Estados Unidos e Rússia revivem ‘Guerra Fria’ no gelo do Mundial de Hóquei
Nas semifinais do Mundial, confronto entre americanos e russos relembra fato histórico e político.
Qualquer aluno de história do ensino médio já ouviu falar da Nova Ordem Mundial. Aquele assunto que pode ser um pouco maçante, mas que era ensinado pelo professor e que sempre culminava em uma tal de Guerra Fria, um evento não definido em campo de batalha direto entre Estados Unidos e União Soviética. Tudo não passou de um perigoso conflito ideológico unido a um jogo de influência geopolítica… Mas alguns detalhes sobre esse período passam um pouco despercebidos.
O que o seu professor não sabe – e você como amante dos esportes deve saber – é que os dois atores globais caíram em campo, ou melhor, quebraram o gelo das ameaças em um informal confronto na disputa pela medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1980, em Lake Placid, nos Estados Unidos. Drago contra Rocky Balboa? Bom, foi literalmente isso.
O “Milagre no Gelo”, como ficou conhecida a histórica vitória da seleção americana (formada por jogadores universitários que estavam fora da NHL) sobre a imbatível seleção soviética (formada por experientes e vitoriosos atletas), ocorrida em 22 de fevereiro daquele ano, acabou de fazer 35 anos em 2015, mas o duelo será realmente comemorado durante o confronto deste sábado (16), às 14h15 (com transmissão do SporTV 3) entre Estados Unidos e Rússia, pelas semifinais do Mundial de Hóquei no Gelo da IIHF.
O mundo mudou bastante desde então. Um muro de Berlim caiu, mas novas tensões foram criadas na Ucrânia no início deste ano e que colocam Washington e Moscou novamente frente a frente. No hóquei, a tradição desse jogo vai ser sempre lembrada como algo maior do que uma simples disputa esportiva. A rivalidade iniciada durante a Guerra Fria marcou época, dividiu e inspirou duas nações em uma batalha campal entre o socialismo e capitalismo… Mais do que isso, o confronto do “Milagre no Gelo” é considerado por revistas como a Sports Illustrated como o maior momento histórico dos esportes já vivido.
Podemos dizer ainda que o contexto político e a sagacidade da conquista coloca qualquer vitória da seleção brasileira de futebol em um patamar menor de importância. Sem querer desmerecer nossas conquistas, claro, mas nem a derrota sofrida para o Uruguai em 50 comoveu tanto uma nação como a dos americanos pelo viés moral, político e econômico originados logo após a conquista da medalha de ouro no hóquei.
O impulso nasceu da vitória de 4 a 3 sobre os soviéticos, considerado por muitos como algo “impossível de acontecer” e que, segundo os jornais da época, só pôde ser operada por uma dádiva divina. Não há exagero algum em afirmar isso. Essas palavras cunhadas pela própria imprensa americana demonstra o cenário de crise em que vivia o país que não apostava 1% de chance na vitória da sua seleção antes de vê-la acontecendo com os próprios olhos.
Anos mais tarde, a Guerra Fria do gelo ganhou um filme que exaltou a conquista do técnico Herb Brooks, famoso pelo seu jeito “durão” similar ao método de trabalho do nosso Luiz Felipe Scolari. Longe também de serem os bandidos (vilões) ideológicos da América, os homens que vestiram o famoso uniforme vermelho em “CCCP” eram atletas excepcionais formados pelo genioso técnico Anatoli Tarasov. Tricampeões mundiais (68, 72 e 76) eles foram ainda medalha de ouro em 56, 64 e 68, além de fazerem frente principalmente contra o Canadá que é a maior referência esportiva.
Às vésperas das Olimpíadas, americanos e soviéticos se enfrentaram em um amistoso no Madison Square Garden, em Nova Iorque, mas com a vitória vermelha por 10 a 3. Bater a União Soviética naquela olimpíada era realmente “impossível”, mas isso aconteceu.
Guerra Fria esfriada?
Nos dias de hoje, o confronto é ainda marcado pela rivalidade extracampo. Sem perder o tom do bom humor, o jovem atleta russo de 24 anos Artemi Panarim declarou, na última sexta-feira (15), que a “Rússia precisa ensinar uma lição para esses jovens universitários americanos”. Relembrando a derrota em 80.
O time russo vem de uma derrota por 4 a 2 na fase de grupos para os Estados Unidos, mas agora conta com o retorno do artilheiro da primeira fase da NHL, Alexander Ovechkin, de 28 anos, e da moral ao ter vencido os atuais vice-campeões mundiais, a Suécia, por 5 a 3.
Diferentemente da década 80, esse time americano apesar de jovem – média de idade de 23 anos – conta com 17 jogadores da NHL. Entre as promessas está a escolha de número 2 do Draft de 2015, Jack Eichel, de 18 anos, que anotou dois gols e quatro assistências.
Na outra chave jogam Canadá e República Tcheca (anfitriã do evento) para decidir quem sobe para a final.
Veja o contexto do confronto (sem legendas em português):