Ranking: os quarterbacks calouros da temporada 2018 da NFL #5 (final)
Confira quem teve a melhor temporada entre Baker Mayfield, Josh Rosen, Lamar Jackson, Josh Allen e Sam Darnold!
Após cinco edições, chegamos à última do Ranking dos Quarterbacks Calouros do The Playoffs em 2018! E com o final dessa coluna fantástica e aclamada pelos críticos, o mistério de quem seria o eleito melhor quarterback calouro de 2018 chegou ao fim. Bom, mistério já sabido desde a primeira edição do ranking, já que Baker Mayfield liderou praticamente de ponta a ponta e levou para casa o prêmio mais importante do ano. Pro Bowl? All-Pro? MVP? Não. Mayfield já tweetou agradecendo as honras e promete usar um terno estampado de tigre – em homenagem a Hue Jackson e ao Cincinnati Bengals, além é claro de sua foto ao estilo se beber não case – à cerimônia de premiação do TP.
“Mas The Playoffs, o Lamar Jackson foi o único que foi pros playoffs, venceu seis de sete partidas e salvou a temporada do seu time, por que ele não ficou em primeiro?!” E daí jovem? Por acaso estamos falando de tênis aqui? Futebol americano é um esporte coletivo, e Lamar joga em um time melhor do que Mayfield. Isso não significa que não reconhecemos a boa temporada do calouro de Baltimore, que ficou com a prata nos nossos rankings.
No bronze temos o cabeludo Sam Darnold, que voltou a campo em dezembro e surpreendeu a todos jogando muito bem. Nas semanas 14, 15 e 16, Darnold foi o melhor quarterback da NFL estatisticamente – tanto em rating quanto em QBR, uma estatística avançada de performance dos quarterbacks. O site Pro Football Focus também ranqueou Darnold entre os melhores da liga durantes esse período.
Já Josh Allen e Josh Rosen dividiram a última e penúltima colocação em quase todas as estatísticas para quarterback – avançadas e cruas. Allen pelo menos teve um ótimo ano correndo com a bola e o mesmo não pode ser dito de Rosen. Pelo menos ele compensou e liderou a liga em turnovers, com 14 interceptações e cinco fumbles perdidos*. Vamos aos rankings:
*nota do editor: contém forte sarcasmo.
**nota do editor 2: foram incluídas as estatísticas correndo com a bola apenas para Lamar Jackson e Josh Allen, que usaram dessa arma de maneira expressiva durante a temporada.
1. Baker Mayfield (Cleveland Browns)
310/486 (63,8%) – 3.725 jardas – 7,7 jardas por passe – 27 TDs, 14 INTs
O líder dos nossos rankings teve uma temporada digna de celebração. Mayfield já é o melhor quarterback que o Cleveland Browns pôde chamar de seu desde… Bernie Kosar? Ou Vinny Testaverde? Enfim, Baker é o primeiro franchise quarterback da franquia de Ohio desde os tempos de Michael Jordan na NBA. Os números foram bons, mas não é só isso. O efeito Baker vai além dos dados e estatísticas. Os Browns venceram sete partidas (após vencerem apenas uma nas temporadas de 2016 e 2017 (combinadas) e passaram a ser respeitados após a chegada do ex-jogador de Oklahoma. Na semana 17, os Ravens precisavam de uma vitória para se classificar para os playoffs e enfrentariam o rival de divisão dentro de sua própria casa. Mesmo assim, havia grande cautela e absolutamente ninguém achava que seria um atropelo dos mandantes. O resultado final (26 a 24 para Baltimore) mostrou o quão próximo o time de Baker Mayfield está de competir por coisas maiores na NFL, algo impensável durante a era Hue Jackson.
O comando do huddle, o swagger extra-campo, a personalidade forte e a precisão nos passes pintam um futuro promissor em Cleveland. A jogada abaixo demonstra um pouco disso tudo. Baker sente a pressão pelo lado esquerdo da sua linha, calmamente abandona o pocket – sem tirar os olhos dos fundos do campo para ver a movimentação de seus recebedores – e lança em movimento um passe perfeito onde somente seu recebedor poderia alcançar. Bela recepção de Jarvis Landry e o time avançou para quase conseguir a virada que encerraria a temporada dos Ravens.
JUIIIIIIIICCCCCCEEEE! 🥤 https://t.co/c2ylCoLJu5
— Cleveland Browns (@Browns) December 31, 2018
Para o próximo ano, Mayfield terá de cortar um pouco os turnovers (foram 14 interceptações e três fumbles perdidos), o que virá com naturalidade para o jogador que parece ter nascido para ser o quarterback do Cleveland Browns. O general manager dos Browns, John Dorsey, justificou a escolha por Baker ao invés de Sam Darnold ao dizer que acredita que seu jogador tem a personalidade ideal para resgatar a franquia de anos e anos de fracassos. Até aqui, Dorsey não poderia estar mais certo.
