a opção de trocar de escolha com Atlanta em 2026.
A movimentação é crucial para entender as ambições dos Hawks para o futuro, em vários sentidos. Primeiro, como uma tentativa de resolver a situação mais emergencial do time, citada tantas vezes neste texto: a dificuldade de Trae na defesa. Desde que entrou na liga, em 2016, Murray se mostrou um excelente defensor de perímetro. Em 2021-22, anotou um rating defensivo de 108,5, figurando entre os melhores armadores no quesito.
Outro ponto em que Murray melhora na defesa de Atlanta é a agressividade. Enquanto a equipe foi a nona pior em roubos de bola, o armador liderou a liga na média de steals, com 2,0 por jogo. Seu desempenho já lhe rendeu uma seleção para o time ideal de defesa da liga, em 2017-18.
Com todo esse currículo, já chega como o melhor defensor de perímetro dos Hawks, sendo capaz de marcar, todas as noites, o melhor jogador do backcourt adversário. A presença dele também diminui muito o envolvimento defensivo de Trae, e uma das tarefas do novo companheiro será a de evitar que o camisa 11 seja tão explorado. De’Andre Hunter, também bom defensor, deve mostrar ainda mais qualidade podendo marcar outras opções ofensivas em quadra.
Se engana quem pensa que o ganho com a chegada de Murray será apenas defensivo. Na última temporada, sua quinta na liga, o jovem teve sua temporada de explosão, como os estadunidenses costumam definir. Sua média de pontos subiu em mais de cinco, em relação à temporada anterior, registrando 21,1. Liderou os Spurs também em assistências, com 9,2 por jogo, e foi o segundo em rebotes (8,3). Recompensado com sua primeira seleção para o All-Star Game, o armador precisa melhorar o aproveitamento de três pontos, que foi de 32,7% no último ano.
Além de Murray, chegaram aos Kings os irmãos Aaron e Justin Holiday, boas peças para compor o elenco, e também Frank Kaminsky, pivô que viveu bons momentos com o Phoenix Suns recentemente. Vit Krejci, Tyrese Martin e Trent Forrest chegam para completar a rotação.
Entre as saídas, a mais sentida é a de Kevin Huerter. O ala-armador se mostrou um defensor competente e uma boa opção de ataque. A chegada de Murray, entretanto, limitaria os minutos do jovem, trocado ao Sacramento Kings. Gallinari também é uma perda a ser considerada, mas as várias lesões do italiano não devem fazer com que a torcida sinta sua falta.
Lou Williams foi mais um a deixar os Hawks ao fim do contrato, já longe de seus melhores dias. Delon Wright, Timothe Luwawu-Cabbarrot, Gorgui Dieng, Kevin Knox, Skylar Mays e Sharifee Cooper seguiram o mesmo caminho do veterano. Pelo Draft, a equipe selecionou o ala-armador A.J. Griffin, de Duke, também com virtudes defensivas.
Mesmo com as trocas já realizadas, não é possível cravar que as grandes movimentações dos Hawks já estão encerradas para a temporada. John Collins foi, novamente, alvo de diversos rumores de troca nesta offseason. O principal rumor é de que a franquia havia inclusive feito pesquisas sobre o valor do ala-pivô no mercado. Com Onyeka Okongwu pedindo passagem, outro que tem o futuro ameaçado é Capela.
As mudanças devem garantir um Atlanta Hawks mais forte para a nova temporada. A defesa deve ter melhora instantânea, até porque, não parece ter margem para piora. Apesar de significar pouco em termos práticos, o primeiro jogo de pré-temporada da equipe já marcou um resumo que os torcedores esperam que vire rotina: vitória sobre os Bucks com grande atuação de Murray.
(Foto: Reprodução Twitter/Atlanta Hawks)
Principais chegadas: Dejounte Murray, Justin Holiday, Aaron Holiday e Frank Kaminsky
Principais saídas: Kevin Huerter, Danilo Gallinari, Lou Williams e Delon Wright
Ponto forte: A nova dupla de armadores dos Hawks é, talvez, ao lado da nova dupla do Cleveland Cavaliers (Darius Garland e Donovan Mitchell), uma das mais empolgantes da liga. Tanto Trae (24) quanto Murray (26) são muito jovens, e devem garantir o sucesso do backcourt de Atlanta por alguns anos. Além da melhoria defensiva já explicada, a chegada de Murray deve aumentar o leque de opções ofensivas da equipe, com o novo armador podendo passar algum tempo com a bola na mão, sendo mais uma opção para o já letal pick’n roll com Collins ou Capela, e permitindo a movimentação de Trae sem a bola, podendo proporcionar cortes para a cesta e, principalmente, bolas de três livres ao camisa 11. A troca por Murray ainda diz muito sobre os planos dos Hawks, que parecem determinados a buscar conquistas já no presente.
Ponto fraco: Elenco. As melhores opções do banco são Bogdanovic – que ainda se recupera de lesão do joelho e deve perder o início da temporada – e Okongwu. As outras posições não contam com substitutos que possam manter (mesmo que em menor escala) o nível dos titulares, e isso pode ser um fator determinante no longo calendário da NBA, especialmente se os Hawks sofrerem com lesões.
Campanha em 2021/22: 43-39 (nono lugar na Conferência Leste)
Provável quinteto: Trae Young, Dejounte Murray, De’Andre Hunter, John Collins e Clint Capela
Franchise player: Trae Young
Sexto homem: Bogdan Bogdanovic
Head coach: Nate McMillan (terceiro ano nos Hawks)
Briga por: Vaga direta nos playoffs.
(Foto: Kevin C. Cox/Getty Images)