Cine The Playoffs: A Gangue está em Campo
Coluna cinematográfica do The Playoffs relembra história de treinador que quis mudar vida de jovens por meio do FA
Seja para aprender a jogar futebol americano ou deixar para trás uma vida de erros e más escolhas, é impossível mudar de atitudes de um dia para o outro. Esse paralelo, entre a prática e o aprendizado, que só dão frutos depois de muita insistência e disciplina, é a motivação de Sean Porter (Dwayne “The Rock” Johnson) para mudar a vida dos jovens infratores residentes no reformatório de Kilpatrick por meio do esporte, a trama principal de A Gangue está em Campo (Gridiron Gang, 2006, Dir.: Phil Joanou), um filme baseado em fatos reais.
Apesar das boas intenções, essa meta não é nada fácil para o instrutor, principalmente por não saber a medida entre passar um bom exemplo e cobrar as atitudes mais indicadas – dentro do campo ou no convívio social. Ao lidar com garotos que carregam desde o berço as dificuldades com a aceitação de autoridade e que tentam esconder as lacunas oceânicas no desenvolvimento de suas ações e emoções, Porter perde a mão em muitos momentos. Ele mesmo sofreu com a falta de um pai mais presente e compreensivo, e, na tentativa de seguir pelo caminho oposto, acaba, por vezes, encarnando as mesmas ações e alguns traços da personalidade paterna.
Soma-se às dificuldades os desafios que a juventude pobre, cercada pela falência de um estado que só funciona para uma parcela da população, precisa enfrentar para sobreviver dignamente. É o caso de Willie Weathers (Jade Yorker), que, mesmo demonstrando uma vontade extrema de levar uma vida simples e feliz, vê-se em meio a tragédias contínuas. Willie faz parte da gangue da rua 88 e acaba internado em Kilpatrick, na Califórnia, após assassinar o marido (e espancador) de sua mãe em um momento de desespero. Como Willie, há diversos a seu lado, inclusive membros de gangues rivais, que deixam claro a intenção de perpetuar a barbárie mesmo dentro dos muros da instituição.
Mas, como dizem, é das adversidades que as melhores ideias vêm à tona. Porter, ex-jogador quando jovem, decide experimentar um método para aplicar a já citada disciplina e incitar um senso de união em uma “equipe” de desajustados. Essa é a pedra fundamental dos Mustangs, o time de futebol americano formado por internos que, aos poucos, atrai os participantes pela promessa de reinserção em uma sociedade que fechou todas as portas. No time há espaço para todos, desde benevolentes que fizeram uma besteira até mentes do crime que repensam suas escolhas. A mudança de comportamento, para bem e para o mal, é inevitável.
Ao enfrentar rivais de colégios da região, os Mustangs percebem, jogo a jogo, que a maior dificuldade reside não ao decorar jogadas e acertar o caminho da bola oval, mas no fato de que aquele jogador que precisa bloquear o adversário ou fazer o passe perfeito poderia te dar um tiro se as circunstâncias fossem diferentes.
O filme é cheio de erros e lugares comuns, principalmente por conversar com um público acostumado a assistir histórias de superação. Mas ele tem um trunfo. A cena mais marcante – e que foge aos clichês do gênero – é quando, no intervalo de uma importante partida, o técnico Porter decide, sem avisar a ninguém, que os próprios jogadores é que farão o discurso motivacional que, como vemos mais tarde, garante a vitória dos Mustangs. A mensagem do filme, se é que há, baseia-se nisso: somente a superação dos problemas internos, aliada à vontade de fazer a diferença, é que garante um resultado favorável, seja ele qual for.
Assista ao trailer do filme: