[TP NA HISTÓRIA] Super Mario, o herói da NHL e da geração 16-Bits
Entenda como a ascensão e queda do ídolo dos Penguins lhe rendeu o curioso apelido dos videogames
Ele não comia cogumelos, mas nem precisava, seu jogo crescia vertiginosamente na NHL na mesma proporção em que a Nintendo fazia sucesso nos videogames com o seu bombeiro mais famoso, o Super Mario Bros. Extremamente habilidoso, sorridente e carismático, Mario Lemieux destoava dos outros atletas do teatro congelado, patinava com classe no duro esporte em que jogadores com expressões faciais cerradas eram mais do que comuns. Nesta segunda-feira, 5 de outubro, ele completa 50 anos e o The Playoffs relembra a trajetória desta lenda do hóquei.
Nos anos 90, ele se tornou uma lenda no gelo e fora dele também – curiosamente pela rival da Nintendo, a Sega – , mas tudo teve um fim no dia em que enfrentou um verdadeiro Koopa – um câncer que acometeu os gânglios linfáticos. Essa doença localizada em um lugar esdrúxulo, acabou sendo o maior desafio da sua vida, não os gols e assistências que deixou de fazer.
No início daquela década – enquanto sua saúde permitiu –, o central do Pittsburgh Penguins ultrapassou momentaneamente o maior nome do hóquei de todos os tempos, Wayne Gretzky, ao ser eleito o maior goleador do mundo, e conquistar por duas vezes a Stanley Cup (1991 e 1992). Com um estilo de patinação leve, altura elevada, força e habilidade, Lemieux mudava de direção perigosamente com destreza, enquanto suas mãos guiavam o taco ao disco, na mesma sintonia que um maestro rege facilmente uma sinfonia.
Nascido para os palcos, não à toa foi apelidado também de “Le Magnifique” pelos franco-canadenses. Sua criatividade nas jogadas só pode ser medida tal qual a de um pintor, que conduz o pincel sob a tela sem nunca seguir um padrão estético. Momento este magnífico, em que a imprevisibilidade e os lances se transformavam em verdadeiras pinturas registradas pelas câmeras de TV. Nos diversos rinques em que esteve, Lemieux deixou uma marca assinada sempre com as lâminas dos patins que vestia, no rastro deixado no gelo de cada drible, assistência e gol que anotou.
Todavia, a geração de fãs do hóquei que cresceram assistindo Mario Lemieux na telinha foram ainda testemunha de outra disputa tão emocionante quanto a rivalidade forjada entre ele e Gretzky – ídolos respectivamente dos anos 90 e 80. A popularidade dos videogames protagonizadas pelas empresas Nintendo e Sega chegou ao auge nos anos 90, e viram no hóquei uma boa forma de faturar. Nesse tempo, ao seguir a tendência, os dois maiores atletas fecharam parceria comercial com uma das duas empresas.
Anda no final dos anos 80, Lemieux colecionava alguns truques, mas era praticamente um rookie na sua trajetória da NHL. Justamente por isso, a Nintendo – criadora do Super Mario Bros – resolveu ir na contramão do apelido que lhe fora imputado e escolheu alguém de maior impacto, inclusive sonoro. “O Grande”, Wayne Gretzky, foi o eleito para ser o destaque dos seus jogos virtuais, afinal Gretzky já era o Pelé do hóquei. Enquanto isso, a Sega inflamou a disputa e elegeu em 1990 o seu “Super Mario”, Mario Lemieux, como o atleta que teria um jogo eletrônico a ser desenvolvido.
Assim, foi na tela dos saudosos 16-bits (a mais avançada tecnologia da época) que surgiu o Mario Lemieux Hockey (jogue aqui), em 1991, para os consoles Mega Drive e Sega CD, um sucesso de críticas e vendas que terminou por superar o Wayne Gretzky Hockey (jogue aqui), lançado em 1990 pela concorrente. Anos mais tarde, em 1995, com a ausência de Mario Lemieux na NHL por problemas médicos, Gretzky ganhou uma sequência do jogo que foi lançado para as duas plataformas: Nintendo e Sega. Era portanto o fim da briga no rinque virtual, mas nunca da rivalidade existente entre os dois.
