Os próximos desafios de Gary Bettman na NHL – Parte 3 (Seattle?)
John Barr, criador do site NHLtoSeattle.com, nos ajuda a entender quais os efeitos de uma franquia na cidade
Olá, fãs de hóquei no gelo, o esporte mais intenso e dinâmico do planeta! Depois de alguns dias de férias forçadas por causa da virada do ano, estou de volta para fechar a série sobre o acompanhamento do trabalho de Gary Bettman, que comanda a NHL.
Se você não leu os dois primeiros textos, clique aqui para ver a parte 1, e aqui para ver a parte 2.
Dito isto, vamos agora para o gran finale. A expansão da liga para Seattle.
Para me ajudar a entender melhor qual o efeito de uma nova franquia da NHL no noroeste dos Estados Unidos, entrevistei umas das pessoas mais importantes neste processo, o homem por trás do site NHLtoSeattle.com, John Barr.
Barr cresceu em Oakland, na Califórnia, mas se mudou para o norte antes da chegada dos Sharks em San Jose. Ele trabalha neste projeto há mais de seis anos tentando viabilizar a expansão, apoiando os empresários locais e tem feito todos os esforços para se manter calmo depois de tantas boas notícias que têm chegado nos últimos meses.
Antes de nos jogarmos na conversa com Barr, é importante entendermos quais os principais indicativos por trás da motivação de Bettman em oferecer ao grupo Oak View de Tim Leiweke, a possibilidade de começar o negócio na região.
Após a entrada de Vegas na Conferência Oeste, ficou claro que a NHL precisava adicionar outro time em busca de reequilibrar as divisões no sentido da quantificação. Porém, este não é um argumento capaz de se sustentar sozinho. O comissário viu muito mais em Seattle do que apenas um equilíbrio geográfico. A cidade de Seattle é uma potência em vários aspectos.
A começar pelo 14º lugar entre os maiores mercados televisivos dos Estados Unidos, a cidade também é um polo esportivo de sucesso. Seattle tem os Sounders, time de futebol que joga na MLS, e que elevou a média de público de 2009 para 2016 em 38%. Na temporada passada, o time levou cerca de 43.666 pessoas por jogo no CenturyLink Field – que também é a casa dos Seahawks, da NFL -, além de sustentar o recorde de 164 partidas consecutivas lotando o estádio.
Enquanto os Mariners têm sofrido um pouco para brilhar na MLB, os Seahawks da NFL dispensam apresentações. O futebol americano é muito bem representado na região também com os Huskies, da Universidade de Washington. Mas o hóquei no gelo é uma febre por lá.
Só no estado de Washington existem quatro times da WHL: Seattle Thunderbirds, Everett Silvertips, Tri-City Americans e Spokane Chiefs. Segundo a USA Hockey, o número de jogadores da região inscritos em competições oficiais no ano de 2016 foi de 9.248, sendo que destes, 4.350 tinham 18 anos ou menos. Isso significa que muitos jogadores do futuro da NHL podem sair de lá.
Os jogos da WHL no estado de Washington já começaram a sofrer as consequências da possível expansão da NHL com o aumento significativo de público nas partidas como o próprio John Barr retratou em seu perfil do Twitter no dia 31 de dezembro.
Agora que já estamos por dentro das novidades sobre a expansão da NHL para Seattle, vamos à conversa com John Barr:
Danilo Fredo – Vamos começar imaginando que você está em seu carro, parado no trânsito, rumo à KeyArena para o jogo inicial de uma franquia de Seattle na NHL em outubro de 2020, pensando nos últimos anos no qual você decidiu lutar por essa causa. Você conseguiria descrever o seu sentimento?
John Barr – Eu acho que seria impossível descrever o meu sentimento no dia de abertura da temporada. Eu tive o luxo de ir ao primeiro jogo oficial da história do Vegas Golden Knights e tive calafrios de ver uma nova franquia. Eu provavelmente choraria pensando nisso, mas prefiro não ser tão emotivo.
