Cine The Playoffs – Desafio no Gelo
Com castigos severos e poucas palavras, treinador guia EUA à glória no hóquei contra arquirrivais após 20 anos de decepções
Liderar em tantas modalidades esportivas tornou os Estados Unidos mal acostumados. A maior motivação para um atleta ou equipe norte americana é quebrar recordes e destacar-se perante seus adversários. O segundo lugar e o último valem, tecnicamente, a mesma coisa. Imagine então um time nacional que não venceu nas cinco últimas edições da competição mais importante do gênero.
Essa é a situação em que a seleção estadunidense de hóquei se encontra quando Herb Brooks (Kurt Russell), um técnico veterano natural de Minnesota, assume a tarefa de guiar o time nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980 – equipe essa que não se destaca no torneio desde 1960 e precisa enfrentar a maior potência mundial no esporte que é, coincidentemente, o “grande inimigo da América” em plena Guerra Fria: a União Soviética.
O mantra de Herb é a quebra de padrões. Quando a comissão técnica reúne os melhores jogadores do país para uma semana de testes e audições a fim de selecionar os 26 atletas pré-selecionados para os Jogos, o técnico, em seu ato inaugural no cargo, vai na contramão do senso comum e, logo no primeiro dia, diz a seu assistente Craig (Noah Emmerich) que já tem os nomes escolhidos, contrariando o comitê acostumado à mesmice. Essa é a dinâmica que permeia os 135 minutos de Desafio no Gelo (EUA, 2004, Dir.: Gavin O’Connor): a tensão constante entre o que os outros esperam que o treinador faça e o que ele realmente se propõe a fazer.
A forma com que Herb lida com os jogadores também tem altos e baixos que refletem a personalidade do treinador. O melhor exemplo é o momento em que o técnico precisa cortar o último dos seis jogadores extras para fechar a lista que disputará a medalha em poucas semanas. Herb, quando atleta, sofreu muito por ter sido cortado uma semana antes de sua equipe seguir para os Jogos de 1960 e sair vitoriosa – um amargor que Herb quer superar ao treinar a equipe nacional.
A aspereza com que, inicialmente, Herb trata a todos – após uma derrota, por exemplo, o treinador faz com que os atletas treinem até a luz do ginásio literalmente se apagar – parece ser assimilada tanto por Craig, que se tornar seu fiel escudeiro, quanto por sua equipe à medida que os resultados começam a aparecer. A austeridade parece ser a arma secreta para trazer à tona o máximo que os jogadores podem entregar. Mesclando a pressão dos treinos e a importância de conquistar o ouro olímpico após 20 anos, Herb encontra a receita para, enfim, alcançar o fruto do merecimento – para ele, sua equipe e sua nação.
Um dos diferenciais da produção é o fato de o clímax não acontecer no momento da entrega das medalhas – os Estados Unidos, obviamente, alcançam seu merecido mérito -, mas em um dos jogos das semifinais, ao enfrentar seu nêmesis encarnado na equipe soviética. Na tela presenciamos um duelo limpo, bem filmado e narrado na medida certa, que mostra todo o esplendor que o esporte pode oferecer para experts e leigos.
Ao vencer, Herb acena um sorriso para o técnico adversário, que lhe responde timidamente com um meio sorriso. A simbologia desse momento é única: mesmo em meio a um dos momentos mais tensos da história dos dois países, ambos sabem que, no final, o que importa pra eles é o que acontece dentro da quadra.
Confira o trailer de Desafio no Gelo: