[ENTENDA O JOGO] As mudanças de linhas num time de hóquei no gelo
Não entende como funcionam e para que servem as 'linhas' no hóquei? Vamos te explicar tudo isso agora
O hóquei no gelo é um esporte muito dinâmico e a velocidade do jogo pode deixar algumas pessoas atordoadas sem entender bem o que está acontecendo. Mas, um elemento do hóquei que não aparece com tanta frequência nas transmissões televisivas é o grande momento estratégico de uma partida e pode levar o time que melhor o executa à vitória. Estamos falando das mudanças de linhas.
As trocas de linhas devem ser coordenadas pelos treinadores a fim de manter o equilíbrio e a organização de um time. Essa é principal ferramenta que um técnico tem para poder executar uma estratégia vencedora. Entender como funcionam as mudanças de linha deixa o telespectador de uma partida da NHL ou qualquer grande liga mais ciente do que se passa durante os 60 minutos de ação.
O que são as linha num time de hóquei?
Apesar de algumas equipes testarem novas formações, a montagem clássica dos times de hóquei no gelo é o 4-3 (4 linhas de 3 atacantes e 3 linhas de 2 defensores).
Os shifts são basicamente o tempo que cada linha fica no gelo, e devem durar em torno de 40 segundos em situações normais de jogo. Isso porque os jogadores aplicam muitos “sprints”, sem tempo para descansar enquanto estão no rinque. A troca de jogadores mantém a equipe jogando em alta velocidade, vital para o sucesso de um time de hóquei. Normalmente, o shift dos defensores é um pouco mais longo para que eles possam proteger as trocas das linhas ofensivas.
O mais interessante deste aspecto do jogo é entender que cada linha tem sua função tática, e é aí que este esporte passa a ser mais intrigante e divertido. Estas funções também são coordenadas pelos treinadores que buscam tirar proveito de cada troca, procurando alternativas para conseguir levar qualquer tipo de vantagem sobre o oponente.
Por exemplo: se um treinador opta por usar os jogadores mais habilidosos e capazes de produzir gols na primeira linha ofensiva, certamente que fará o possível para “bater” esta linha com a mais frágil linha defensiva do adversário. O mesmo princípio pode ser aplicado de forma inversa, quando um treinador usa os seus melhores defensores para “segurar” a melhor linha ofensiva do rival.
É claro que o jogo não se resume só a este princípio. Existem linhas de atacantes mais velozes que procuram explorar os contra-ataques. Tem também as linhas de forecheck, ou seja, uma linha composta por jogadores maiores que devem proteger a parte suja do gelo e assim por diante. Tudo pensado para adquirir vantagens sobre o oponente.
Existem inúmeras situações dentro de uma partida de hóquei e cada treinador tem o seu estilo e sua forma de trabalhar. Uns preferem fazer um rodízio mais equilibrado das linhas – quando possuem qualidade e profundidade no elenco para tal opção -, outros aplicam um sistema que coloca as linhas com os melhores jogadores por mais vezes entre os shifts, pensando em manter o equilíbrio e a competitividade da equipe. Esta é a explicação para uma pergunta muito comum entre os mais novos fãs deste esporte: por que vemos jogadores que terminam a partida com o ice-time, ou seja, tempo no gelo, maior que outros do mesmo time?
Mas, não adianta nada o treinador passar o jogo todo pensando em como ele pode aproveitar melhor suas combinações se os atletas não executarem a mecânica correta destas trocas. O erro pode ser fatal.
Como acontece a troca durante o jogo?
Pensando numa situação normal de jogo, quando o tempo de uma linha se encerra – não existe um cronômetro para marcar este tempo, cabe aos atletas executarem suas funções e manterem a comunicação entre si -, os jogadores não devem sair todos ao mesmo tempo para efetuar a troca, pois isso certamente deixará muito espaço no campo para ser aproveitado pelo adversário. Muitos gols ou breakways acontecem por causa deste problema de “timing” das trocas.
Para evitar esta situação, o disco normalmente é lançado por algum jogador para a borda na zona ofensiva, proporcionando uma distância segura para que a troca seja efetuada de forma mais dinâmica, salvando energia dos atletas, o chamado “dump the puck”. Lembrando que o puck deve ser tocado por um jogador depois da linha que divide a metade do campo para evitar um icing, penalidade que impede a troca desta linha, e ainda coloca o time na disputa de face-off na sua zona defensiva.
Porém, nem sempre um time terá a oportunidade de aliviar o perigo para efetuar uma troca completa. Para estes casos, existe a troca conhecida como “change on the fly”, que é basicamente uma troca progressiva, em que os jogadores da linha a ser trocada vão saindo do rinque um a um. Por razões óbvias, aquele que estiver mais perto do banco de reservas deve sair primeiro.
A regra permite que o substituto entre no gelo enquanto o titular ainda está no rinque, mantendo o ritmo do jogo. No entanto, o jogador que está saindo deve se encontrar dentro do limite de três metros do banco de reservas.
Neste caso, o jogador que é trocado está inabilitado para os árbitros, e com isso não pode tocar mais no disco. Se o atleta que estiver saindo do gelo não estiver no perímetro de três metros de distância do banco de reservas ou tocar no disco durante a troca, a equipe é penalizada com o que chamamos de “too many man on the ice”, ou seja, muitos jogadores no gelo. Portanto, o time escolhe um jogador que ficará ausente por dois minutos, enquanto se defende no power play.
O melhor cenário para troca de jogadores é quando a equipe está atacando. Por isso, as batalhas nas bordas e no fundo do campo são tão importantes no hóquei. Uma boa pressão ofensiva gera trocas saudáveis e um matchup favorável, pois os jogadores que estão entrando no gelo devem enfrentar uma linha mais cansada do adversário, que se defende na tentativa de poder aliviar o perigo para efetuar a sua troca.
Por conta das estratégias e do dinamismo do jogo, o hóquei no gelo é considerado por especialistas como um xadrez vertiginoso. Assista abaixo um vídeo divertido sobre a mudança das linhas e preste mais atenção no jogo, porque o esporte é muito mais complexo e especial do que as pessoas imaginam.
(Foto: Francois Laplante/FreestylePhoto/Getty Images)