Sem Magnano, seleção brasileira tenta se reerguer
Basquete brasileiro terá que se reinventar para voltar ao topo do esporte
As Olimpíadas do Rio foram péssimas para o basquete brasileiro. Tanto o feminino quanto o masculino não passaram nem ao menos da primeira fase do torneio com mais pompa do basquete.
O Basquete já foi o segundo esporte mais praticado no Brasil. A seleção masculina já foi campeã mundial, a feminina encantou o mundo com Hortência e Paula, porém, isso não foi suficiente para tornar a nação onde canta o sabiá tradicional no basquete.
O esporte brasileiro vive um momento diferente em geral, mesmo o nosso amado futebol não desperta mais o mesmo interesse de outrora. A seleção brasileira de futebol teve menos audiência em um jogo de Copa América que a final de masterchef (confesso que assisti masterchef). Isso é um sinal que como diz a música de Bob Dylan “The times they are a-changin”. Ou seja, a torcida brasileira tornou-se extremamente exigente com resultados independente do esporte.
O Brasileiro tem esse espírito competitivo no esporte muito pulsante. Seja jogando futebol de botão com seu avô, ou assistindo qualquer outro esporte nas Olimpíadas… O Que Importa é a Vitória.
Sem mais delongas, é hora de projetar nossa seleção da bola laranja que está inserida dentro desse recorte.
Rio 2016
O basquete brasileiro apresentou péssimos resultados nas Olimpíadas do Rio 2016. O basquete feminino não venceu um mísero jogo, enquanto a seleção masculina venceu dois jogos e não conseguiu a classificação para a segunda fase.
Os resultados foram até que, de certa forma, esperados. A seleção feminina não é competitiva desde o fim da geração de Janeth, Helen, Alessandra e Cia. Já a seleção masculina, era sim competitiva, mas o nível de competição do Rio de Janeiro estava muito equiparado, era possível citar 9 seleções em pé de igualdade para a disputa da medalha de prata (O Brasil estava entre elas).
O que foi perdido no Rio foi uma chance única de popularizar o esporte no Brasil. O basquete está atrás do vitorioso Vôlei, o ascendente Handebol e a surpreendente ginástica na preferência dos brasileiros nas Olimpíadas. Uma boa campanha em casa despertaria o interesse de jovens e amantes do basquete, mas infelizmente não aconteceu.
Falando dos aspectos dentro de quadra, a seleção masculina apresentou um nível de basquete competitivo, todos os jogos contra as potências foram definidos nas últimas bolas com o Brasil tendo chance de ganhar. O jogo contra a Argentina (mais uma vez os argentinos) será um daqueles que viverá na memória por um longo tempo, apagará o tapinha de Marquinhos contra a Espanha. O Brasil não apresentou um nível de basquete inferior aos adversários, mas é um esporte competitivo de alto nível e a seleção pecou em momentos decisivos. Faltou o jogador decisivo capaz de criar o próprio arremesso, faltou cuidar melhor da bola, faltou acertar mais lances-livres e esses detalhes impediram, mais uma vez, o Brasil de alçar voos mais altos em uma competição.
Rúben Magnano
O ex-bigodon de Mr.Pringles é agora também o ex-treinador da seleção de basquete. Rúben Magnano tem em seu currículo uma incrível Olimpíada com a seleção Argentina em uma rara derrota do Team USA. É um treinador com gabarito para até dirigir times da NBA, mas faltou o último passo para tornar a seleção brasileira uma das grandes.
O trabalho do técnico foi extremamente positivo no total. O argentino chegou ao Brasil em 2010 para substituir o espanhol Moncho Monsalve e, de fato, devolveu o Brasil ao cenário internacional. Conseguiu uma classificação para as Olimpíadas após 3 edições fora, conseguiu trazer os jogadores da NBA, conseguiu dar um padrão de jogo para a seleção brasileira com uma forte defesa e um ataque baseado em pick-and-rolls, conseguiu fazer o Brasil COMPETIR com as grandes seleções e ajudou a profissionalizar minimamente a formação de atletas no Brasil.
No entanto, o inevitável desgaste chegou. A sua relação tumultuada com a imprensa fechando treinos e dando respostas atravessadas e o questionável trabalho nas Olimpíadas do Rio foram chave para a não renovação do contrato do argentino.
No fim o saldo do campeão olímpico em 2004 foi muito positivo. Ele devolveu o Brasil ao cenário internacional, deu uma identidade ao time e conseguiu o respeito dos jogadores da NBA indo visitá-los e apresentando planos para eles. A dúvida que fica é: Como um treinador tão gabarito e competente não conseguiu desempenhar seu melhor trabalho na seleção? A resposta pode estar na confusa e pouco competente gestão da CBB.
O Futuro
Incerteza, se fosse para usar uma palavra para definir o futuro da seleção seria essa. O Brasil vive aquele famoso momento que a geração envelheceu, apesar de excelentes talentos individuais, a seleção não funcionou muito bem como equipe. Não há certeza de quem será o próximo treinador e as eleições da CBB estão vindo.
O Brasil teve uma geração bem talentosa com Nenê que já chegou a ser cotado para o All-Star Game, Leandrinho que ganhou o prêmio de melhor sexto homem, Varejão liderando a NBA em rebotes, Splitter sendo titular em um time campeão e Huertas liderando o basquete europeu. Mas essa geração envelheceu, todos já estão na casa dos 30 anos e dificilmente terão pique para mais uma Olimpíada. Esse momento não é exclusivo do Brasil, a seleção Argentina também se despediu de Scola, Ginóbili e Nocioni, além de Oberto e Prigioni que já haviam deixado a seleção.
O multi-campeão com o Flamengo José Neto aparece como grande favorito a ocupar o cargo de treinador interino. A seleção começará uma reconstrução, a escolha por Neto ou Gustavo Di Conti seria uma continuação da filisofia de Magnano, já que ambos foram seus assistentes. Talvez possa vir um novo estrangeiro, experiência que foi claramente bem sucedida. No entanto, mais uma vez questões políticas (leia-se eleições da CBB) podem atrasar a escolha do novo comandante.
A seleção deve pensar em uma reconstrução, mesmo sem saber quem será o técnico, há alguns bons valores individuais. No atual elenco, Raulzinho, Felício, Augusto Lima e Benite já são jogadores consistentes que estão começando a ganhar espaço na NBA e Europa. Bruno Caboclo e Lucas Bebê já tem bagagem de estarem em um ótimo elenco na NBA e devem ter mais espaço. No cenário nacional há bons nomes como Deryck, Lucas Dias, Fisher e George de Paula. Ou seja, o Brasil tem algumas boas promessas que devem ser trabalhadas para assumirem o papel de destaque.
É válido frisar que nenhum desses jogadores são ou serão aquelas estrelas que dominarão o basquete. São jogadores com bom talento e características físicas que podem ser úteis na NBA e Europa, tal como a geração anterior. Não é para esperarmos resultados imediatos desses jogadores, eles ainda deverão evoluir para serem nomes sólidos na seleção.
Dentro de todo o cenário político e estrutural que envolve o basquete é muito difícil tentar prever o que acontecerá (mais difícil que acertar previsão do tempo). É necessário ter paciência, definir o técnico que virá e finalmente dar consistência para o Brasil. Consistência é a palavra chave para o basquete, o Brasil pode não ser o melhor, mas se tiver consistência para competir com os melhores sempre, logo os resultados virão.
(Foto 1: Reprodução Facebook/Nenê Hilário)
(Foto 2: Divulgação FIBA)
(Foto 3: reprodução Facebook/CBB Oficial)