[TP NA HISTÓRIA] Bobby Orr, o revolucionário Franz Beckenbauer da NHL
Nada de retranca! Como Beckenbauer no futebol, Orr recriou o sistema defensivo no hóquei. Saiba mais!
As grandes ligas norte-americanas reservam grandes histórias e personagens singulares, mas muitas vezes isto tudo acaba sendo pouco conhecido dos fãs brasileiros. Diante disso, dentro de nosso blog, trazemos a vocês, caros leitores, o “THE PLAYOFFS NA HISTÓRIA” ou, simplesmente, “TP NA HISTÓRIA”, uma série especial de posts que apresenta fatos históricos dos esportes americanos. Você não vai querer perder, né? Fique ligado na série!
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Poucos jogadores no mundo dos esportes conseguem elevar o jogo a um novo patamar de compreensão. Raros subvertem as regras e redefinem o modo de pensar sobre como deveriam funcionar as posições e suas funções. Embaraçam, a princípio, o que antes havia sido pré-determinado como ataque e defesa, ou melhor, para ser mais justo com eles, defesa e ataque.
Nesse cenário, dois jogadores, em dois distintos esportes, conseguiram realizar tamanha façanha em um mesmo período da história. O canadense Bobby Orr no hóquei, e o alemão Franz Beckenbauer no futebol – este último completou 70 anos na última sexta-feira (11). Ambos atuaram no final dos anos 60 até o metade dos anos 70, vestiram o mesmo cabalístico número 4, e revolucionariam os dois modelos de jogo, seja no quesito técnico quanto tático.
No mundo do futebol, o número 4 alemão criou o que podemos chamar de posicionamento “líbero”, ou seja, o defensor livre das amarras impostas pelos treinadores. Orr, com o mesmo espírito de renovação, criou a definição do “two-way game” no hóquei – um defensor dinâmico, com habilidade mistas de controle do disco, desarme, visão de jogo e de atuação ofensiva implacável, tal qual se pede de um atacante.
Com classe única, ambos embaralharam as regras do jogo, os marcadores, os treinadores, os jornalistas, eu e você, ou mesmo qualquer ser vivo do planeta Terra que tivesse a chance de vê-los jogar naquele período, seja no gelo ou na grama, na grama ou no gelo, a ordem dos fatores pouco importava.
E foi por causa destes jogadores, Orr e Beckenbauer, que a matemática dos esportes nunca mais seria a mesma. Pense em um número, multiplique ele por dois, some com oito, divida por dois e, por último, diminua esse valor daquele que você escolheu inicialmente… Voilà, a resposta será 4. E 4 é o número eternizado por Bobby Orr na NHL.
E antes que algum torcedor do Boston Bruins me crucifique, dizer que Bobby Orr é um “Beckenbauer do hóquei” é apenas uma força de expressão, uma metáfora, para um apelido que nunca lhe fora imputado oficialmente, apesar da própria mídia ter feito por diversas vezes tal comparação no intuito de explicar o impacto que ambos possuem na história.
Podemos passar mais algum tempo falando dos dois atletas e suas similaridades, como estilo aguerrido, ou mesmo a liderança… Mas a ideia aqui não é confundir o leitor do mesmo modo que eles fizeram no jogo. Falamos de esportes americanos no The Playoffs, e Bobby Orr é o nosso destaque desta coluna do TP na História.
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BBB – Big Bad Bruins
Dinâmico por natureza, Bobby Orr não conduzia os jogo para as bordas como os outros defensores, mas sim para o centro do gelo, no lugar mais congestionado e disputado. Ele tinha tanta coragem e habilidade com as mãos no taco quanto um caçador possui ao apontar o rifle para um urso em curta distância. Orr sentia o bafo do perigo quando partia da defesa para o meio, ele sabia que tudo ficava exposto lá atrás, mas a sensação de romper as regras era inevitável.
Um risco que nenhum defensor do seu tempo queria tomar. Subir para o ataque, fintar o goleiro (deke) e finalizar, eram habilidades quase que exclusivas dos alas e centrais, nunca dos defensores entre os anos 60 e 70. A estes havia a restrição de realizar desarmes (poke checks) e trancos (body checks). Era assim que “limpavam” a defesa e intimidavam os adversários, mas adivinhe só? Bobby Orr fazia tudo isso também.
Em 1966, aos 18 anos, o fenômeno defensor despertou à atenção da América e de um time localizado no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Naquele tempo, atuando ao lado de feras como Phil Esposito e Derek Sanderson, Orr disputava com os tarimbados atletas das linhas ofensivas do Boston Bruins em importância ofensiva. Por vezes fazia mais gols que estes, em uma época onde os Bruins marcavam tantos gols quanto cometiam infrações na NHL. Exatamente por essa combinação explosiva de destreza e força, o time recebeu o apelido de “Big Bad Bruins”, ou “Ursos Grandes e Malvados”, e Orr se tornou a principal referência dessa geração.
Visionário, ele ainda não dispensava uma boa briga como qualquer outro defensor de hóquei, mas se aproveitava dos espaços, bloqueava disparos com maestria, protegia o disco e o carregava até a linha ofensiva para armar contra-ataques. Finalizava também da linha azul, além de atuar como um terceiro ala, que corta para dentro da slot, dribla o goleiro e marca gols antológicos. É dele, por exemplo, a mais importante foto tirada na NHL (veja aqui), em que um homem “voa” logo após marcar um gol contra o St. Louis Blues. Tudo isso, realizado em um período em que todos os defensores não marcavam mais do que 20 gols em quase duas décadas da liga.
Com tamanho arsenal técnico, Bobby Orr levou o time dos Bruins a duas Stanleys Cups, em 1970 e 1972, e entrou para o panteão de atletas da NHL. Para o esporte ele ainda fez mais, se tornou o atleta mais bem pago de todos os tempos e ajudou a cidade de Boston a criar uma cultura do hóquei. Antes de Bobby Orr, o esporte era visto de uma maneira comum, após sua chegada, o hóquei cresceu em torno de 700% no número de praticantes.
Principais conquistas
* Único defensor da NHL a ganhar por duas vezes o Art Ross Trophy (premiação dada ao melhor atacante da liga)
* Vencedor de oito Norris Trohy consecutivos (premiação dada ao melhor defensor da liga)
* Único atleta da NHL a dominar as três zonas do gelo (ao ganhar múltiplas vezes o Norris e Art Ross, Orr tem sido reconhecido por sua excelência no esporte como o melhor jogador em ambas as funções ofensivas e defensivas).
Bobby Orr em ação