2. Lamar Jackson (Baltimore Ravens)
99/170 (58,2%) – 1.201 jardas – 7,1 jardas por passe – 6 TDs, 3 INTs – 695 jardas terrestres – 5 TDs corridos
Eu era um daqueles que estava bem cético quanto ao potencial de Lamar Jackson na posição de quarterback. Sou da mentalidade que quarterbacks que correm muito com a bola não conseguem obter um sucesso contínuo em suas carreiras. Temos exemplos como Michael Vick, Colin Kaepernick, Tim Tebow que corroboram essas afirmações. Mas chegou a hora de fazer uma confissão: eu estava errado. Jackson não é Vick, Kaepernick e muito menos Tebow. O quarterback dos Ravens é algo mais, talvez nunca dantes visto por essas bandas. O paralelo mais próximo talvez seja realmente Vick – mas não aquele pós-prisão, e sim o Vick que foi a primeira escolha do Draft pelo Atlanta Falcons. Veloz, dinâmico, com um bom braço, “Action” Jackson torna a tarefa das defesas muito difícil ao aliar corrida com passe. E é justamente esse último quesito – o passe – que vem me convencendo quanto à viabilidade da carreira do quarterback dos Ravens. Analisemos uma jogada de Jackson para mostrar seu potencial como passador:
"Oh yeah. 6!" @Lj_era8 ➡ @Mandrews_81 🙌 pic.twitter.com/bAIaZzJxGa
— Baltimore Ravens (@Ravens) January 3, 2019
Na linha de 32 jardas do próprio campo, Jackson engana a defesa com o play action e rapidamente faz duas leituras na jogada. Com seus dois tight ends alinhados no lado direito, o quarterback vislumbra uma janela no meio da defesa dos Chargers e lança uma bola perfeita para Mark Andrews, que leva a bola até a end zone para seis pontos que parecem fáceis, mas não são. Para não dizer que só falei de flores, a jogada acima é uma espécie de RPO (Run Pass Option), na qual o coordenador ofensivo de Baltimore facilita a leitura de Jackson na jogada, dando apenas metade do campo ao quarterback (se você observar com atenção, o lado esquerdo da equipe serve apenas para distrair a defesa adversária, o passe já estava desenhado para ir para um dos dois jogadores alinhados no lado direito). Ou seja, isso indica que Jackson ainda tem um longo caminho a percorrer até poder fazer leituras no campo inteiro e derrotar as defesas apenas com sua mente e braço. No entanto, isso não significa que Lamar não pode ter muito sucesso dessa forma, afinal foi exatamente assim que o Philadelphia Eagles se sagrou campeão na última temporada.
Em sua estreia nos playoffs, o calouro deixou bastante a desejar nos três primeiros quartos, mas no quarto período comandou uma tentativa de quase-virada dos Ravens contra os Chargers, mas não o suficiente para avançar para a segunda rodada. Experiência valiosa em pós-temporada para aquele que deve ser o rosto da franquia de Baltimore pelos próximos anos.
3. Sam Darnold (New York Jets)
239/414 (57,7%) – 2.865 jardas – 6,9 jardas por passe – 17 TDs, 15 INTs
Sam Darnold foi o primeiro calouro a ganhar a posição de titular, mas uma lesão no pé o deixou de fora de três partidas no meio da temporada. O que parecia terrível para os Jets – afinal Darnold teve péssimas atuações antes da lesão – acabou sendo justamente o que o calouro precisava. Depois que voltou na semana 13, Darnold foi outro quarterback (80/125, 64% – 931 jardas – 7,4 jardas por passe – 6 TDs, 1 INT, que dá um rating de 99.1) e liderou a NFL em várias estatísticas avançadas como QBR, Pro Football Focus etc.
O bom mês de dezembro de Darnold é ótimo para os fãs – bem como para a franquia atrair bons candidatos a técnico, já que demitiu Todd Bowles e está à procura de alguém que possa explorar todo o potencial do jovem californiano. A jogada que escolhi de Sam ilustra bem a maior força do jogador – sua mobilidade e improviso:
These guys are seriously rookies?
Can someone fact-check that for us? #HOUvsNYJ pic.twitter.com/AfdPtYmsFg
— New York Jets (@nyjets) December 16, 2018
Quando jogava por USC, Darnold era mestre em escapar do pocket e fazer mágica em jogadas que pareciam perdidas. Acima, ele sente o colapso do lado esquerdo de sua linha, sai para o lado oposto, ameaça correr com a bola, mas resolve lançar para o também calouro Chris Herndon e conquistar a primeira descida em uma terceira para oito jardas. Não é qualquer quarterback que consegue fazer esse tipo de jogada, mas Sam é adepto em lançar bolas em movimento e mesmo contra o movimento do corpo, forçando as defesas a acompanhar a jogada do começo ao fim.
