Joe Sakic e a fé no passado
A história de um astro do esporte que precisa se apegar em vitórias passadas para vencer no presente
Ídolo da torcida do Colorado Avalanche no passado e general manager da franquia desde a temporada 2014-15, Joe Sakic vive uma situação delicada, e sabe que para tirar o time de Denver da pior fase de sua história, precisa agir com inteligência e precisão – como nos tempos de jogador, quando vestia o uniforme e mudava o rumo das partidas. Para isso, nada melhor do que procurar no passado as soluções para o presente. Só assim é que Sakic se transformará no nome perfeito para liderar a retomada dos Avs.
Mas com o novo cargo, ele vem adquirindo muitos cabelos brancos para montar um time competitivo. Uma “avalanche” de desertores enfraquece a sua equipe a cada ano. Entre os debandados, nomes importantes como: Patrick Roy – treinador que saiu declarando divergências com os planos de Sakic, de quem foi colega nos bons tempos da franquia -, Ryan O’Reilly, Jamie McGinn, Paul Stastny – filho de Peter Stastny, ídolo do Quebec Nordiques dos anos 80 e 90 -, Nick Holden e muitos outros, deixando uma imagem de solidão e insignificância do hóquei em Denver.
O que é ruim pode ficar ainda pior.
Já, sob o comando de Jared Bednar, o Colorado Avalanche fez a pior campanha da liga com 56 derrotas na temporada passada, e devido a uma mudança na regra ocorrida em 2014, o time ficou com a “injusta” 4ª escolha de Draft após o sorteio, inviabilizando a seleção dos forwards Nico Hischier ou Nolan Patrick. Em um dos recrutamentos mais fracos em termos de talento, Sakic optou por um defensor de apenas 19 anos que atua na NCAA, Cale Makar, mas que deve demorar ainda mais algum tempo até que esteja pronto para atuar no nível de exigência da NHL.
Com um elenco limitado, repleto de apostas e muitos jogadores em seus últimos anos de contrato, Sakic estava com as mãos atadas, e o pedido de liberação de Matt Duchene, a princípio, pode parecer algo ruim, mas veio em um momento mais que perfeito para os Avs somarem bons prospectos com o retorno da transação.
Shane Bowers é ainda muito jovem, mas tem o talento para ser um jogador de destaque do time nos próximos anos. Vladislav Kamenev já experimentou alguns minutos atuando pelo Nashville Predators, mas deve viver nesta temporada com as malas prontas, viajando entre Denver e San Antonio, onde defenderá o Rampage, pela AHL. Já Samuel Girard é a peça de maior impacto para o Colorado Avalanche e preenche os requisitos básicos das exigências de Sakic por Duchene desde a pré-temporada, quando surgiram os primeiros rumores sobre a saída do maior artilheiro da era deste comandante à frente do time.
Mesmo com as adições, o time principal não deve ir muito longe nesta temporada. A chance de obter uma nova pick alta é eminente, e uma safra de bons jogadores parece estar chegando, para alívio do GM. Com um pouco mais de sorte, Sakic pode adicionar “potencial com efeito imediato” em todas as posições como: Rasmus Dahlin, Adam Boqvist, Andrei Sveshnikov ou Filip Zadina. Mas a reconstrução leva tempo e, nos dias de hoje, a pressão por resultados pode afetar um projeto a longo prazo.
É impossível não comparar a famosa história de Eric Lindros com o Quebec Nordiques em 1991, com a de Matt Duchene, nos tempos atuais. Os dois decidiram não enfrentar o rebuild e foram trocados por jovens atletas. Seguindo os passos de Maurice Filion e Pierre Pagé (managers dos Nordiques na virada da década de 80 para 90), agora Sakic tem o desafio de selecionar minuciosamente quem são os prospectos que podem se tornar os novos campeões da liga no futuro, como foram: Peter Forsberg, Mike Ricci, Adam Deadmarsh, Owen Nolan, entre outros.
Joe Sakic foi selecionado pelos Nordiques quatro anos antes do episódio Lindros, e passou a assumir um papel de destaque dentro e fora do gelo. Mas teve de trabalhar com muita paciência para ajudar sua equipe a sair dos anos mais obscuros de sua história. Na verdade, eles chegaram ao fundo do poço na temporada 1989-90, perdendo 61 das 80 partidas realizadas naquele campeonato, e entraram para o vexatório grupo das dez piores campanhas da história da NHL. Cansado das perguntas relacionadas à situação de Lindros, Sakic, como capitão do time de Quebec, disse:
“Nós só queremos aqui jogadores que joguem com amor. Estou cansado de ouvir o nome dele (Lindros). Ele não está aqui. Existem outros jogadores no vestiário que se importam com o jogo”. Quatro anos mais tarde, ele finalmente levantou o troféu mais cobiçado entre os amantes do esporte.
A situação narrada acima é um bom exemplo de paciência e liderança que coloca frente a frente aquele time de Quebec, liderado pelo jovem Sakic, com este de Colorado, gerido pelo “Sr. Sakic”, o homem que toma as decisões mais difíceis no front office.
Joe Sakic se aposentou no dia 9 de julho de 2009, ocasião em que disse: “Estou deixando o hóquei sem nada além de grandes lembranças”. Ele só não imaginava o quanto seria importante se recordar desses tempos.
(Fotos: Reprodução Facebook/Colorado Avalanche)
*Por Danilo Fredo
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