Danilo Fredo – Ok, voltemos para 2017. Todos esperamos uma grande rivalidade com o Vancouver Canucks por causa da proximidade geográfica. Jim Benning, general manager da franquia, disse que vê com bons olhos esta rivalidade. Conhecendo bem os torcedores de Seattle, você pode nos dizer até onde ela pode ir?
John Barr – Aproximadamente 20% dos torcedores em Seattle são fãs dos Canucks, então será estranho para estes. Eu acredito que ainda deve demorar alguns anos para que essa rivalidade aflore. Nada que boas partidas entre eles nos playoffs não esquentem os ânimos de forma agradável.
Danilo Fredo – Com certeza deve demorar um pouco para aflorar, mas você consegue explicar como seria a energia da KeyArena?
Jonh Barr – Quando estiver reformulada, a KeyArena será uma das menores da liga e isso deve trazer um ambiente hostil e intimidador aos oponentes. Eu espero que os fãs de Seattle sejam barulhentos tanto quanto eles são no CenturyField nos jogos da NFL e da MLS.
Danilo Fredo – Temos visto jogadores como Russell Wilson e outros também apoiando a expansão para a Seattle receber franquias de NHL e NBA. Como os Seahawks, os Thunderbirds e os Sounders podem ajudar um novo time a se estabelecer na cidade?
Jonh Barr – Tenho visto isso em outras cidades também. Eu espero que todos os outros times de Seattle ajudem a promover uns aos outros. Enquanto os Sonics não voltam, a NHL terá atenção total durante os meses de inverno. Podemos esperar que jogadores dos Seahawks, Sounders, Mariners e Storm (time de basquete feminino) venham para os jogos e até iniciem algumas partidas. Acredito que os Thunderbirds e os Silvertips atuem juntos de uma forma diferente. Eles podem continuar ajudando o crescimento da base de fãs e faria todo sentido aproveitá-los comercialmente. Qualquer coisa como sediar treinos da equipe da NHL ou até mesmo, jogar amistosos na KeyArena.
Danilo Fredo – Você acredita mesmo que eles todos podem se unir para valorizar o esporte ou poderiam brigar por atenção?
Jonh Barr – Tenho certeza que será um pouco dos dois. No momento, enquanto estamos na temporada de futebol americano, é complicado para os outros esportes conseguirem atenção. Os Seahawks têm feito um ótimo trabalho nos últimos cinco anos, portanto, eles precisam de atenção.
Danilo Fredo – Considerando todo o investimento de Seattle para fazer parte do circo da NHL, somando com o sucesso de Vegas que foi extremamente favorecido pelas regras de expansão, fato que deve acontecer também com Seattle, podemos imaginar um cenário favorável. Porém, isso não significa que Seattle terá o mesmo impacto instantâneo de Vegas. Como este sucesso de Vegas deve pesar nos ombros de Seattle e como o retorno dos Sonics pode piorar a situação?
Jonh Barr – Eu concordo com o sucesso repentino de Vegas e que Seattle sofrerá pressão por isso. Eu não sei até onde é realista esperar o mesmo sucesso, mas acho que as pessoas vão cobrar os resultados. Existe uma pequena desavença entre os torcedores dos Sonics e os fãs da NHL, mas eu espero que isso se encerre com a volta do time para a cidade. Gostaria muito de ver ambos se apoiando como fazem os torcedores de Seahawks e Mariners.
Danilo Fredo – Sendo um fã de hóquei e entusiasta de uma nova franquia na cidade, como você gostaria que a equipe atuasse? Que tipo de estrela você gostaria de ver jogando com a camisa do time de Seattle em 2020?
Jonh Barr – Eu adoraria ver alguém que tivesse identificação com a comunidade e que quisesse crescer o esporte. Seria incrível ter alguém que cuidasse das pessoas com o mesmo carinho que o P.K. Subban faz desde que foi trocado para Nashville. Eu também queria ver jogadores da região jogando por aqui como T.J. Oshie, Tyler Johnson ou alguma revelação dos Thunderbirds.
Danilo Fredo – Tim Leiweke, CEO da Oak View Group, empresa que está por trás das obras de reforma da KeyArena, disse que não tem interesse em realocar uma outra franquia para Seattle, uma vez que prefere respeitar as decisões dos governadores da NHL. Porém, ele esteve envolvido em outras realocações. Podemos mesmo acreditar em suas palavras?
