Uma escolha, uma história: como os Patriots criaram uma dinastia
Tom Brady saiu da sexta rodada do Draft de 2000 ao tricampeonato da NFL em apenas quatro anos.
Dick Rehbein morreu em agosto de 2001, pouco antes do início da temporada da NFL, mas, antes de sofrer a cardiopatia que deu cabo de sua vida, era treinador de quarterbacks do New England Patriots. E conseguiu convencer o técnico Bill Belichick a colocar mais um QB no elenco da equipe, que já contava com três jogadores da posição, ao usar a escolha 199 do Draft de 2000, na sexta rodada, para recrutar o jovem Tom Brady, da Universidade de Michigan e MVP do Orange Bowl daquele ano.
Talvez, a decisão de Rehbein seja a mais cirúrgica da história da NFL. Após lançar apenas três bolas em 2000, Brady subiu para a reserva direta de Drew Bledsoe em 2001. No segundo jogo da temporada, contra o rival New York Jets, em Foxboro, o linebacker jet Mo Lewis lesionou seriamente Bledsoe, após um tackle. Tackle do qual a “Jet Nation” deve se lamentar até hoje (apesar da vitória de NY por 10×3), pois deu espaço para que um dos maiores jogadores da história da NFL iniciasse sua dinastia.
2001: chute para a história
Brady comandou a reação de New England na temporada e ao título da AFC East, com uma campanha 11-5. Após baterem o Oakland Raiders, no playoff divisional em partida polêmica em que os torcedores de Oakland reclamam até hoje de um fumble não marcado forçado pelo CB Charles Woodson em cima de Brady, os Pats venceram o Pittsburgh Steelers na final da AFC sem o camisa 12, que machucou o joelho e deu lugar a Bledsoe.
O dia 3 de fevereiro de 2002 jamais sairá da mente do torcedor de New England. Foi nesse dia, no Superdome em Nova Orleans, que Bill Belichick e Tom Brady, recuperado de lesão, iniciaram uma verdadeira dinastia. O adversário no Super Bowl XXXVI, o St. Louis Rams, era o favorito nas casas de apostas de Las Vegas.
O jogo foi disputado do início ao fim. Os Rams, campeões dois anos antes, tinham o eficiente Kurt Warner no comando do ataque, mas viu seu quarterback ser interceptado no segundo período pelo CB Ty Law, que correu para a endzone. Outro turnover de St. Louis, um fumble, colocou Brady em ótima posição para lançar David Patten na endzone, dando uma vantagem de 14×3 para os Pats antes do intervalo.
Os Rams reagiram no segundo tempo e anotaram dois touchdowns, um no terceiro quarto e um a 1’30 do fim da partida. Como New England havia anotado um field goal, o placar estava 17×17. Sem tempos para pedir e como um veterano, Brady conduziu a equipe até a linha de 30 jardas do campo adversário, deixando Adam Vinatieri em ótimas condições para chutar o field goal que garantiu o primeiro título da franquia.
2003: Manning derrotado e redenção de Vinatieri
Após perderem a AFC Leste para os Jets em 2002, Os Patriots recuperaram a hegemonia na divisão, passaram pelos Titans no jogo divisional e a final da AFC reservou o primeiro encontro entre Tom Brady e Peyton Manning nos playoffs. A vitória por 24×14 sobre o Indianapolis Colts credenciou a equipe para enfrentar em Houston, o Carolina Panthers no Super Bowl XXXVIII no dia 1º de fevereiro de 2004.
O jogo ficou mais famoso na mídia mundial pelo que aconteceu no intervalo, quando o cantor Justin Timberlake “acidentalmente” deixou os seios de Janet Jackson à mostra. Antes e depois disso, porém, muita emoção rolou. E ninguém sofreu mais com esse turbilhão que o kicker Adam Vinatieri, que errou um field goal no primeiro tempo e ainda teve outro chute bloqueado antes do intervalo. Apesar disso, New England foi aos vestiários com a vitória por 14×10.
No início do quarto período, quando Antowain Smith correu para endzone e colocou 21×10 para os Pats no placar, todos já pensavam em massacre, porém, não foi isso que aconteceu. Os Panthers viraram o jogo com dois TDs num espaço de dois minutos, mas falharam em duas conversões de dois pontos. A 3 minutos do fim, New England tomou a frente novamente, com um passe de Brady para Mike Vrabel. Jake Delhome, porém, conduziu Carolina à outra campanha de TD e com uma conversão de dois pontos bem sucedida, empataram o jogo.
Com 68 segundos no relógio, Brady conduziu outra campanha sólida e deixou Vinatieri na linha de 41 jardas para a redenção dentro do próprio jogo. A 4 segundos do fim, o kicker não falhou desta vez e a taça voltou para as mãos dos Patriots.
2004: o jogo da vida de Deion Branch
No ano seguinte, os Patriots bateram novamente o Indianapolis Colts, desta vez no jogo de Wild Card. Após vencerem os Steelers na final da AFC o Super Bowl XXXIX contra o Philadelphia Eagles pintava como um jogo aparentemente tranquilo. Parecia.
O jogo, realizado no estádio do Jacksonville Jaguars no dia 6 de fevereiro de 2005, começou com Philly abrindo o placar, com um passe de Donovan McNabb para L.J. Smith. Os Patriots empataram o jogo perto do intervalo, com passe de Brady para David Givens.
No terceiro quarto, um TD de cada lado deixou o placar em 14×14. Foi no último período que surgiu o wide receiver Deion Branch, MVP daquele jogo, que foi o protagonista da campanha que colocou New England novamente à frente. Outra boa campanha da combinação Brady-Branch deu à Adam Vinatieri a chance de chutar um FG e colocar o placar em 24×14. Perto do fim, os Eagles ainda anotaram um touchdown, mas já era tarde para uma reação. Era o terceiro título do reino de Bill Belichick em quatro anos.
Um técnico que já é icônico, um achado que virou uma lenda, um kicker sensacional e bons coadjuvantes. Foi assim que os Patriots garantiram seus três títulos. E é com esse espírito que eles buscam apagar as derrotas nas outras duas finais que disputaram depois de 2005 (que serão lembradas aqui semana que vem) e partem para Phoenix, com desejo de solidificar uma dinastia.