Apesar de demonstrar muito potencial, Darnold também teve muitas dificuldades na temporada, em especial com turnovers. O calouro foi o segundo quarterback que mais lançou interceptações na temporada – foram 15 em apenas 13 jogos. No entanto, o jogador arrancou elogios de diversos especialistas, o que dá um grande otimismo para a franquia de Nova York que, da mesma forma que Cleveland, carece de um franchise quarterback desde os tempos da TV de tubo.
4. Josh Allen (Buffalo Bills)
169/320 (52,8%) – 2.074 jardas – 6,5 jardas por passe – 10 TDs, 12 INTs – 631 jardas terrestres – 8 TDs corridos
Hoje é o dia da redenção. Allen também me surpreendeu nesta temporada e mostrou que pode sim funcionar como um franchise quarterback para a franquia de Buffalo, ainda que não o tenha feito de forma consistente. Antes do Draft ouvi e li várias comparações para o ex-quarterback de Wyoming. Christian Hackenberg, Paxton Lynch, Ben Roethlisberger, Brett Favre, mas uma delas me chamou atenção: Cam Newton. A princípio fui cético, especialmente por conta da velocidade. No combine, Newton correu as 40 jardas em 4,51 segundos, enquanto Allen correu em 4,75. Parece pouco, mas essa é a diferença entre um wide receiver e um tight end geralmente. Mas a medida que Allen foi jogando durante a temporada, mais e mais essa comparação começou a fazer sentido.
Veja, não estou dizendo que Josh já chegou no nível do MVP de 2015, mas as semelhanças estão registradas nos vídeos dos jogos de Buffalo para quem quiser ver. Muita força no braço, corridas dinâmicas e precisão controversa, ambos os jogadores acham formas de mover sua equipe sem jogar o futebol americano tradicional. Allen foi o segundo colocado em jardas terrestres por um quarterback na temporada, além de anotar OITO touchdowns correndo com a pelota. O jogador mostrou que pode sim ser dinâmico e tem tudo para seguir uma trajetória parecida à de Newton na NFL.
That's our quarterback.#MIAvsBUF #GoBills pic.twitter.com/e3EoXRfhYH
— Buffalo Bills (@BuffaloBills) December 30, 2018
Optei por separar uma corrida de Allen ao invés de um passe – não que o jogador não consiga utilizar do braço, ele teve o passe que viajou no ar por mais jardas na temporada, 63,9 – pois foi esse o grande diferencial do calouro este ano. Na jogada acima, Josh deixa no chinelo a defesa inteira de Miami, e se fizesse a celebração do “Superman” na end zone não saberíamos distingui-lo do quarterback dos Panthers. Com quase dois metros de altura, é muito difícil derrubá-lo uma vez que ele começa a se mover. Resta agora ao staff dos Bills montar um ataque em torno do quarterback que explore bastante esse seu lado atlético, imitando de certa forma o ataque de Carolina.
5. Josh Rosen (Arizona Cardinals)
217/393 (55,2%) – 2.278 jardas – 5,8 jardas por passe – 11 TDs, 14 INTs
Rosen foi selecionado na 10ª escolha do Draft e afirmou logo em seguida que os nove times que não o escolheram cometeram um erro. Para justificar sua frase, Josh teve a pior atuação dentre os quarterbacks ranqueados na liga* – não só os calouros, todos. Isso não é uma perseguição deste que vos fala para com o menino dos Cardinals. Quem me conhece sabe que eu era fã do calouro desde seu primeiro ano em UCLA, mas 2018 certamente é um ano para esquecer na carreira do jogador.
Último colocado em praticamente todas as métricas existentes para um quarterback, Rosen foi o centro do pior ataque da liga e pecou demais. É preciso dizer que o time dos Cardinals é carente de talento – especialmente na linha ofensiva – mas só isso não é suficiente para explicar as atuações terríveis de Josh. O ano foi tão ruim que o técnico Steve Wilks foi demitido após somente uma temporada no cargo, algo extremamente raro na NFL.
Dono de um jogo mais tradicional, Rosen vai para o seu segundo ano do mesmo jeito que Jared Goff dos Rams foi depois de 2016: com péssimos números, mas esperança de um futuro melhor.
When you are @LarryFitzgerald, you don't need two hands to catch TDs. pic.twitter.com/his1qQPRf4
— Arizona Cardinals (@AZCardinals) December 30, 2018
Na jogada acima, Josh começa under center (logo atrás do jogador de linha) e rapidamente encontra Larry Fitzgerald livre saindo do slot para um touchdown fácil. A capacidade de ler as defesas em jogadas de dropback (quando o quarterback tem que recuar de sua linha ofensiva) é uma das principais características de Rosen, e o time espera que o novo técnico seja mais capaz de aproveitar essa habilidade do jogador.
*contém forte sarcasmo de novo