Glória azul: O que fez do St. Louis Blues o mais novo campeão da NHL
Pai de Ryan O'Reilly revela o segredo por trás do título inédito do St. Louis Blues na Stanley Cup 2019
Apesar da linda história que envolve a torcedora Laila Anderson e as belas imagens dela no gelo abraçada com Colton Parayko beijando a taça Lord Stanley, confesso que ver o St. Louis Blues campeão da Stanley Cup em 2019 causa uma certa estranheza, uma vez que nos últimos anos, a NHL vem seguindo um estilo de jogo muito mais veloz e dinâmico do que o apresentado pelo time do Missouri. Mesmo a equipe derrotada na final, o Boston Bruins, também não carrega consigo tal característica. Apostar em times como o Calgary Flames, Vegas Golden Knights, Pittsburgh Penguins, Tampa Bay Lightning tem sido mais prudente. Por isso, passei um bom tempo me questionando sobre o que de fato este time tem de especial para ser escolhido pelos deuses do hóquei no gelo a colocá-los no topo do mundo, entrando para a história depois de 52 anos de existência.
Quase desistindo da resposta e pronto para cair na tentação de falar apenas sobre a espetacular reviravolta com a chegada de Jordan Binnington ao time, e Craig Berube assumindo o comando técnico de Mike Yeo – de quem eu sempre disse que não confiava nem um pouco por conta da decepção que ele causou aos torcedores do Minnesota Wild, desde os tempos de podcast -, me deparei com as palavras que iluminaram a campanha toda deste time. O autor foi o pai de Ryan O’Reilly, um dos principais heróis do título.
Amazing. #StanleyCup pic.twitter.com/KJDQvDb072
— NHL GIFs (@NHLGIFs) June 13, 2019
O velho O’Reilly respondia aos jornalistas sobre a jornada de seu filho e resumiu as seguidas trocas de franquia de Ryan, saindo de Colorado (Avalanche) de uma forma não muito amistosa, e depois a troca com o Buffalo Sabres para os Blues, da seguinte maneira: “Meu filho é resiliente e tem uma força mental incrível. Ele pedia para jogar ao lado de atletas que não aceitassem a derrota”.
Pronto! Tudo faz sentido agora! Para contrariar toda uma tendência e quebrar um encanto de 52 anos, é preciso ter algo a mais, e os Blues tinham: ambição e resiliência!
Se reorganizar, se reestruturar, acreditar em si e nos companheiros, sentado na última posição geral da tabela é um trabalho para quem tem ambição e resiliência. É o ritmo que te move e faz cada vitória harmonizar ainda mais o elenco, a atmosfera muda conforme as nuvens negras vão se afastando e o céu é o limite nestas circunstâncias. Foi exatamente o que aconteceu com os Blues nesta temporada mágica.
Bobby knew. #WeAllBleedBlue #stlblues pic.twitter.com/5iV22IK8z9
— St. Louis Blues (@StLouisBlues) June 14, 2019
Mas, se engana quem acha que a história desta franquia tem qualquer semelhança com o carrossel vivido nesta temporada. Recentemente, o site The Athletic publicou um ranking dos times que mais somaram pontos durante a temporada regular nas últimas temporadas. O St. Louis Blues estava na segunda posição geral, atrás apenas do Washington Capitals, campeão no ano passado. Portanto, esta é uma franquia que está sempre entre as melhores em uma divisão difícil que é a Central, em que estão times como Chicago Blackhawks, Nashville Predators entre outros.
Os Blues frequentaram os playoffs em 83% das 52 temporadas de sua existência. Os piores anos da franquia foram entre 2006 e 2011, exatamente o período dos dois últimos títulos dos Cardinals na MLB, a grande equipe da cidade de St. Louis. Foi também nesta época que o gerente geral Doug Armstrong assumiu o comando e reconduziu a franquia para o caminho correto.
The St. Louis Blues are Stanley Cup Champions! #TeamSTL #WeAllBleedBlue pic.twitter.com/lkZ9QVvIhg
— St. Louis Cardinals (@Cardinals) June 13, 2019
O que isso quer dizer? Bem, o torcedor dos Blues não está acostumado com fracassos apesar das constantes eliminações em jogos decisivos. Doug Armstrong trouxe este pensamento para dentro do escritório e desde 2010, ele vem implementando suas estratégias para manter o time no topo da Divisão Central, uma das melhores de toda a NHL por anos. Vejam, é exatamente este sentimento que une as características da franquia e de seu jogador mais importante durante a série final, Ryan O’Reilly. Ambos não aceitam a mediocridade.
Para alcançar o lugar mais importante deste esporte e ter seu nome marcado na taça para sempre, Armstrong foi muito valente. Ele não teve medo de fazer autocrítica. Não teve medo de reconhecer que algumas de suas apostas não funcionaram e com isso, enfrentou a opinião pública e fez o que acreditava que era necessário. Diante das consecutivas eliminações, demitiu o lendário treinador Ken Hitchcock e posteriormente, a jovem promessa Mike Yeo. O GM dos Blues também negociou nos últimos anos a saída de jogadores queridos da torcida como TJ Oshie, Kevin Shattenkirk, David Backes e Paul Stastny, mas nunca deixou o time enfraquecer.
Nesta temporada, a aposta foi em Ryan O’Reilly, mas com ele ainda vieram outros conhecidos role players como Tyler Bozak, e os repatriados Pat Maroon e David Perron. A conversa da pré-temporada era em um time sendo montado para ganhar o título. E como é curioso ver a expressão das pessoas que caçoavam deles até janeiro deste ano.
Com um elenco forte, faltava uma boa estratégia. Mike Yeo foi uma decepção e sobrou para Craig Berube a missão de extrair o que estes jogadores tinham de melhor. Como um fermento de bolo, Berube deu liga e fez o time crescer. O próprio O’Reilly falou sobre isso: “Demorou um pouco, mas definimos o estilo de jogo. Onde queríamos que o adversário tivesse dificuldade para nos vencer, e o grupo foi pegando forma. Logo percebemos que tínhamos que defender bem, além de abrir os jogadores pelas bordas, assim ganharíamos muitos jogos. Foi exatamente o que aconteceu, mas não foi fácil. Tivemos que lutar bastante”.
Tem um cara que merece um texto exclusivo. O nome dele é o goleiro Jordan Binnington. O que ele fez, principalmente no jogo 7, em Boston, terreno conhecidamente hostil, é digno de atenção e registro histórico.
Por fim, quando pensarmos sobre a temporada 2018-19 com título do St. Louis Blues, vamos lembrar da escalada incrível do time na tabela, vamos lembrar de Laila Anderson, das trapalhadas das zebras, de Binnington, mas não podemos esquecer duas palavras: ambição e resiliência.
A mediocridade não tem espaço na vida de quem quer ser um autêntico campeão.
If this doesn't give you chills then not sure what will. @StLouisBlues fans have been waiting a long time for this. #StanleyCup pic.twitter.com/frboeLuHkV
— Bally Sports Midwest (@BallySportsMW) June 13, 2019
(Foto: Divulgação Twitter/StLouisBlues)