[PRÉVIA] Final da Stanley Cup 2019: Boston Bruins x St. Louis Blues
Após 49 anos Boston Bruins e St. Louis Blues decidem novamente o título da NHL
O momento mais esperado pelos fãs de hóquei no gelo chegou. Nesta segunda-feira (27), Boston Bruins e St. Louis Blues começam a batalhar pelo troféu que é considerado o mais difícil de ser conquistado nos esportes americanos, a Stanley Cup. Após 49 anos, as equipes voltam a se enfrentar em uma final. Em 1970, os Bruins venceram a série em quatro partidas, quando o lendário Bobby Orr marcou o gol mais famoso da história do time de Boston, na prorrogação do jogo 4.
Desde então os times seguiram caminhos diferentes. Os Blues passaram por momentos turbulentos e só conseguiram retornar à proeminência no esporte a partir de 2011. Em 2016 a equipe chegou as finais da Conferência Oeste, e após uma reformulação em seu elenco, tendo adicionado jogadores como David Perron, Ryan O’Reilly e Brayden Schenn, o time finalmente volta a disputar um título.
Já os Bruins continuaram figurando sempre entre as principais franquias da NHL. Desde a final de 1970, o time chegou a jogar pela Stanley Cup em outras 8 ocasiões, vencendo apenas 2, mas seguindo como modelo de trabalho bem feito para outras franquias da liga, apesar de algumas dificuldades após sua última decisão jogada, em 2013 (derrota para o Chicago Blackhawks).
As equipes tiveram temporadas regulares distintas, mas com finais bastante semelhantes. No dia 3 de janeiro, os Blues eram o pior time da liga, tendo vencido apenas 15 de seus 37 jogos disputados, e quando o destino do time parecia ser mais uma vez o final de um ciclo, o general manager Doug Armstrong demitiu o técnico da equipe, Mike Yeo, e o substituiu por Craig Berube.
A mudança surtiu efeito, e a equipe terminou a temporada regular com a melhor marca da NHL em 2019 (30-10-5). Berube conseguiu fazer funcionar um elenco recheado de bons jogadores, principalmente a defesa, que possui grandes nomes, como Alex Pietrangelo, Colton Parayko, Joel Edmundson e o surpreendente Vince Dunn. Além disso, o time contou com a acensão do goleiro novato Jordan Binnington, que ganhou a vaga de titular de Jake Allen também em janeiro, e terminou a temporada regular com a melhor marca da liga em gols sofridos por partida (1,89). Binnington manteve seu alto nível de jogo e segue fazendo uma pós-temporada irrepreensível.
Os Bruins tiveram menos problemas durante a temporada regular. O time lidou com algumas lesões, principalmente David Pastrnak, mas no geral, conseguiu sua vaga para os playoffs sem grandes sustos. Entre janeiro e fevereiro, a equipe conseguiu a segunda mais longa sequência de sua história, marcando pelo menos um ponto nos jogos disputados. Foram 15 vitórias e 4 derrotas na prorrogação ou no shootout. Os Bruins tentam acabar com uma “longa seca” para a cidade de Boston: há 3 meses um time da região não vence um título das grandes ligas americanas (Patriots no Super Bowl em fevereiro). Brincadeiras à parte, a equipe tenta vencer seu primeiro título desde 2011.
Blues e Bruins chegam à disputa pela Stanley Cup após vitórias finais de conferência bastante diferentes. Os Bruins varreram os Hurricanes, e já não jogam uma partida oficial há oito dias. São sete vitórias seguidas para o time de Bruce Cassidy desde a série contra os Blue Jackets. Sua tarefa mais complicada foi na primeira rodada, contra o rival de divisão Toronto Maple Leafs. A equipe do Missouri venceu com facilidade as duas últimas partidas contra o San Jose Sharks, marcando 10 gols e sofrendo apenas 1 nos jogos 5 e 6, mas o time vinha de uma série extremamente complicada contra o Dallas Stars, decidida na segunda prorrogação do jogo 7, e uma primeira rodada também bastante parelha contra o Winnipeg Jets.
São estilos de jogo parecidos, com defesas pesadas mas que conseguem mover o disco com facilidade, ataques balanceados e goleiros em grande fase. St. Louis e Boston devem fazer uma grande final, e o The Playoffs faz agora uma análise aprofundada da série e deixa você por dentro desse confronto que promete ser de arrepiar!
