Como Willie O’Ree abriu portas para os negros na NHL
No dia da Consciência Negra no Brasil, o The Playoffs traz um pouco da história de como um homem mudou o hóquei
Até o dia 18 de janeiro de 1958, a National Hockey League era uma liga extremamente intolerante, assim podemos dizer, em que somente os brancos jogavam hóquei e poderiam torcer pelas equipes.
Mas tudo mudou naquele fatídico dia, quando o então treinador do Boston Bruins, Milt Schmidt, colocou o jovem Willie O’Ree, com 23 anos, para jogar sua primeira partida na liga. A estreia de jogadores em todos os esportes era normal, mas esta mudaria e tornaria um rumo diferente das demais, pois Willie era negro e nessa época, a segregação racial estava em seu auge, um período obscuro da história dos Estados Unidos.
Além de ser essa estreia, os Bruins enfrentavam o Montreal Canadiens, rivalidade esta que se tornou o símbolo da diversidade na NHL. Era um jogo de back-to-back, onde em Montreal, os Bruins venceram por 3 a 0 e em Boston, perderam por 6 a 2. Os resultados foram o menos importante daqueles jogos, pois a história havia sido escrita a partir daquele momento.
O’Ree disse a Nicole Mollinaro, idealizadora do livro lançado em 2000, intitulado “Willie O’Ree: A história do primeiro jogador negro na NHL”, como ele se sentiu naquele dia: “As luzes estavam mais brilhantes, os fãs pareciam mais elegantes e ninguém me insultava com ‘nomes’”.
Antes disso, existia a Coloured Hockey League, uma liga jogada apenas por negros, que se perdurou de 1895 até 1920. Willie abriu o gelo, literalmente, para que seus irmãos pudessem jogar na liga, como Ramum Ndur, primeiro jogador africano, Mike Grier, primeiro afro-americano e Jhonny Oduya, primeiro afro-europeu.
Outro jogador a fazer história foi Grant Fuhr, primeiro goleiro negro da liga, o primeiro a vencer uma Stanley Cup e o primeiro a chegar ao Hall da Fama do hóquei no gelo. Talvez por ter sido o primeiro a ser indicado ao “Olimpo” do hóquei, seu nome seja mencionado com mais frequência do que os outros jogadores.
Five Stanley Cups and an always-cool demeanor.
Grant Fuhr is one of the 100 Greatest NHL Players. #NHL100
Bio: https://t.co/oYoiQAYDz3 https://t.co/HcSCwI3WgS— NHL (@NHL) April 9, 2017
O hóquei em suma ainda tem que evoluir muito. Ainda há casos de injúria racial e racismo dentro da liga. Voltamos ao passado, quando os Bruins, o mesmo time que lançou O’Ree, enfrentavam os Canadiens e a torcida de Boston insultou P.K. Subban, com gritos racistas, ou até mais recentemente, quando em apoio aos seus colegas de outras ligas, J.T. Brown levantou seu punho cerrado, lembrando o símbolo dos panteras negras, e foi apedrejado de insultos em sua rede social, com muitos pedindo que ele fosse expulso do Tampa Bay Lightning.
Na história, apenas 84 jogadores negros pisaram em um rinque de gelo para disputar uma partida pela NHL. Agradecemos à velha guarda negra do hóquei, pois deram sua cara a tapa, para que o esporte fosse um pouco menos elitizado e que muitos jovens afrodescendentes pudessem sonhar em botar seus patins, segurar seus sticks e marcassem seus gols na vida.
(Crédito na foto: Reprodução/Site Oficial da NHL)