Afinal, Tom Brady deveria se aposentar?
Aos 39 anos e ainda em forma após conquistar seu quinto Super Bowl, a pressão da aposentadoria já circunda o quarterback
No último domingo, Tom Brady talvez tenha encerrado uma das discussões mais comuns e persistentes entre todos os fãs de NFL: qual o maior quarterback da história da liga. Poucos argumentos restaram para bancar a não presença do principal atleta do New England Patriots no topo da lista após a conquista do quinto Super Bowl em sua carreira, maior marca da história para a posição, superando outros gênios, como Joe Montana.
No entanto, o anel que enche uma mão inteira chegou para o jogador em uma idade controversa para esportistas em todo o mundo: Brady já soma 39 anos. O que faz com que rumores sobre uma possível aposentadoria já o cerquem, ainda mais pela possibilidade de se retirar da NFL ‘por cima’. Além disso, o talvez principal fator que pese para TB12 pensar em abandonar sua vitoriosa carreira seja sua esposa, a topmodel brasileira Gisele Bündchen, que desde 2015 já vem comentando na mídia o desejo de que Tom se aposente pelo risco de lesões e para ficar mais com sua família.
É quase um lugar-comum o discurso de que “a carreira no esporte é curta”. E não deixa de ser verdade. Passados os 35 anos, em média, atletas em todo o planeta já começam a flertar com a aposentadoria, em qualquer esporte, e na NFL isso não é diferente – variando a média de idade para cada posição específica. Os 39 anos de Brady e a fragilidade que o corpo, inevitavelmente, vai tomando nessa época são realmente um tanto quanto sugestivas, mas devemos lembrar que o quarterback dos Patriots faz parte de um seleto grupo de atletas cuja idade quase nada reflete em seu corpo, ou melhor, que trabalham para que isso não aconteça.
São muitos os exemplos. Podemos falar de Tim Duncan na NBA, que se aposentou recentemente do San Antonio Spurs aos 40 anos, e ainda era protagonista de seu time em diversos jogos na sua última temporada como profissional. O brasileiro Serginho, líbero no vôlei, conseguiu a proeza de ser medalhista de ouro com a Seleção na Olimpíada do Rio 2016 também aos 40 anos. No futebol, então, podemos citar diversos casos: desde Paolo Maldini, ex-zagueiro do Milan que se aposentou ainda em alto nível aos 41 anos, até Zé Roberto, do Palmeiras, que aos 42 anos ainda esbanja uma forma física invejável.
A própria NFL já teve jogadores com as mesmas características, e talvez o exemplo mais conhecido seja o de Brett Favre, que aos 40 anos voltou de sua aposentadoria para atuar no Minnesota Vikings. Não é de qualquer um que estamos falando. Tom Brady chegou à NFL em 2000 – quando fez apenas um jogo – e o que vimos nesses 17 anos tem sido pouquíssimo alterado.
Brady está longe de ser um ‘quarterback de vidro’ como tantos outros que aparecem pela liga, como Robert Griffin III ou até mesmo Tony Romo. Nem mesmo tem sofrido com problemas físicos decorrentes da idade avançada, como podemos lembrar do caso de Peyton Manning, que já em sua última temporada ficou de fora de diversos jogos, mesmo acabando campeão. Nas últimas duas temporadas, Brady chegou a ter problemas no joelho e no ombro que o tiraram de treinos e jogos esporádicos, mas nada que desfalcasse os Pats de forma decisiva.
Mesmo sem poder ser considerado um quarterback de movimentação, o físico de Brady ainda permite ao jogador uma série de deslocamentos importantes, como a sua especialidade em fazer o QB-sneak ou até em correr de vez em quando para conquistar first downs, como chegou a ocorrer na partida contra o Atlanta Falcons. Não é visível nenhum tipo de abatimento ou queda de rendimento.
Em termos numéricos, é difícil falarmos que Tom Brady teve alguma decaída em todo esse tempo, apesar de ter tido sua terceira pior temporada na carreira em jardas em 2016 (descartando 2000), o que pode muito bem ser explicado por sua ausência em quatro jogos, por causa de uma punição. Foram 3.554 jardas ao total, o que manteve sua média de não ter menos de 3.000 jardas lançadas em uma temporada desde 2001. Entretanto, foi a primeira vez desde 2010 que o quarterback lança para menos de 4.000 jardas. Números aparentemente absurdos, mas que podem soar normais quando estamos falando de um dos maiores da história.
É complicado decretarmos uma atitude que o jogador deva tomar ao estarmos do lado de fora e não conhecendo sua vida pessoal, mesmo ele já deixando claro sua vontade de continuar jogando. Mas a sua possível aposentadoria, ou até mesmo sua cogitação, seria um enorme desperdício não só para o New England Patriots, para a NFL e para o futebol americano, como também para o esporte como um todo.
Além do já citado acima, Tom Brady pertence também a outro grupo: ao de lenda entre todas as modalidades esportivas. Sem modéstia mesmo. Divide pódio com Michael Jordan, Pelé, Wayne Gretzky, Michael Schumacher, Muhammad Ali e tantos outros. Tantos outros que inclusive, e infelizmente, acabaram parando antes do que poderiam – por uma série de razões – e nos deixaram órfãos de sua genialidade. Brady não precisa disso agora. Não em uma forma física plena, com companheiros de qualidade e com uma parceria vitoriosa com o comando técnico.
Quem sabe mais um anel já esteja encomendado. Esse talvez seja o seguro que possa garantir um pouco mais de tranquilidade a Gisele. E, de certa forma, também a nós.
Crédito da Foto: Kevin C. Cox e Tom Pennington/Getty Images./Getty Image