BRUINS X BLUES
Os Bruins parecem ter encontrado a formula do sucesso nos playoffs deste ano. O time, antes visto como o “de uma linha só”, conseguiu ao longo de sua caminhada contribuições de todo o elenco para chegar à final em 2019. Sim, os nomes conhecidos seguem fazendo a diferença. Brad Marchand, Patrice Bergeron e David Pastrnak marcaram 22 dos 57 gols dos Bruins nos playoffs, mas o time também igualou um recorde da franquia, já que 19 jogadores marcaram nesta pós-temporada.
Mas tanto a segunda linha do time quanto a terceira também tem conseguido produzir, e é por isso que os Bruins estão na final. David Krejci tem 14 pontos em 17 jogos e Charlie Coyle, que fez temporada regular ruim, encontrou seu ritmo na pós-temporada e tem 12 pontos marcados. Além disso, Tukka Rask segue sendo o melhor jogador do time e fazendo a diferença no gol.
O caminho do time de Boston ficou mais fácil ao longo das séries disputadas. O grande confronto da equipe foi na primeira rodada, contra os Leafs. O time teve dificuldades nas cinco primeiras partidas da série, quando apenas sua primeira linha funcionava, mas nas partidas 6 e 7 o time engrenou e venceu por um placar combinado de 9 a 3. Na série contra o Columbus Blue Jackets, o time mais uma vez ficou em desvantagem, tendo perdido 2 dos 3 primeiros jogos, mas o ataque encontrou seu ritmo no jogo 4, e nas partidas finais ajudou uma defesa que já vinha se mostrando sólida. Como já mencionado, os Bruins venceram suas últimas 7 partidas, incluindo as 4 na final da Conferência Leste, contra os Hurricanes. Nestas vitórias foram impressionantes 28 gols marcados e apenas 9 sofridos. O único “problema” para os Bruins antes do início da grande final será a temida falta de ritmo, pois o time vem funcionando em todos os aspectos, inclusive em seu potente power play e no penalty kill.
Já os Blues mostraram grande resiliência em sua caminhada rumo às finais da Stanley Cup. E mesmo com ótima campanha no ano de 2019, o time enfrentou dúvidas e desconfiança por parte da mídia e de sua torcida. Mas a equipe de Craig Berube respondeu sempre da melhor forma possível, com suas atuações no gelo. Um dado interessante é que o time fez 9 jogos fora de casa nos playoffs e venceu 7 deles, então começar a série final em Boston parece ser uma vantagem para os Blues.
A equipe do Missouri não conta com uma primeira linha potente como a de seu adversário. Sua vantagem está em grupo de ataque balanceado, liderado por Jaden Schwartz, Ryan O’Reilly e Vladimir Tarasenko. Os dados de Schwartz são impressionantes. O canadense de 26 anos marcou 11 gols em 69 jogos na temporada regular e nos playoffs 12, em apenas 19. Apesar do bom desempenho do ataque, o destaque dos Blues fica por conta de sua defesa. Pietrangelo, Parayko, Edmundson, Dunn e o veterano Jay Bouwmeester formam um dos, se não o melhor grupo de defensores da liga. Juntos os cinco têm 43 pontos marcados na pós-temporada. Além do sólido sistema defensivo, o time também conta com boas atuações do goleiro novato Jordan Binnington.
Os Blues suaram mais a camisa em sua caminhada nesta pós-temporada. A equipe começou bem sua série de primeira rodada contra o Winnipeg Jets, e venceu os jogos 1 e 2 na casa do adversário. Mesmo assim, o time sofreu e foi derrotado também de forma consecutiva em casa. Com a série empatada, St. Louis deu mostras da força de seu conjunto e venceu os jogos 5 e 6 com grandes atuações defensivas, limitando os Jets a apenas 4 gols nos dois confrontos.
As semifinais do Oeste foram ainda mais complicadas. O time precisou de uma segunda prorrogação no jogo 7 para eliminar o Dallas Stars. Apesar do amplo domínio dos Blues em boa parte da série, o equipe precisou chegar no limite para passar de fase. Nas finais da conferência contra os Sharks, a franquia de St. Louis mais uma vez ficou atrás da série, mas conseguiu reencontrar sua melhor forma, mesmo com a lesão de Vince Dunn, e venceu três partidas seguidas para garantir vaga na decisão.
