[ENTREVISTA] Andre Rienzo começa recuperação após cirurgia Tommy John
Em entrevista ao The Playoffs, brasileiro garante que batalhará muito para voltar à MLB após operação no cotovelo
A notícia é péssima para os brasileiros que acompanham a Major League Baseball: o arremessador Andre Rienzo passou, na sexta-feira (14), pela temida (e famosa) cirurgia Tommy John, consequência de um problema no ligamento ulnar do cotovelo direito. O brasileiro, que vinha em ótimo momento no El Paso Chihuahuas, do Triple-A, e podia ser chamado a qualquer momento para o elenco principal do San Diego Padres, perderá o restante deste ano e toda a temporada (norte-americana) de 2018.
A reportagem do The Playoffs conversou com Rienzo diretamente de Peoria, no Arizona, cidade que abriga o complexo de Spring Training dos Padres, em que o arremessador começa o processo de recuperação. De bom humor e mantendo a confiança em um retorno aos gramados dentro do prazo de 12 a 15 meses, o primeiro brasileiro a atuar como pitcher na Major League Baseball falou sobre a cirurgia, seu desempenho, os planos para o retorno e a seleção brasileira. Confira!
The Playoffs – Qual é a sua situação de momento?
Andre Rienzo – Estou remendado. Fiz a [cirurgia] Tommy John sexta-feira passada, tiraram o ligamento da minha coxa, por meio de um corte no joelho, e colocaram esse ligamento no lugar do ligamento ulnar do meu cotovelo direito. São no mínimo 12 meses para voltar a jogar, quatro meses sem pegar qualquer peso, então fortalecer o ombro é importante porque ele fica débil.
The Playoffs – Como foi a lesão? O que passou pela sua cabeça quando os médicos confirmaram a Tommy John?
Andre Rienzo – Já tenho problema no braço há uns quatro anos, minha família e meus amigos mais próximos no beisebol sabem, e sempre tentamos ir levando, evitar a cirurgia, mas acho que acumulou muito e quando eu recebi a notícia não tem o que fazer. Chegou a hora do corpo falar que tem que parar.
The Playoffs – O prazo de recuperaçào varia de 12 a 18 meses. Sua meta é voltar inteiro para o começo da temporada 2019? Passa pela sua cabeça a possibilidade de não voltar ao beisebol dos Estados Unidos?
Andre Rienzo – Minha meta é voltar para jogar alguma Liga de Inverno (disputada em países do Caribe, México e América do Norte) em setembro ou outubro do ano que vem. Sou agente livre, assino contrato a cada ano, preciso voltar e jogar na Liga de Inverno em algum país para mostrar que estou bem e consigo voltar bem em 2019. Pode acontecer (de não voltar aos Estados Unidos), mas não tem o que eu fazer. Meu rendimento caiu muito nos últimos quatro anos, apesar de ter ido bem em 2016 e 2017, passo muito tempo na fisioterapia, virou uma bola de neve. [A pausa] foi o melhor que eu podia ter feito e se não voltar aos Estados Unidos, posso tentar o beisebol do México ou outro país. Isso se eu voltar bem, porque há a chance de voltar mal da Tommy John, existe essa porcentagem.
The Playoffs – Você estava tendo uma ótima temporada. Qual era a chance de ser chamado pelos Padres?
Andre Rienzo – Pelo que eu entendi, isso aconteceria, mas eu comecei a sentir o braço cinco jogos antes da última partida. Tinha que fazer a fisioterapia, os fisioterapeutas passam tudo que acontece, e eles falaram que meu cotovelo estava ruim. O técnico sempre perguntava, pedia para melhorar, e eu ouvi que a possibilidade de subir era boa se eu estivesse inteiro, ainda mais nessa época do ano, por conta das trocas no elenco, mas infelizmente o corpo falou não.
The Playoffs – Seu contrato termina no fim do ano. Onde fará a recuperação? Qual é o apoio que a franquia está te dando?
