No apagar das luzes da temporada regular, Calgary Flames acende novo capítulo da história
Flames "queimam" seus últimos cartuchos sem Giordano em uma corrida frenética pelos Playoffs após cinco anos de ausência
Ressurgir das cinzas. Esse é o mote do Calgary Flames durante a temporada 2014-2015, em uma briga constante pelo Wild Card da Conferência Oeste. Com um recorde de 36-25-05, os Flames vivem um purgatório e tentam provar à NHL que a franquia pode ser uma equipe de presença nos Playoffs, mesmo tendo no currículo a conquista de uma única Stanley Cup em 1989.
A próxima fase da disputa que se inicia daqui há pouco menos de 15 jogos reascendeu no torcedor uma chama de esperança embalada pelo desempenho do time nos últimos meses, mas precisamente em fevereiro, quando os comandados de Bob Hartley passaram a desafiar as famosas estatísticas avançadas da liga e engrenaram incontáveis comebacks.
Paralelo a isso, os Flames estão a cinco anos sem saber qual é o gosto de jogar uma disputa de Playoffs. Sua última participação em uma final da Stanley Cup é ainda mais longa e ocorreu na temporada 2003-2004, quando o time comandado por Darryl Sutter, atual técnico do Los Angeles Kings, encarou um Tampa Bay Lightning inspirado de Vicent Lecavalier e Martin St. Louis vindo a ser derrotado.
Naquele tempo, Sutter transformou uma franquia que marcava em média 70 pontos em um time competitivo que passou a conquistar 90 em média. O treinador passou ainda oito anos nos Flames, onde chegou a ganhar um cargo de confiança da franquia ao assumir o posto de general manager em 2007.
Durante esse momento, Sutter foi levado à fogueira por decisões equivocadas de transferência, onde seu irmão Brent Sutter acabou por assumir em um período conturbado da equipe com uma brusca queda no rendimento registrado entre 2009 e 2012. Foi nesse período de trevas dos Flames que a franquia passou a ficar de fora da corrida dos Playoffs e se tornar esquecida por atuais cinco anos.
Herói ou vilão?
O “ of Red”, como ficou conhecido o marketing da torcida criado durante a guerra pela Stanley Cup em 2004, permanece em brasas desde então. Mesmo com atuais 77 pontos e uma terceira e incômoda colocação na Divisão do Pacífico, os Flames parecem ter acordado e se preparam para talvez encarar uma nova rodada de Playoffs em 2015.
A equipe recém-construída por Bob Hartley, o técnico franco-canadense que conquistou uma Stanley Cup em 2001 com o Colorado Avalanche, além de um recente Campeonato Suiço em 2012 com o ZSC Lions, aposta em novos jogadores: velozes e jovens.
Atualmente, sob o comando de Hartley, o desempenho fora de casa possui um índice de 19 vitórias, 13 derrotas e 2 perdas no tempo extra. A estatística é praticamente a mesma performance obtida nos jogos em casa onde os Flames somam 17 vitórias, 12 derrotas e 3 perdas no tempo extra.
Os números revelam um equilíbrio de um time que pouco se intimida no território do inimigo. Tudo isso se torna impressionante se formos levar em consideração que no plantel existem cinco estreantes e oito jogadores com menos de 24 anos. No próximo ano, a equipe será reforçada ainda mais com o talento juvenil, mas balizada pela chegada do central Sam Bennett (atualmente na OHL), de 18 anos, além de contar com a evolução dos promissores ala esquerda Emile Poirier, de 20 anos, e do defensor Tyler Wotherspoon, de 21 anos.
Mesmo com a recente ausência do defensor e capitão do time, Mark Giodano, há pouco menos de uma semana, a equipe que poderia parecer abalada demonstrou justamente o contrário nos últimos quatro jogos. Os Flames venceram três partidas seguidas fora de casa, sendo dois jogos dramáticos contra o Philadelphia Flyers por 3 a 2, no tempo extra, e Boston Bruins por 4 a 3 no shutout (SO).
Sem a qualidade de Giodano, Kris Russel assumiu os disparos de longa distância e Dennis Wideman vem se apresentando de maneira ofensiva. Além dos dois, a experiência e precisão dos disparos do tcheco Jiri Hudler garantem até aqui a atual posição da equipe.
Essa qualidade, ou talvez sorte como alguns queiram acreditar, impulsiona o time que permanece na margem da linha de corte dos Playoffs, mas que busca no seu âmago a construção de uma química entre as linhas de frente que possui como destaques Sean Monahan e Jhonny Gaudreau.
No último jogo contra o Ottawa Senators, no dia 9 de março, a equipe que aparecia nos status avançados da liga com uma posse do puck entre 40% e 50%, perdia de quatro a zero nos dois primeiros períodos. Como vem acontecendo com frequência, por alguma razão e aí a matemática não explica tudo, a equipe desenvolve o melhor terceiro período da NHL ao reverter jogos importantes. Foram quatro gols no terceiro período que levaram o jogo para o SO, onde os Senators tiveram a melhor por 5 a 4.
Está óbvio para qualquer um que assiste esses garotos jogarem. Há algo realmente especial acontecendo aqui. #Flames
— Roger Millions (@RogMillions) March 7, 2015
Uma fênix chamada Calgary Flames?
A vida é cheia de ciclos, começar um novo depende de como se lida com a decepção anterior. No caso dos Flames as decepções são históricas, mas a franquia precisou detonar toda sua estrutura para renascer reconstruída, assim como o mito da fênix, que antes da morte entra em combustão e renasce em meios as cinzas de uma nova existência. Bob Hartley faz parte desse novo ciclo iniciado em 2012.
Assim, pela primeira vez neste século XXI, o atual modelo do Calgary Flames não sente saudades da “Era Iggy”, onde Jarome Iginla dava o sangue, corpo e alma, literalmente, pela equipe ao ser o centro ofensivo – com poder de fogo nos disparos – como defensivo – de marcação e intimidação.
Em uma franquia que na virada do século valorizou a defesa como performance inquestionável – que o diga o ídolo Miikka Kiprusoff -, a atual construção de Hartley deixa definitivamente a “Iggy dependência” de lado. O time já provou ter uma alta capacidade de recuperação e ainda, acima de tudo, não joga mais em função de um único jogador.
Essa dinâmica dos Flames não é extraordinária, longe disso, mas renasce em um momento crucial e surpreendente de uma franquia esquecida das principais disputas da NHL.
Será que esse modesto avanço no Wild Card é um fogo de palha? Bom, talvez seja nesta temporada, mas nas próximas o time parece alimentar as labaredas certas com novas lenhas. Hoje nós vemos apenas uma fumaça, mas amanhã um incêndio pode ser desencadeado. E “onde há fumaça, há fogo”, já dizia a máxima popular. É bom não contrariar.