O St. Louis Blues marcou impressionantes 12 gols nos jogos 4, 5 e 6 e sofreu apenas dois. Um fator de preocupação é o penalty kill, que tem sofrido muitos gols ao longo da pós-temporada e precisa melhorar se a equipe sonha em conquistar seu primeiro título.
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O CONFRONTO
Analisando os times taticamente, ambos têm padrões de jogo bastante similares, com grande foco na estrutura defensiva, buscando sempre limitar as oportunidades de seus adversários. Os times buscam um jogo de maior contato físico, sempre dificultando os passes de seus adversários na zona de defesa. Ainda assim, quando as equipes têm posse do disco, elas conseguem fazer saídas rápidas para o ataque, explorando buracos na zona neutra.
No ataque os times buscam sempre o forecheck, o contato com o adversário, tática que visa a desgastar o jogador que tem a posse do disco, para criar chances de gol ao roubar o disco do oponente. Um fator que pode desequilibrar a favor dos Bruins é a experiencia. Do atual elenco, seis jogadores já disputaram uma final de Stanley Cup, enquanto pelos Blues, apenas David Perron jogou pelo título da NHL.
Os times têm tanta paridade que seus dados em análises são praticamente idênticos na pós-temporada. O Corsi (estatística que calcula chutes a gol, chutes perdidos e bloqueados) dos Blues é de 50,89% e dos Bruins é de 50,74%, mostrando que eles criam mais chances ofensivas que seus adversários. Além disso, o PDO (que calcula a porcentagem de disparos a favor e contra) é igual, 1,016, melhor marca nos playoffs. O PDO mostra basicamente a sorte das equipes, e ajuda a explicar o porquê de Blues e Bruins terem chegado à final da Stanley Cup. Mesmo assim, os números não são garantia de sucesso, então temos que analisar as equipes passo a passo.
ATAQUES: Se fizermos um comparativo entre as linhas ofensivas de Bruins e Blues, as equipes têm uma boa combinação de tamanho e velocidade em seus ataques. Sim, a primeira linha dos Bruins pode ser considerada a melhor da liga, mas vale lembrar que o trio marcou apenas um gol jogando 5 contra 5 nas finais da Conferência Leste. Se a primeira linha dos Blues, que conta com Schwartz, Tarasenko e Brayden Schenn, conseguir limitar as oportunidades dos oponentes, a série tem tudo para ficar mais nivelada, e com isso, os jogadores de segunda e terceira linhas devem aparecer com mais destaque.
Vale lembrar que pelos Blues, Ryan O’Reilly e David Perron têm 14 e 13 pontos marcados respectivamente, e o central Tyler Bozak, da terceira linha, 10. Já pelos Bruins, além da primeira linha, apenas David Krejci e Charlie Coyle atingiram os dois dígitos em pontuação. Além disso, a quarta linha dos Blues vêm de grande desempenho na final do Oeste, tendo marcado gols em quatro partidas seguidas, mostrando que a equipe conta com contribuições de todos os seus jogadores de ataque.
DEFESAS: Os times têm grandes semelhanças também em suas defesas. Os Bruins contam com um grupo mais balanceado e jovem. Apenas o capitão do time, Zdeno Chara, tem mais de 40 anos. Chara, Charlie McAvoy, Torey Krug e Brandon Carlo formam um ótimo top 4 de defesa, que consegue mover o disco de maneira eficiente para o ataque, além de possuir uma solidez defensiva que facilita o trabalho do goleiro Tuukka Rask.
Já os Blues, como mencionado anteriormente, contam com um top 5 muito sólido, liderado por Alex Pietrangelo – seus 13 pontos nos playoffs são a melhor marca da história de um defensor da franquia – e Colton Parayko. Além disso, Joel Edmundson e Jay Bouwmeester complementam seus parceiros com maestria. A única dúvida fica por conta da lesão de Vince Dunn, que não joga desde o jogo 3 da final da Conferência Oeste e não tem data para retornar às partidas.
O foco dos finalistas é a defesa e a proteção dos goleiros, e nesse quesito Bruins e Blues não poderiam jogar hóquei de maneira mais parecida.
GOLEIROS: Esse é o quesito que pode definir o campeão da Stanley Cup em 2019. Além de sua experiência, Tuukka Rask faz um dos melhores playoffs da história da sua posição. O finlandês de 32 anos – principal candidato ao troféu Conn Smythe, como melhor jogador da pós-temporada – tem números impressionantes. Rask lidera a liga em vitórias, com 12, média de gols sofridos por partida (1,89), porcentagem de defesas (.942) e shutouts (2).