Jonh Barr – A realocação x expansão é de responsabilidade dos comissários. Para Seattle, eu gostaria de ver uma expansão. Nós perdemos os Sonics para Oklahoma e nós não queremos que isso aconteça com outra cidade. É muito triste!
Danilo Fredo – O ex-general manager do Philadelphia Flyers e atual dono dos Thunderbirds, Russ Farwell, fez duras críticas à expansão de Seattle quando disse: “Este seria o último lugar dos Estados Unidos para trazer o hóquei”. O que você pensa sobre isso e o por que um homem que vive tantos anos neste ambiente decidiu virar as costas para este lance?
Jonh Barr – Eu não interpretaria os comentários de Russ como “virar as costas para este lance”. Ele tem vivido em alguns lugares bastante ríspidos no hóquei para poder acreditar nisso. Eu entendo que ele simplesmente tentou afirmar que será um processo difícil na tentativa de estabelecer uma franquia na cidade. Eu vivi na área de San Francisco antes da chegada dos Sharks. Ninguém falava sobre hóquei até o time entrar no gelo pela primeira vez. Existe um trabalho muito forte com os jogadores jovens em Seattle, são dois times da WHL em menos de 40 quilômetros de distância, portanto, Seattle é uma terra muito mais fértil para o crescimento de um novo time.
Danilo Fredo – Antes de irmos para o mundo imaginário dos fãs, eu preciso lançar uma polêmica aqui. Você escreveu uma carta aberta para o empresário Chris Hansen em seu site, antes de o conselho votar a favor do lance da OVG e de certa forma, o conteúdo é autoexplicativo. Hansen é um inimigo do hóquei ou seus esforços para trazer os Sonics de volta estavam apenas desatualizados com relação às oportunidades que o grupo de Leiweke recebeu? (sinta-se livre para não responder esta)
Jonh Barr – Eu apoiei o projeto de Hansen desde o primeiro dia. Eu fui a vários lugares e reuniões para apoiá-lo. Quando a NHL abriu as portas para a expansão alguns anos atrás, ele não conseguiu fazer as parcerias corretas para montar um time de NHL. Eu não ligo pra isso. É o dinheiro dele e eu não gosto de dizer para as pessoas como elas devem gastar seu dinheiro. Na minha opinião, o projeto de Chris estava morto e precisávamos de outro. Hansen disse que não atrapalharia o processo da OVG com a reforma da KeyArena, mas descumpriu com a palavra algumas vezes. Minha carta era um pedido de que ele fosse um homem de palavra e que não estivesse contra o projeto da OVG. Ele nunca me respondeu.
Danilo Fredo – Considerando que a venda de ingressos antecipada seja um sucesso e Seattle seja mesmo oficializada como uma nova franquia na NHL, como esta equipe poderia se chamar?
Jonh Barr – Eu escolhi não pensar nisso por enquanto até que não esteja tudo realmente definido. É como escolher como vai gastar o dinheiro sem ter o resultado da loteria. Vamos vencer a loteria antes.
Danilo Fredo – O que você acha de Emeralds ou Thunder?
Jonh Barr – Emerald é um nome que tem aparecido frequentemente. Thunder eu acho que não funcionaria por que os Sonics viraram Thunder em Oklahoma e apesar de chover muito aqui, não temos tantos trovões.
Danilo Fredo – Você tem alguma mensagem para enviar aos fãs de hóquei brasileiros?
Jonh Barr – Eu lembro de me sentir inspirado com a história do Distant Thunder, torcedor brasileiro do Tampa Bay Lightning e fiquei pensando o quanto isso é incrível (acompanhar um time de tão longe). Eu espero que Seattle crie a mesma expectativa com os fãs brasileiros.
Acompanhe o trabalho de John Barr pelo site NHLtoSeattle.com.
*Por Danilo Fredo
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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor, não refletindo necessariamente a opinião do portal The Playoffs.
(Foto: Reprodução Twitter/John Barr)