Recordista de triplas, Paulo Orlando diz que walk-off grand slam é a ‘melhor sensação do mundo’
Em entrevista exclusiva, brasileiro do Kansas City Royals fala sobre expectativa antes da volta e reações após jogada histórica
Paulo Orlando não precisa mais de apresentações. Recordista de rebatidas triplas para um rookie na história da MLB (3 nas 3 primeira partidas; e 5 nos primeiros 7 jogos), o terceiro brasileiro nas Grandes Ligas voltou a ser o destaque do Kansas City Royals.
Chamado de volta do afiliado de Triple-A Omaha Storm Chasers na última segunda-feira, 6, o jogador de campo externo anotou nada menos do que um walk-off grand slam em sua primeira partida de retorno, no dia seguinte. Os primeiros walk-off home run e grand slam da carreira do jogador.
Na manhã da reestreia apoteótica, o The Playoffs realizou uma entrevista exclusiva com o Tripleman. O outfielder respondeu sobre suas expectativas no retorno, a relação com técnico Ned Yost e até se já ele já tinha ouvido uma de suas triplas com narração em português. Esse material iria ao ar junto com a matéria sobre o jogo contra o Tampa Bay Rays. Porém, a incrível rebatida nos obrigou a segurar o texto e buscar a reação de Paulo Orlando após sua jogada histórica.
ANTES DO WALK-OFF GRAND SLAM
The Playoffs: Quando Ned Yost te tirou do time pela primeira vez, em maio, ele próprio disse que não era justo. O técnico teve uma conversa contigo no retorno?
Paulo Orlando: Não tivemos nenhuma conversa longa, só as boas vindas.
TP: Dessa vez você está no roster no lugar de um jogador de outra posição, um arremessador. Você acha que esse pode ser o retorno definitivo? Ainda mais com o técnico dizendo que precisa descansar os titulares.
3PO: Estou sujeito a movimentos a qualquer momento, mas espero dar meu melhor, ajudar o clube e permanecer até o final da temporada. O time no momento está focado em manter os jogadores saudáveis, e com isso precisa de atletas extras nas posições de defesa. Ainda temos muitos jogos pela frente.
#Royals have recalled OF Paulo Orlando from Triple-A and designated RHP Jason Frasor for assignment.
— #VoteMoose (@Royals) 6 julho 2015
TP: Qual foi seu sentimento com o convite para almoçar em Washington com a Presidente do Brasil Dilma e o vice norte-americano Joe Biden?
3PO: Foi legal receber o convite do vice-presidente Biden e ver que a presidente do nosso país tem um laço de amizade com ele. Fomos muito bem recebidos! Este evento me faz acreditar que o beisebol vai ser um esporte muito grande no Brasil. Será fundamental ter essa relação saudável entre Brasil e EUA para, quem sabe no futuro, termos muitas academias para que jovens em todo Brasil possam jogar o esporte.
TP: Quantas rebatidas triplas você projeta para o retorno?
3PO: Não planejo somente dar rebatidas triplas. Estou aqui para ajudar o time em qualquer situação, seja na defesa ou correndo nas bases. Se saírem rebatidas triplas, melhor ainda.
TP: Você empolgou demais o torcedor de Kansas City com as rebatidas triplas e o bom momento que viveu. O que mudou de lá pra cá com relação a imprensa americana e o torcedor?
3PO: Na verdade, o time está proporcionando essa euforia para os torcedores. Minhas rebatidas foram importantes em determinados momentos. Agora é uma nova oportunidade e espero seguir ajudando a franquia nas vitórias.
TP: Muito se fala que a MiLB não visa a conquista de títulos. É esse o clima lá mesmo?
3PO: Para mim é um aprendizado diário quando jogamos nas ligas de acesso. Claro que com muitos movimentos de jogadores o time perde um pouco o conjunto, mas a vontade de jogar e ganhar os jogos é a mesma nas duas ligas. A busca por títulos é um pouco diferente por causa das regras de jogo e sempre estamos focados em chegar nas grandes ligas.
