Uma Nova Era: Joe Douglas acerta na troca de Jamal Adams
General manager ainda está no início do trabalho, mas mostra grandes acertos nas escolhas até o momento
No último sábado (25), o New York Jets confirmou a troca de seu melhor jogador, Jamal Adams, para o Seattle Seahawks. O preço? Duas escolhas de primeira rodada do Draft, uma escolha de terceira e o safety Bradley McDougald. A saída do safety vai impactar sensivelmente a defesa dos Jets, uma vez que Adams era a peça sobre a qual o playbook se desenhava.
Como acontece em cada troca realizada entre as franquias da liga, tentamos entender e analisar quem são os maiores vencedores das negociações. De um lado, os Jets perdem um jogador absolutamente único, reunindo escolhas para continuar o seu processo de reconstrução. Obviamente, o time terá dificuldades bem maiores agora, pois o calendário é bem complicado e sua defesa que já era fraca, piorou. Do outro lado, os Seahawks entregam duas escolhas de primeira rodada por um safety, na esperança de que Pete Carroll crie um Kam Chancellor 2.0 em Seattle.
À primeira vista, parece que ambos venceram na troca. Mesmo que pareça caro pagar duas escolhas de primeira rodada por um safety, não acredito que os Hawks conseguiriam extrair metade de um Jamal Adams com essas duas escolhas. Ao observarmos as últimas adições de primeiro dia da franquia, vemos escolhas muito questionáveis e pouco impacto dentro de campo.
Com a saída de Jadeveon Clowney, a defesa do Seahawks precisava de mais talento de forma urgente – Bobby Wagner não consegue cobrir todo o ataque. Agora, mesmo que no papel o time seja bem questionável, sabemos que Russell Wilson vai conseguir vitórias que só ele (e Mahomes) conseguiriam, e a defesa terá um pouco mais de variabilidade. Ainda que seja visto como um box safety, Adams consegue executar qualquer função, desde marcações individuais – abre o olho, George Kittle – até coberturas de fundo do campo.
Hoje, o produto de LSU é o melhor safety da NFL. De longe. Em 2019, mesmo sendo um jogador de secundária, foi o segundo que mais aplicou tackles, o líder em sacks, além de ter conseguido forçar fumble e interceptar, ambos retornando para touchdown. Poucos jogadores conseguiriam produzir tanto e, com mais talento em volta e um treinador criativo, aposto que conseguirá produzir ainda mais.
Contudo, o grande vencedor desta troca não é o Seattle Seahawks, nem Pete Carroll, nem mesmo o próprio Jamal Adams, que agora joga em uma franquia realmente competitiva. A pessoa que mais tem motivos para sorrir, para mim, é o general manager dos Jets, Joe Douglas. Em sua primeira offseason, o novo chefe da Gang Green priorizou a linha ofensiva, fez um ótimo Draft e, agora, deixou claro que não importa o talento do jogador, a franquia é mais importante.
Durante toda a offseason, Adams manifestou publicamente seu desejo de não estar na franquia, inclusive fazendo uma lista de times para os quais gostaria de ser trocado. Além disto, ainda que seja um grande jogador, pedia um novo contrato com US$ 17 milhões por ano, o que parece caro demais até mesmo para o melhor safety da NFL.
O jogador ainda criticou o proprietário da franquia e o head coach Adam Gase, demonstrando que dificilmente teria qualquer acerto com os Jets para um novo contrato. Ao longo de todo este processo, pareceu por diversas vezes que “eu” vinha antes “nós”, e isto não é uma característica que interessa no seu melhor jogador – e líder.
Douglas é o grande vencedor porque entendeu que a franquia não seria competitiva o suficiente com Adams, e conseguiu extrair um valor incrível dele. No Draft de 2020, o primeiro do GM selecionando, os Jets saíram dos primeiros dois dias com talentos que devem contribuir imediatamente, com destaque para a adição de Denzel Mims (WR – Baylor), um talento de primeira rodada que a franquia adicionou no final da segunda.
A troca traz economia, controle do vestiário e possibilidade de reconstrução.
A economia é óbvia no momento em que você não precisará gastar um valor elevado com um safety, principalmente quando há falta de talento em posições com maior impacto no jogo. Assim é possível investir seu cap em jogadores que sejam líderes de verdade e atuem nos pontos mais importantes do jogo.
Quanto ao vestiário, Douglas simplesmente retirou o maior insatisfeito, que acabava, por ser um líder técnico, influenciando seus companheiros. Agora, o vestiário terá seus ânimos renovados, recaindo sobre jogadores experientes e bons tecnicamente – como CJ Mosley – o papel de conduzir os mais jovens e influenciar que estes se desenvolvam da forma correta.
Por último, na análise de reconstrução, ainda temos pouco para avaliar. Entretanto, as decisões de Douglas até aqui mostram uma grande capacidade de avaliação não somente das necessidades da franquia, mas da habilidade de corrigir. Obviamente, o time precisa proteger melhor Sam Darnold, e isto foi prioridade para Douglas (com várias aquisições na free agency e adição de Mekhi Becton na primeira rodada do Draft).
A partir de agora, ele pode projetar muitos cenários diferentes. Ainda que o time dê um passo para trás dentro do campo em 2020, pois não há como substituir Adams, o prognóstico é realmente interessante.
Se, neste ano, o time não render da forma como se espera, ele pode entender que Darnold não é um franchise QB, e buscar outro em 2020. Outro rumo a ser adotado é a demissão do head coach e reconstrução a partir do novo treinador, impactando nas preferências do Draft em 2021. De toda forma, no recrutamento realizado por Douglas, ele mostrou que vale a confiança para os próximos anos, ainda que seus selecionados precisem confirmar dentro do campo.
Enfim, seja pelo cap, ambiente no vestiário, reconstrução futura, parece que Douglas acertou na troca. Com Adams, os Jets não teriam chances de playoffs este ano, mas podem construir uma base sólida a partir desta transação para assumir o trono da AFC East. Após tantos anos sendo absolutamente dominados pelos Patriots, os verdes de Nova York parecem no caminho para voltar a terem jogos relevantes em dezembro.
Se Joe Douglas realmente demitir Adam Gase e trouxer um treinador minimamente competente, os Jets passam a ser uma franquia que vale sua aposta.
(Foto: Reprodução Twitter/New York Jets)