Buscando a vaga para a final da Stanley Cup, Boston Bruins e Carolina Hurricanes se enfrentam na final da Conferência Leste, sendo talvez uma das decisões mais improváveis que se poderia pensar. Os playoffs da NHL nesta temporada estão cheios de surpresas, tanto que, numa conferência do melhor time da temporada regular e do atual campeão, quem está chegando é um time que oscilou durante a temporada, mas ficou em segundo na divisão, e outro que entrou com a primeira vaga de wild card, jovem e sem bagagem para playoff. Não se pode duvidar de mais nada nesta pós-temporada.

A vida do torcedor dos Bruins está sendo difícil após o título de 2011. Nesse tempo, já chegou na final da Stanley Cup novamente em 2013, perdendo para o Chicago Blackhawks, mas, após isso, nunca mais esteve nem na final da conferência, amargando duas temporadas seguidas fora dos playoffs. Agora, o time se reconstruiu bem, e chega novamente entre os tops da NHL, mesmo que tenha tido um trabalhão para passar nas duas primeiras rodadas, usando seu jogo físico característico como maior qualidade. Se a camisa pesar, a dos Bruins entorta o varal, e é uma coisa que seu adversário não tem.

Os Hurricanes não chegavam nos playoffs desde 2009, e ninguém apostava neles para passar da primeira rodada neste ano. Agora, eles já venceram os dois melhores times da Divisão Metropolitana, contando com a sua primeira linha muito forte, com Sebastian Aho e Teuvo Teravainen na base, e um trabalho brilhante do técnico Rod Brind’Amour, capitão da equipe na sua única conquista de Stanley Cup. Carolina ainda não perdeu um jogo em casa nesta pós-temporada, e com certeza vai usar isso em sua vantagem.

É o confronto de ideologias diferentes. Talvez mais um caso de Davi e Golias nos playoffs da NHL deste ano. Quer saber o que esperar dessa série? O The Playoffs te conta!

BRUINS X HURRICANES

No ano passado, os Bruins tiveram um grande setback nos playoffs, sendo batidos com certa facilidade na segunda rodada dos playoffs contra o Tampa Bay Lightning por 4 a 1 na série, mas, agora, eles se livraram de duas séries complicadas contra Toronto Maple Leafs e Columbus Blue Jackets, tendo uma grande contribuição da sua primeira linha. Uma das críticas feitas ao time é que eles não têm profundidade nas linhas de ataque, mas a terceira linha, principalmente Charlie Coyle, estão mostrando que isso não é verdade.

Na primeira rodada dos playoffs, os Bruins enfrentaram uma série muito complicada contra os Maple Leafs, e tiveram que virar um 3 a 2 contra para vencer no jogo 7. Na segunda, enfrentou a sensação da pós-temporada, Columbus Blue Jackets, e também tiveram problemas, principalmente quando tiveram que passar pelo grande goleiro Sergei Bobrovsky. Eles acabaram vencendo em seis jogos, tendo uma atuação defensiva dominante no jogo 6. Nos playoffs, Boston tem o segundo melhor ataque em gols feitos, com 40, além do melhor power play e o quarto melhor penalty kill.

Para falar individualmente, os Bruins têm Brad Marchand, que é o quinto em pontos nos playoffs, com 13, além de David Pastrnak, líder de gols da equipe e sétimo no geral, com seis. Marchand é, com certeza, o principal nome a ser visto por Boston, mas existem alguns “heróis sem capa” que não aparecem muito, mas estão sendo muito importantes para a campanha por enquanto. Zdeno Chara é o líder de plusminus nesta pós-temporada e Charlie McAvoy é o segundo em chutes bloqueados. Podemos citar, além deles, Coyle e Torey Krug, que estão fazendo jogos ótimos nos playoffs.

Pelo lado dos Hurricanes, eles talvez tenham sido a maior surpresa destes playoffs por enquanto. Na primeira rodada, fizeram uma série espetacular contra o atual campeão Washington Capitals, vencendo-os em sete jogos, com o jogo 7 indo para a segunda prorrogação. Logo depois, eles enfrentariam o New York Islanders, que chegava com moral após ter varrido a sua série na primeira rodada contra o Pittsburgh Penguins, e não tomaram conhecimento da equipe de Barry Trotz para passar por cima e varrerem. Sua velocidade é sua principal característica, e, mesmo que suas linhas especiais não funcionem bem como deveriam, a equipe é a líder de porcentagem de pontos nos playoffs, com 72,5%.

Como já citado acima, os Hurricanes não perderam nenhum jogo em casa até agora, e, na série contra os Capitals, foram a equipe que menos cedeu gols em casa nos playoffs. Seus dois goleiros, Petr Mrazek e Curtis McElhinney, estão no top 5 de menos gols sofridos nos playoffs, sendo McElhinney o líder. Curtis é o líder de porcentagem de defesas, enquanto Mrazek lidera em shutouts. Na defesa, Jaccob Slavin é o segundo em assistências e plusminus e, nesse quesito, ele é seguido por Teravainen e Jordan Staal. Isso tudo mostra que os Hurricanes são um conjunto muito sólido, talvez até mais que os Bruins.

O CONFRONTO

Analisando linha por linha, Bruins e Hurricanes se equilibram muito por conta dos estilos de jogo muito bem definidos. Na primeira linha, teremos o confronto entre os dois maiores pontuadores de Boston contra dois grandes jogadores: Teravainen, o segundo maior pontuador do time, e Aho, que está um pouco apagado nos playoffs. O poderio ofensivo da linha de Aho junto com Teravainen e Andrei Svechnikov é grande, mas a equipe de Boston tem uma carta na manga: Patrice Bergeron. Bergeron pode conseguir anular Aho simplesmente por ser o melhor center defensivo da liga, e isso seria o maior diferencial, pois os outros são muito iguais. Vejo a vantagem para os Bruins por conta do ótimo jogador que é Bergeron.