Andre Rienzo – Como sou agente livre, o San Diego Padres tem como única obrigação fazer com que eu volte, termine a recuperação, no mesmo nível clínico ou melhor, não podem me permitir voltar abaixo de como eu estava. A recuperação clínica dura entre 180 e 250 dias, no fim deste prazo eu preciso falar se estou 100%, se estou bem. Se não estiver, volto ao médico para ver o que há, se estiver, a parte deles está feita. A parte de fisioterapia é responsabilidade dos Padres, cheguei há dois dias a Peoria, no Arizona, sede do complexo de Spring Training. Não sei quanto tempo fico, mas devo fazer a fisioterapia por aqui, pois acho bem difícil alguém me contratar para o ano que vem, sem poder jogar.
The Playoffs – Você chegou à MLB jogando como starter, mas em 2016 brilhou como reliever e neste ano atuou das duas formas. Qual é o plano para o retorno?
Andre Rienzo – Algumas pessoas da franquia comentaram comigo que eu estava bem como starter em 2017. Atuar como reliever é mais difícil, ingrato, você entra às vezes um inning só, então se cede uma corrida seu desempenho é visto como ruim. Como titular, você pode ceder três corridas em seis entradas e ter uma entrada qualificada (QO). Eu consigo me preparar mais quando jogo como titular, no ano passado atuei vindo do bullpen porque, conversando com o Miami Marlins, a franquia apontou que minha maior chance do Triple-A para a MLB era como reliever, esse ano o pessoal do Padres me indicou que qualquer oportunidade eu subiria, como reliever ou starter, que é o que eu prefiro. Sobre o futuro, eu conheço gente que fez a cirurgia e voltou como starter, e pretendo atuar como titular.
The Playoffs – Você é um atleta que nunca escondeu o orgulho em defender o país. O que mudou, para melhor e pior, no beisebol brasileiro nesses últimos 10 anos?
Andre Rienzo – Acho que mudou para pior, não em estrutura, mas porque saímos (beisebol e softbol) dos Jogos Olímpicos, perdemos a verba do Comitê Olímpico Brasileiro, os atletas começam a pagar viagens, algo que antes não precisava. Acho que com a volta dos esportes em Tóquio-2020 alguma coisa pode melhorar. O World Baseball Classic foi bom para o Brasil porque mostramos um bom beisebol. Independente de quem atuou, jogamos de igual para igual com o Japão, Cuba e os Estados Unidos, porque Israel era uma fachada de uma equipe norte-americana. Mostramos que temos beisebol, independente de quem está jogando.
The Playoffs – Você acredita que o Brasil pode garantir vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em um torneio que deve ter entre 8 e 12 equipes? Pretende competir?
Andre Rienzo – O único problema para o Brasil, que não é farto em jogadores, é a data. Se cair em uma data ruim para o Paulo Orlando, para o Yan Gomes, o Thyago Vieira, para os atletas que estão no beisebol Japão, podemos esquecer, temos bons atletas atuando no Brasil, mas não dá para comparar com os jogadores de fora. Nossa sorte depende da data, se ela for boa, as outras seleções também estarão melhor, porque podem utilizar os jogadores que atuam fora, mas a única chance que temos é essa.
The Playoffs – O que dá para projetar para um WBC em 2020/2021, se todos os brasileiros que estão no beisebol internacional estiverem aptos a atuar?
Andre Rienzo – Acho que esse ano estávamos muito bem. Israel era uma fachada dos Estados Unidos, o time teve seis jogadores que atuaram comigo, na MLB ou na Minor League, e são americanos. Além disso, mata-mata é difícil. Às vezes é sorte, às vezes é um erro que define tudo. A gente pode também ter um elenco um pouco melhor, se forem liberados, o Yan ajuda, o Paulo ajuda. Sempre que puder, eu pretendo disputar o WBC, só não vou mais disputar o Campeonato Sul-Americano, o resto estou dentro.
The Playoffs – Você acha que, em 2018 e 2019, teremos mais brasileiros na MLB, com a ascensão por exemplo do Thyago Vieira e do Luiz Gohara? O Andre Rienzo estará nesse grupo?
Andre Rienzo – Acho que a gente terá sim mais brasileiros, o Thyago está no Triple-A, o Gohara tem mais tempo, mas está subindo, o Eric (Pardinho) vai subir uma escada grande. Acho que o Thyago é o que está mais próximo, e quanto mais brasileiros, melhor, também fica mais divertido para nós. O Andre está tentando ao máximo estar na MLB em 2019, está difícil, mas vamos tentar.
Fotos: Twitter/ElPasoChihuahuas; Divulgação/ MLB