TP: Todos brigam por um lugar no time. Há rivalidade entre os jogadores ou não?
3PO: Todos somos profissionais. Nesse aspecto não podemos controlar situações que os chefes fazem ou deixam de fazer. Nós, jogadores, buscamos viver dia a dia em um clima agradável, procurando um ajudar ao outro. Porém, não são todos que veem assim, infelizmente.
TP: Quando o jogador sobe dos afiliados, ele precisa de um tempo para se acostumar com a mudança de liga?
3PO: A mudança é mais fora do campo, porque o jogo é o mesmo. Os jogos dos afiliados é uma preparação tanto parte física e psicológica. A popularidade das grandes ligas que é imensa. Tratamos de controlar as emoções e fazer o mesmo que vínhamos fazendo nos afiliados.
TP: Você chegou a ver alguma rebatida sua com narração brasileira? Se sim, o que sentiu?
3PO: Ainda não ouvi nenhuma narração em português. Legal se for um home run, a melhor sensação do jogo. A hora em que o jogo para e a atenção está toda em você.
DEPOIS DO WALK-OFF GRAND SLAM
Após ceder o empate na parte de cima da nona entrada, o Kansas City Royals teria mais um turno para tentar vencer a partida. Então, o arremessador do Tampa Bay Rays, Brad Boxberger, possibilitou uma situação de bases lotadas a Paulo Orlando. Foi então que, com contagem de uma bola e nenhum strike, o brasileiro rebateu um change up de 87 MPH (140 KPM) acima do muro do campo esquerdo.
Ainda na beira do campo, Paulo Orlando concedeu entrevista a Joel Goldbergh, da FOX Sports Kansas City. Quando perguntado sobre o sentimento de rebater um walk-off grand slam, Orlando lembrou da entrevista que dera ao The Playoffs um dia antes (acompanhe a cena na marca de 1min 52 seg do vídeo abaixo).
Joel Goldbergh: Lembra quando você costumava rebater muitas triplas? Agora, é “Senhor Grand Slam”.
3PO: É bem melhor, não é? Não preciso correr muito. Eu falei com um repórter no Brasil e ele perguntou se eu já tinha ouvido alguma tripla minha com narração em português. Mas eu disse que era melhor se fosse um home run, que aí eu tenho mais tempo para falar em português.
The Playoffs: Como foi a sensação do walk off grand slam nesta terça? Foi o momento mais especial da sua carreira até agora?
Paulo Orlando: Com certeza não tem sensação melhor do que um walk-off grand slam! Antes de ir rebater, só pensei em mandar um fly ball para dar chance ao corredor da terceira base anotar o ponto e ganharmos o jogo. E a bola continuou indo para o fundo e celebramos em grande estilo, que só esse esporte mesmo oferece.
TP: Acha que esse lance pode dar moral pra não sair mais do time?
3PO: Então, o trabalho continua. Eu sei o meu lugar no time nesse momento. Só espero a oportunidade e ajudar o time a sair com vitórias. E deixo para os chefes verem o que é melhor para o time chegar à meta, que é disputar as finais de novo.
TP: Como foi a conversa e comemoração com a família após a atuação? E com o elenco?
3PO: Minha família estava acompanhando o jogo e como sempre passaram forças positivas. Disseram que comemoraram como uma final de Copa do Mundo, como bons brasileiros que somos! Todos muito felizes e sempre que ganhamos temos nossa maneira de jogar muita água no jogador que se destaca no jogo.
TP: Você recebeu alguma mensagem de outros jogadores brasileiros, seja da MLB ou de outros times?
3PO: Recebi mensagem do Yan Gomes e dos jogadores brasileiros que estão aqui. Inclusive, temos um grupo que jogou o Mundial de beisebol lá no Japão e sempre nos falamos por lá.
TP: Você disse que não teve nenhuma conversa especial com o Ned Yost. Nem depois de um walk off grand slam?
3PO: Não, ele sempre parabeniza todos do time, mesmo quem não joga. Ele deixa claro que está feliz com o elenco que tem.