A segunda linha traz uma discrepância maior, pois a dos Bruins é uma máquina de pontuar, além de resumir bem como a equipe joga, fazendo o jogo físico chegar ao seu extremo. Mesmo assim, a linha comandada por David Krejci tem vantagem em quase todas os quesitos se comparado com Jordan Staal, Nino Niederreiter e Justin Williams. Claro, Niederreiter é um jogador que poderia entrar na primeira linha facilmente, mas ele não vai desequilibrar como Bergeron desequilibra para Boston, por exemplo. Krejci, Jake DeBrusk e David Backes trazem ótimos finalizadores, além de jogadores rápidos e físicos, então, mais uma vez, os Bruins levam essa.

Talvez a melhor linha dos Hurricanes até agora, a terceira é formada por Warren Foegele, Lucas Wallmark e Brock McGinn. Foegele é o terceiro maior pontuador do time nos playoffs, e foi decisivo principalmente na primeira rodada contra os Capitals, chegando até a jogar na primeira linha enquanto Svechnikov estava machucado. Wallmark é um “Bergeronzinho”. Muito bom defensivamente e habilidoso na parte ofensiva, é um diferencial contra Charlie Coyle, um center limitado que não tem o poderio ofensivo que seus companheiros de linha têm. O experiente Marcus Johansson e Danton Heinen completam o trio, mas, nessa, os Canes são muito melhores, e pode ser a maior vantagem que eles tenham neste confronto.

O bottom six dos Hurricanes é muito bom, e a quarta linha mostra isso. Greg McKegg é um center muito versátil, podendo jogar de winger também, enquanto Jordan Martinook e Michael Ferland são jogadores habilidosos que poderiam subir de linha se alguma coisa acontecesse. Tudo isso, quando comparado com a linha dos Bruins, não vejo um cenário em que Joakin Nordstrom, Sean Kuraly e Chris Wagner levem vantagem, muito por conta que, por serem rápidos, a linha dos Canes pode entrar em confrontos contra as linhas principais dos Bruins, deixando a primeira linha para enfrentar a quarta de Boston, o que seria ainda pior para eles.

Na defesa, também se vê uma vantagem para os Hurricanes. Slavin e Dougie Hamilton são ótimos jogadores e se completam muito bem, já que Hamilton é um defensor formidável e Slavin é um grande playmaker. Nos Bruins, não se tem um defensor no estilo de Slavin, e, nos outros pares, os Canes ainda contam com Brett Pesce e Justin Faulk, que também se completam perfeitamente. Em Boston, as incógnitas predominam na defesa, pois não se sabe se Brandon Carlo e Krug podem fazer bons jogos sequencialmente, o que afetaria muito quando se joga contra um time tão equilibrado. Esse equilíbrio não é visto nos Bruins como nos Canes, e isso vai fazer a diferença na hora decisiva.

Nos goleiros, temos Tuukka Rask, o líder de vitórias nos playoffs, contra McElhinney, o reserva que vai iniciar a série contra Boston por conta da lesão de Mrazek. Neste confronto, não se pode apostar em outra coisa que não seja a vantagem de Rask, que é, indiscutivelmente, um dos cinco melhores goleiros da NHL hoje em dia. Ele é o terceiro em gols sofridos nos playoffs e o segundo em porcentagem de defesa, além de ser bem melhor que McElhinney no geral. Contra Mrazek, a vantagem também é do finlandês, mas a fase dos dois goleiros de Carolina podem complicar a vida do ataque de Boston. Mesmo assim, no geral, a vantagem é de Rask.

RETROSPECTO

Na temporada regular, foram três jogos, com duas vitórias dos Bruins e uma dos Hurricanes. Boston venceu o seu jogo em casa na prorrogação, com os outros dois sendo em Raleigh e tendo uma vitória para cada lado. Mesmo assim, o equilíbrio reinou em todos os confrontos, com nenhuma partida tendo uma margem maior do que dois gols. A maior vitória foi a dos Canes, que bateram os Bruins por 5 a 3. A última vez que os dois se enfrentaram foi em março deste ano.

A SÉRIE: Boston Bruins (#2) x Carolina Hurricanes (WC1)

JOGO 1: 9/5, 21h – em Boston

JOGO 2: 12/5, 16h – em Boston

JOGO 3: 14/5, 21h – em Raleigh

JOGO 4: 16/5, 21h – em Raleigh

JOGO 5: 18/5, 20h15 – em Boston*

JOGO 6: 20/5, 21h – em Raleigh*

JOGO 7: 22/5, 21h – em Boston*

* Jogos só acontecem se necessário.

Obs: Todos os horários são de Brasília.

PALPITE: Boston Bruins 3-4 Carolina Hurricanes

Mesmo tidos como favoritos para esta série, eu não vejo os Bruins como um time bom o bastante para chegar numa final de Stanley Cup. A sua falta de equilíbrio das linhas principais para as menores não me convencem que eles podem vencer um time que é muito bom em todos os lados. Talvez a principal diferença seja na qualidade dos defensores. Os Hurricanes podem muito mais parar os atacantes de Boston do que o contrário. Além disso, Carolina pode conseguir impor seu jogo com muita facilidade, e os Bruins já sofreram contra times rápidos, como os Maple Leafs. Portanto, vejo uma vantagem para Carolina.

Para finalizar, uma estatística inútil: na última vez que os Bruins enfrentaram adversários seguidos da Divisão Metropolitana (Blue Jackets e Hurricanes) nos playoffs, eles bateram os dois e chegaram na final da Stanley Cup.

(Fotos: Divulgação NHL)