Jogadores da NBA repudiam atos antidemocráticos no Capitólio
Jayson Tatum, Kyle Lowry, Draymond Green e Jaylen Brown usaram os microfones para falar sobre racismo e democracia
Os atos de manifestantes pró-Trump da quarta-feira (06) chamaram a atenção do noticiário americano e mundial e, por consequência, foram temas de entrevistas de jogadores da NBA também. A maneira como os policiais reagiram aos protestos, de maneira mais branda que em relação aos do movimento ‘Black Lives Matter’, foi o grande objeto de reclamação dos atletas.
“Eu simplesmente sinto que a mesma energia deve ser mantida quando vemos nosso povo protestando pacificamente por coisas que vemos, nosso povo sendo assassinado na TV, ao vivo e em vídeos. E eles estão protestando contra o Capitólio, ou revoltando o Capitólio por perder uma eleição. São duas coisas diferentes. E eu quero que a mesma energia na TV seja, você sabe, ‘eles são bandidos’ e ‘eles são criminosos’, os mesmos termos que eles usam quando veem nosso povo protestando por perder nossas vidas. Acho que é maior do que o basquete, é maior do que o jogo de hoje”, Jayson Tatum, estrela dos Celtics, falou aos repórteres após jogo de ontem.
O Boston Celtics venceu o jogo contra o Heat, no entanto a partida esteve próxima de não acontecer devido ao momento caótico do país. Brad Stevens, treinador da equipe, disse que 30 minutos antes da bola subir chegou a falar para sua mulher que achava que o jogo não ocorreria. Porém, em comum acordo com o Heat, os jogadores optaram por realizar o embate – que seria televisionado em rede nacional – para levantar pautas raciais, como a situação envolvendo Jacob Blake. Inclusive, um comunicado foi postado nas redes sociais que dizia: “2021 é um novo ano, mas algumas coisas não mudaram. Jogamos o jogo desta noite com o coração pesado depois da decisão de ontem em Kenosha, e sabendo que os manifestantes na capital do nosso país são tratados de forma diferente pelos líderes políticos, dependendo de que lado de certas questões eles estão”.
Outro importante jogador de Boston, Jaylen Brown, já conhecido pela liderança em movimentos antirracistas também se manifestou.
“Em um país, você morre dormindo no carro, vendendo cigarros ou brincando no quintal. E então, em outra América, você consegue invadir o Capitólio e sem gás lacrimogêneo, sem prisões em massa, nada disso. Então eu acho que é óbvio, é 2021, não acho que nada mudou. Queremos ainda reconhecer isso. Queremos continuar pressionando pela mudança que procuramos. Mas até agora, não vimos isso. Queremos continuar a manter as conversas vivas e fazer a nossa parte”, afirmou.
Jogadores de outras equipes também usaram os microfones para falar sobre os episódios. Um deles foi Kyle Lowry, experiente armador do Toronto Raptors, que também jogou na quarta-feira e fez críticas diretas ao ainda presidente Donald Trump.
“Eu estava lendo… havia quatro mortos depois que os desordeiros invadiram o Congresso. E o homem que era presidente, como ele disse a eles para fazer isso. Esse homem é um criminoso, como ele deveria ser acusado. Você basicamente disse a eles para irem fazer isso, e as pessoas morreram. (…) O fato de que as pessoas basicamente puderam entrar e assumir um prédio federal… se fossem pessoas de cor, a situação seria totalmente diferente” concluiu.
“Isso não é um protesto, é um ataque terrorista. Pare de usar a mesma palavra, é desrespeitoso. É ridículo e é vergonhoso continuar a chamá-los de manifestantes”, falou Draymond Green, do Golden State Warriors.
Doc Rivers, treinador do Philadelphia 76ers, também opinou sobre o caso: “É muito perturbador, obviamente. Triste. Mas o que não é, e que continuo ouvindo, é que se trata de um ataque à democracia. Não é. A democracia vai prevalecer. Sempre prevalece. Direi isso porque acho que muita gente não queira. Você pode imaginar hoje, se todos aqueles fossem negros invadindo o Capitólio, e o que teria acontecido? Isso, para mim, é uma foto, isso vale mais que mil palavras para todos nós vermos”.
Decisão da justiça também foi alvo de protestos
Além dos ataques ao Capitol, outro fato incomodou muito os jogadores. Na terça-feira, o promotor do condado de Kenosha, no Wisconsin, optou por não apresentar denúncia contra o policial que disparou sete vezes nas costas de Jacob Blake no ano passado.
“O que aconteceu em Kenosha com o policial não sendo acusado é apenas uma espécie de tapa na cara dos negros em todo o mundo”, disse Lowry.
Foto: Miami Heat/Twitter