Jogadores querem mais partidas em temporada da MLB
Atletas criticaram polêmica proposta da MLB para cortes salariais e não há prazo para resposta
A Major League Baseball parecia ter dado um novo passo na tentativa de iniciar a temporada regular, afetada (assim como todos os campeonatos ao redor do mundo) pela pandemia causada pelo coronavírus. Nesta terça-feira (26), a associação de jogadores (MLBPA) finalmente ouviu a proposta da MLB em relação ao aspecto financeiro e as perdas que o adiamento e encurtamento da temporada 2020 trarão. No entanto, esse passo pode ter levado a uma nova parada, pois a dura proposta irritou os jogadores.
O plano é escalonado, retirando mais dos jogadores com maiores salários e beneficiando os atletas que ganham menos. Um esquema de níveis seria utilizado, semelhante ao INSS (taxas variáveis para cada parte do salário) e, por meio dele, após ajustar os contratos ao pro-rata de 82 jogos (metade mais um da temporada ‘tradicional’ de 162 partidas), os principais atletas abririam mão de 70% ou mais dos vencimentos, enquanto aqueles com menores salários, normalmente calouros e jogadores que ficam no vai e volta entre MLB e Triple-A, conseguiriam reter mais de 70% do pro-rata que normalmente receberiam em uma temporada.
As reações não demoraram, algo que até já era esperado, especialmente depois que Blake Snell, arremessador do Tampa Bay Rays, abriu a dissidência ao afirmar que não colocaria seu corpo em risco por um valor reduzido em 2019, citando também o risco de contaminação pelo coronavírus. Marcus Stroman, pitcher do New York Mets, foi ao Twitter para se manifestar, assim como Brett Anderson, do Milwaukee Brewers, que seguiu o mesmo caminho e apontou que a proposta da MLB coloca os ídolos como possíveis vilões caso rejeitem o corte maior em seus salários do que nos de quem recebe menos.
This season is not looking promising. Keeping the mind and body ready regardless. Time to dive into some life-after-baseball projects. Hope everyone is staying safe and healthy. Brighter times remain ahead!
— Marcus Stroman (@STR0) May 26, 2020
Interesting strategy of making the best most marketable players potentially look like the bad guys
— Brett Anderson (@_BAnderson30_) May 26, 2020
De acordo com uma fonte da Associated Press, os jogadores contra-argumentarão pedindo mais jogos na temporada regular e mantendo o pedido de 100% do pro-rata acordado em março. Nesta quarta-feira (27), segundo a AP, houve uma reunião virtual entre os representantes da MLBPA, que terminou sem qualquer prazo para resposta à proposta da MLB.
A temporada regular com 82 jogos seria viável se o Opening Day ocorresse no início de julho, e uma das alternativas para aumentar o número de jogos (ou manter as 82 partidas, caso o Opening Day ocorra mais perto de agosto, por exemplo) é incluir rodadas duplas, enquanto outra seria adiar o início dos playoffs.
A própria MLBPA se manifestou, por meio de nota divulgada por Enrique Rojas, da ESPN. “A proposta envolve cortes massivos adicionais e a associação está extremamente desapontada. Também estamos distantes nos protocolos de saúde e segurança”, aponta o texto. Outro aspecto previsto na proposta, apenas a primeira do que pode ser uma longa negociação, é a definição do valor que os jogadores que disputarem os playoffs dividirão: US$ 200 milhões, sendo US$ 125 milhões para quem jogar a World Series.
O princípio básico da proposta da MLB é o seguinte: o salário mínimo de US$ 563.500 renderia um total de US$ 256.706, resultado do corte de 10% sobre o pro-rata de US$ 285.228. Na faixa entre US$ 563.501 e US$ 1.000.000, o jogador receberia 72,5% do pro-rata. Entre US$ 1.000.001 e US$ 5.000.000, 50%; de US$ 5.000.001 a US$ 10.000.000, 40%; entre US$ 10.000.001 e US$ 20.000.000, 30%, e acima de US$ 20.000.001, 20%.
A conta é complexa, mas um bom exemplo trazido pela ESPN é o de Mike Trout: ele tem salário-base (para uma temporada comum) de US$ 37.666.666 e, em cima desta proposta, levaria para casa em 2020 US$ 5.748.557, 30% do pro-rata de US$ 19.065.843 devido por 82 jogos.
Do outro lado, os executivos também contabilizam o prejuízo. Co-proprietário do Chicago Cubs, Tom Ricketts afirmou à CNBC que, se os jogos ocorrerem sem a presença de fãs, algo que parece muito provável, a expectativa é de perdas em torno de US$ 4 bilhões, pontuando que o impacto seria gigantesco, pois há casos em que os jogos representam até 70% da receita de algumas franquias. “No melhor cenário, estamos projetando recuperar talvez 20% do total das receitas. Então, este é o ponto em que estamos, e é isso que vamos discutir com os jogadores nas próximas semanas”, revelou ele.
Crédito das imagens: Reprodução/Twitter Los Angeles Angels e Reprodução Instagram/Los Angeles Angels