Mario Lemieux Hockey, o único game do Super Mario do hóquei, se tornou a síntese do estilo de jogo de Lemieux, humilde e caricato (apresentado com mullets no game), um atleta que não chegou realmente ao topo máximo da NHL, pois produziu números estratosféricos como Gretzky, mas que deixou no ar até hoje, no panteão divino dos deuses do hóquei, a possibilidade de que “sim, ele poderia ter superado Wayne”.
Exatamente por isso, Lemieux – similar ao Perseu da mitologia grega que enfrentou o Minotauro e ascendeu ao Panteão – figura em qualquer lista de jogadores imortais da NHL, seja em um top três ou top cinco de todos os tempos.
Trajetória
Draftado em 1984 como a primeira escolha geral do Pittsburgh Penguis, o canadense Mario Lemieux, natural de Montreal, enfrentou inúmeros adversários em suas várias fases como atleta, antes de decidir zerar por duas vezes a sua carreira (1993 e 2006). Na explosão de bandeiras pós-guerra fria na NHL, atletas de diferentes nações, inclusive russos, chegaram até a principal liga do mundo do hóquei aumentando a competitividade. Neste cenário, o número 66 vestido no tradicional uniforme preto e amarelo era constantemente o alvo preferido dos defensores.
Em uma dessas, quando a máxima do hóquei dizia para você evitar o marcador enquanto mantém o disco sob os seus domínios, Lemieux quebrou a orientação e patinou diretamente contra dois defensores, Rich Pilon e Jeff Norton, em partida contra o New York Islanders, em 1988. O Super Mario abriu um buraco entre os grandalhões, evitou o tranco, e anotou o gol em um 5 a 3 histórico.
Em outra oportunidade, em 1991, em um confronto dos Penguins contra o Boston Bruins, Lemiuex fez mais. Colocar o disco entre as pernas era algo comum no seu estilo, mas não patinar contra o defensor, dessa vez Ray Bourque, e trabalhar o disco entre as pernas do adversário, como se ele fosse um bobo.
Mesmo assim, de todas as façanhas, a mais importante na vida do Super Mario foi superar a doença de Hodgkin (um câncer dos gânglios linfáticos que tinha tomado a vida de um de seus primos) e que apareceu no auge da sua carreira. A doença foi potencializada pelo péssimo hábito de fumar um maço de cigarros por dia. Fora esse problema, Lemieux sofreu também de uma hérnia de disco que o deixou completamente debilitado e fora de temporadas inteiras. Ora jogava, ora se ausentava, a incerteza frustrou as expectativas dos Penguins na busca por um terceiro título.
Ter complicações graves de saúde faz qualquer atleta pensar em aposentadoria, mas não para o herói Lemieux. O canadense era antes de tudo teimoso. Jogou insistentemente com 30% a 40% da capacidade, segundo avaliação dos próprios médicos na época. Com esforço sobre-humano, executou dribles, passes e gols até 2006 quando decidiu parar.
Conquistas
* 6 Trófeus Art Ross (concedido ao maior pontuador da liga)
* 3 Trófeus Hart (concedido ao jogador mais valioso da equipe)
* 2 Trófeus Conn Smythe (o mesmo acima, mas eleito por jornalistas)
* 2 Stanley Cups
Outros jogadores reivindicam o mesmo apelido dado a Lemieux. Na NFL, Mario Williams, do Buffalo Bills, bem como o futebolista alemão Mario Gomez, da seleção alemã, também possuem o mesmo apelido relacionado ao famoso bombeiro da Nintendo.
Lemieux em ação: