O grande erro de Boston e a evolução de Seguin
Os Bruins desperdiçam mais um grande talento e pagam caro por isso
Conhecido por ser um dos jovens mais talentosos dos últimos drafts na National Hockey League, o central Tyler Seguin segue impressionando a todos nos últimos dois anos com a sua habilidade em pontuar e liderar, algo que não era muito esperado devido a sua turbulenta passagem pelo Boston Bruins, franquia que o recrutou em 2010.
Logo no draft em que foi escolhido, Seguin já enfrentava uma batalha em sua carreira, onde travou uma pequena rixa com Taylor Hall, atual ponta esquerda do Edmonton Oilers, pela primeira colocação no ranking de prospects da Central Scouting. Os Oilers na verdade fizeram de tudo para que os Bruins trocassem a segunda escolha geral no evento, obtida na troca por Phil Kessel com o Toronto Maple Leafs, para que pudessem selecionar ambos os atletas.
No entanto, o clube de Massachussets disse não, obrigado, para a proposta feita por Edmonton e escolheu a jovem promessa. O central tinha um potencial ofensivo gigantesco, porém as suas falhas eram tão visíveis quanto suas qualidades, começando com as vitórias de faceoffs – algo extremamente necessário para alguém que joga em sua posição.
Na verdade, este é um problema que persegue Tyler até hoje, pois desde sua época de Boston Bruins nunca conseguiu superar a marca de vencer 50% das disputas e com isso teve sua presença nos círculos de faceoffs cada vez mais reduzida, pelo menos em sua primeira equipe.
Apesar de ser sempre um dos jogadores mais rápidos a estar no gelo, Seguin constantemente perdia as batalhas pelo disco, tudo para evitar o contato físico de seus adversários, um grande erro a ser cometido na NHL onde a intensidade é muito grande. Ele sempre procurou ficar de fora de qualquer trombada mesmo sendo um garoto forte, que nunca ficava sem passar na “sala de pesos”.
Com isso, perdeu o espírito de competição, algo que irritou muito a diretoria dos Bruins. Talvez esses pequenos detalhes junto com as fracas atuações do atleta na pós-temporada resultariam em sua saída da equipe, além do salary cap que é o próximo ponto a recapitularmos.
Antes do lockout que basicamente cortou metade da temporada regular de 2012, ele, Brad Marchand e Milan Lucic se tornariam restricted free agents (RFA) ao término do ano e com isso a diretoria dos Bruins pareceu ter entrado em colapso, oferecendo contratos ruins a seus atletas. Seguin no caso recebeu a oferta de uma expansão de seis anos, US$ 34.5 milhões.
Porém, graças ao novo collective bargaining agreement (CBA) instituído pela liga em Janeiro, o cap space das franquias diminuiriam de US$ 70.2 milhões para US$ 64.3 milhões. Com isso, era mais do que óbvio que a equipe precisaria se livrar de algumas peças e Seguin, depois de toda a listagem feita acima, era um forte candidato a dizer adeus.
Peter Chiarelli, general manager de Boston, anunciaria no dia 4 de julho de 2013 a tão polêmica troca que enviaria Tyler Seguin, Rich Peverley e o prospect Ryan Button para o Dallas Stars por Loui Eriksson, Reilly Smith, Joe Morrow e Matt Fraser. Na época, a troca parecia ter sido excelente para ambas as equipes, apesar do grave erro da franquia em se livrar de sua grande promessa, algo que seria confirmado nos dias atuais.
Eriksson acabaria sofrendo com lesões além de uma decepcionante temporada, o que se repete até determinado momento. Smith acabou sendo uma grata surpresa para o time mesmo caindo um pouco de produção em 2014, enquanto Morrow e Fraser seguem igual a Eriksson, não correspondendo as expectativas que lhes foram proporcionadas.
Nos Stars, Peverley por sua vez se mostrou importante exercendo o papel de two-way forward (jogador que exerce papéis ofensivos e defensivos) nas linhas inferiores da equipe, além de uma posição crucial no penalty kill. Button foi apenas uma moeda de troca e continua nas ligas menores, trabalhando para se desenvolver e um dia ser promovido a NHL e atuar no terceiro par da defesa do time texano.
Como nem tudo pode ser perfeito, Peverley se machucou e segue na lista dos contundidos, onde não saiu até agora para disputar sua primeira partida na temporada atual, por Dallas. A troca de ares fez muito bem para Seguin, pois os Stars ofereceram algo a ele que os Bruins não fizeram: uma posição fixa na primeira linha e a oportunidade de ser um dos líderes da franquia.
Motivado, com “sangue nos olhos” por ser chutado de Boston, além de ter desenvolvido uma química fantástica com Jamie Benn em seu primeiro ano (2013) na nova equipe, o central viria a anotar 84 pontos na temporada regular, suficiente para se tornar o quarto melhor colocado na pontuação geral entre todos os atletas da liga.
Era oficial, Tyler Seguin havia explodido na NHL. Nessa campanha de 2014, a crescente do jovem jogador aumentaria ainda mais, com o mesmo agora buscando a liderança da liga em pontos com 42, além de ser líder de gols com 25 em 33 partidas, fora que se conseguir manter esse ritmo – desconsiderando lesões – pode alcançar a marca dos 105 pontos, números extraordinários e que finalmente correspondem a sua expectativa desde quando foi escolhido no draft de 2010.
Com isso, a decisão de Boston de negociar o talentoso atleta “a preço de banana” se mostrou ter sido um erro grotesco por parte da diretoria, onde em troca receberam jogadores que não correspondem às expectativas e menos ainda se encaixam no estilo de jogo físico e agressivo dos Bruins que estamos tão acostumados a ver.