Horace Grant diz que Michael Jordan mentiu e foi ‘dedo-duro’ em ‘The Last Dance’
O ex-companheiro de MJ no Chicago Bulls soltou o verbo e discordou das acusações feitas pelo astro no documentário
Horace Grant venceu três títulos da NBA ao lado de Michael Jordan no Chicago Bulls, mas claramente eles não possuem um bom relacionamento hoje. Após o término do documentário “The Last Dance”, reproduzido pela Netflix e a ESPN americana, Grant simplesmente “soltou o verbo” contra o ex-companheiro e reagiu de forma incisiva às acusações do astro de que ele vazava informações do vestiário.
Em entrevista realizada nesta terça-feira (19) para Kap and Co., da rádio ESPN 1000, em Chicago, Grant discordou veementemente de Jordan de que ele seria o principal informante do livro The Jordan Rules, de Sam Smith, que conta bastidores da primeira conquista da franquia de Illinois em 1991, trazendo um lado mais “severo” do ex-camisa 23.
“Como afirmei a todos, isso é uma mentira direta, direta e completa. Mentira, mentira, mentira”, garantiu Grant sobre as acusações de Jordan. “E como afirmei, se MJ tiver algum ressentimento comigo, vamos falar sobre isso ou podemos resolver de outra maneira. Mas ainda assim, ele sai e diz que eu era a fonte. Eu e Sam sempre fomos grandes amigos. Nós ainda somos grandes amigos. Mas o vestiário é sagrado, eu nunca colocaria nada pessoal para fora. O fato é que Sam Smith é um repórter investigativo e ele precisa ter suas fontes para escrever um livro, por que MJ apenas me indicou? É apenas um homem de rancor, estou lhe dizendo”.
“É apenas um rancor, cara. Estou lhe dizendo, foi apenas um rancor. E acho que ele provou isso durante o ‘suposto’ documentário. Quando você diz algo sobre ele, ele vai te cortar, ele vai tentar destruir seu personagem”, completou.
O ex-jogador do Orlando Magic, seu destino após sair dos Bulls em 1994, observou também que alguns dos relacionamentos mais próximos de Jordan se deterioraram ao longo dos anos e mencionou o caso com Charles Barkley.
“Quero dizer, Charles Barkley, eles são amigos há mais de 20, 30 anos e ele disse algo sobre a gestão de Michael no Charlotte Hornets e eles não conversaram mais desde então”.
Além disso, ele disse que MJ foi “dedo duro” quando revelou, na série, supostos consumos de drogas de seus companheiros de time na sua temporada de estreia na NBA.
“Ele disse que eu era o informante, mas, mesmo assim, depois de 30, 35 anos, ele inicia seu ano de estreia entrando no quarto de um de seus companheiros de equipe e vendo cocaína, maconha e mulheres. Por que diabos ele quis revelar isso no documentário?” O que isso tem a ver com alguma coisa? Quero dizer, se você quer chamar alguém de ‘dedo duro’, isso é ser um ‘dedo duro'”.
O ex-ala-pivô afirmou ainda que o documentário não mostrava muitos colegas de equipe “batendo de frente” com o astro durante suas duras cobranças nos treinos.
“Eu diria que foi divertido, mas nós que estávamos lá como companheiros de equipe sabemos que cerca de 90% daquilo era m… em termos de verdade”, iniciou Grant, que completou: “Não era real, pois muitas coisas [Jordan] disse para alguns de seus colegas de time, que responderam a ele depois. Mas tudo isso foi meio que editado no documentário, se você quiser chamá-lo de documentário”.
Na sequência, ele continuou explicando sobre os “assédios” de Michael contra seus colegas e confessou que o comportamento de Jordan às vezes ultrapassava os limites.
“Jordan achava que poderia me dominar, mas estava tristemente errado. Porque sempre que ele vinha para cima de mim, eu devolvia. Mas, em termos de Will Perdue, Steve Kerr e o jovem Scott Burrell, isso foi comovente [assistir]. Ver um cara, um líder, agir assim com aqueles caras. Eu entendo que para treinar você tem que incentivar aqui e lá, mas socos e coisas dessas natureza e xingar todos, isso não era necessário”.
Entre outros assuntos, Horace Grant aproveitou para defender Scottie Pippen das criticas, após ele se recusar a entrar em quadra pelo Chicago em um jogo de playoff de 1994 e valorizou a sua importância para o time.
“Eu nunca vi um depoimento de alguém falando de outro ser tão mal retratado quanto esse de Scottie Pippen. Em termos da dor de cabeça, do 1,8 segundo (do jogo de playoff de 1994 que ele se recusou a entrar em quadra), Jordan chamando ele de egoísta. Eu nunca vi isso na minha vida. E com todo respeito, Pip estava lá no jogo 6 das finais de 1998 (contra o Utah Jazz), mal conseguia andar, com dores nas costas. Tentou de tudo para ajudar o time. Meu ponto é: ‘por que esse 1,8 segundo estava no documentário?’. MJ nem estava naquele time. Pippen sabe que estava errado, mas nós fomos atrás do jogo ainda”, recordou Grant, que teve média de 11,2 pontos em 17 anos na liga.
Ele abordou ainda que a última vez que conversou com Jordan foi há cerca de três anos, em algumas mensagens de texto sobre golfe. Ele deixou claro que acha que eles seriam respeitosos um com o outro pessoalmente, mas ele não está preocupado se o relacionamento vai prosseguir, após suas manifestações.
“Jordan me enviou um par de tênis autografados para uma das minhas instituições de caridade”, revelou Grant. “Eu não entendo. Se ele tivesse alguma diferença comigo, ele poderia me mandar uma mensagem de texto, o que ele quiser. Mas se eu encontrá-lo hoje, esperamos que tenha um respeito mútuo, porque passamos por três campeonatos juntos. Mas, se não, acredite, não vou perder o sono por isso”.
Para terminar, Grant foi perguntado o motivo pelo qual ele se referia a “The Last Dance” como um “suposto” documentário. Alguns apontaram o fato de que Estee Portnoy e Curtis Polk, dois dos confidentes mais próximos de MJ, foram os produtores executivos da série e isso poderia ser uma indicação de que o ex-camisa 23 tinha a palavra final e controle criativo sobre o projeto.
O diretor da produção Jason Hehir negou essas críticas, mas Horace Grant não hesitou em manifestar seu ponto de vista sobre o assunto e reafirmou que o documentário estava inclinado em favorecer Michael Jordan.
“Quando o ‘suposto’ documentário é sobre uma só pessoa, basicamente, e ele tem a última palavra sobre o que será divulgado… não é um documentário”, afirmou ele. “É a narrativa dele do que aconteceu na ‘última dança’. Não é um documentário, porque um monte de coisas foi cortado e editado. É por isso que eu o chamo de ‘suposto’ documentário”, finalizou o ex-atleta.
(Foto: Jonathan Daniel / Freelancer / Getty Images)