Já o novato Jordan Binnington também vem fazendo boa pós-temporada, após grande ano de estreia. Seus números não são tão bons quanto os de Rask, tendo sofrido 2,36 gols por partida, com .914 de média de defesas por jogo, mas seu desempenho melhorou nos três últimos jogos da final do Oeste, quando o atleta de 25 anos defendeu 75 de 77 disparos (.974). Se ofensiva e defensivamente os times têm estruturas muito parecidas, a diferença crucial pode estar no gol. Os Blues precisam que Binnington eleve seu nível, para que a equipe tenha chances de competir pelo título.
TIMES ESPECIAIS: Apesar da importância dos goleiros, os times especiais também têm participação importante na definição do vencedor em uma série tão equilibrada. E mais uma vez, os Bruins levam vantagem tanto no power play quanto no penalty kill. A equipe de Boston lidera a liga em aproveitamento no power play na pós-temporada, com 34% de gols marcados em suas oportunidades com a vantagem numérica. Seu penalty kill também é muito sólido e não sofre gols em 84,3% das vezes que está com um homem a menos no gelo.
Já os Blues têm médias mais preocupantes. O power play da equipe marca em apenas 16,7% das chances e o penalty kill não sofre gols em 77,5% das chances do adversário. Para o time de St. Louis, o ideal é não cometer faltas e trabalhar em seu power play, para que consiga fazer a diferença na série. A boa notícia para os Blues é que seu PP melhorou nos últimos quatro jogos das finais de conferência, marcando em 5 das 15 oportunidades que teve.
RETROSPECTO
Na temporada regular as equipes se enfrentaram duas vezes. Ambas as partidas aconteceram em 2019 e cada time venceu em casa. Em janeiro, os Bruins golearam os Blues por 5 a 2 em Boston. Já em fevereiro os agora finalistas fizeram partida mais defensiva, e os Blues prevaleceram no shootout, ganhando por 2 a 1 em St. Louis. Vale destacar que o último confronto é recente e pode ter sido uma prévia do que está por vir na grande final.
A SÉRIE: Boston Bruins (#2) x St. Louis Blues (#3)
JOGO 1: 27/5, 21h – em Boston
JOGO 2: 29/5, 21h – em Boston
JOGO 3: 01/6, 21h – em St. Louis
JOGO 4: 03/6, 21h – em St. Louis
JOGO 5: 06/6, 21h – em Boston*
JOGO 6: 09/6, 21h – em St. Louis*
JOGO 7: 12/6, 21h – em Boston*
* Jogos só acontecem se necessário.
Obs: Todos os horários são de Brasília.
PALPITE PEDRO: Boston Bruins 4-3 St. Louis Blues
PALPITE EQUIPE THE PLAYOFFS: Bruins 4-3 Blues
Podemos resumir a analise da série de duas maneiras. Uma é baseada nos dados e outra baseada na temporada das equipes como um todo. Os dados mostram times muito semelhantes, tanto em padrão de jogo como nos números. Os elencos também são montados de maneira bem similar. A diferença fica realmente no gol, em que Tuukka Rask está, nos playoffs, jogando em um nível acima de Jordan Binnington. Além disso, como mostramos, os times especiais favorecem os Bruins, principalmente o power play, que é letal. Para igualar as chances, o time do Missouri precisa continuar começando bem as partidas, marcando gols e levando a vantagem para o último período.
Se analisarmos a temporada como um todo, a dos Blues é mais impressionante. O time estava fora dos playoffs em janeiro e chega a uma final de Stanley Cup após grande turbulência. A equipe, que trocou de técnico, conseguiu reinventar seu jogo e desde então, apesar das dúvidas, teve o melhor desempenho de todos os 31 times da NHL.
Mesmo assim, quem vive melhor fase são os Bruins, que chegam ao primeiro jogo da Stanley Cup com sete vitórias consecutivas e um goleiro jogando a pós-temporada de sua vida. A tendencia é que a grande temporada do time de St. Louis, apesar de espetacular, chegue a um final decepcionante para uma torcida que esperou quase 50 anos por esse momento.
(Crédito nas fotos: Getty Images; Site Oficial da NHL)