[PRÉVIA] SUPER BOWL LIV: Kansas City Chiefs x San Francisco 49ers
Após as franquias se reconstruírem nos últimos anos, Chiefs e 49ers têm a grande chance de consagração no Super Bowl LIV
Enfim, chegou! Após cinco meses entre temporada regular e playoffs, o evento mais esperado do ano nos esportes americanos será realizado no próximo domingo (2), no Hard Rock Stadium em Miami, Florida. O seed #1 da Conferência Nacional – 49ers – e o seed #2 da Conferência Americana – Chiefs se enfrentarão pelo título do Super Bowl LIV na casa dos Dolphins – único jeito da franquia de Miami ser lembrada no Super Bowl, não é?!
De um lado, a equipe da Califórnia retorna ao grande jogo após sete anos, quando perdeu para o Baltimore Ravens no “Harbaugh Bowl”. Naquela ocasião, a estrela em ascensão Colin Kaepernick comandava o ataque dos Niners, que ainda contavam com grandes nomes como o running back Frank Gore, o tight end Vernon Davis e o linebacker histórico Patrick Willis.
Desde então, a franquia se reconstruiu. Alguns nomes até mesmo continuam, como o OT Joe Staley, mas foi necessária uma profunda mudança para que a equipe tivesse chance de voltar ao grande jogo. Ao observarmos os últimos anos, os Niners foram buscar seu QB Jimmy Garoppolo em New England, acertaram no Draft, adicionando George Kittle, Fred Warner e, claro, Nick Bosa. Além disto, o time não se escondeu na free agency, agregando Richard Sherman, Kwon Alexander. Por fim, o general manager John Lynch conseguiu agregar bons valores através de trocas, como Emmanuel Sanders e Dee Ford.
Assim, a equipe se formou como uma das mais completas na NFL. Entretanto, não importa o quão talentoso seja o grupo, se a comissão técnica não consegue extrair isto em campo (eu ouvi Jason Garrett? Palmas). Assim, a aposta foi numa das mentalidades ofensivas mais criativas da atualidade para comandar o time.
Kyle Shanahan chegou com o pedigree de sua família e o sucesso já demonstrado em campo, afinal, ele comandava o ataque daquele Atlanta Falcons vice-campeão, o famoso “28 a 3”. A adição de Robert Saleh para a coordenação defensiva trouxe o vigor que o time precisava, e ao longo do ano se viu que os Niners se defendiam com a mesma intensidade que Saleh pulava na sideline. A combinação levou o time de 4 vitórias em 2018 para 13 em 2019 e, se vencer domingo, será apenas a segunda na história a ter 4 vitórias ou menos e, na temporada seguinte, levar o título (Rams, 1999).
Do outro lado, a construção ocorreu de uma forma um pouco diferente, mas talvez ainda mais ousada. Os Chiefs trouxeram Andy Reid para que ambos pudessem, finalmente, vencer um Super Bowl. Campeã do Super Bowl IV, a franquia do Missouri não disputava a grande final desde então. Na longínqua temporada de 1969, o grande jogo era uma final entre campeões de duas ligas distintas (AFL e NFL), as quais se tornariam uma só logo após a vitória dos Chiefs sobre o Minnesota Vikings por 23 a 7. Naquela oportunidade, a grande unidade da equipe era a defesa, que limitou os adversários a menos de 70 jardas e forçou 5 turnovers na final.
Passados 50 anos, os Chiefs estão de volta. Obviamente, o trabalho de Reid merece ser exaltado. Ele chegou em 2013 e desde então é o dono da AFC West. Quando ele começou, a divisão ainda era de Peyton Manning e dos Broncos, mas isso logo mudou quando o treinador foi concretizando sua forma de trabalhar. Para chegar no Super Bowl, os Chiefs dispensaram jogadores históricos da franquia nas últimas temporadas, como Jamaal Charles (RB), Eric Berry (S) e Justin Houston (Edge).
Além disto, o grande nome da equipe – e da NFL no momento – veio através de um movimento que poucas franquias teriam coragem de fazer. Mesmo com um bom quarterback no elenco, o time subiu da escolha 27 para a 10 numa troca com os Bills e selecionou Patrick Mahomes que, à época, não era sequer um consenso se seria um bom jogador.
Como você deve ter visto uma ou 30 vezes, Mahomes é um quarterback absolutamente excepcional, capaz de vencer qualquer duelo. Após um ano como reserva de Alex Smith, o jovem jogador assumiu a posição e logo virou sensação na liga, levando o título de MVP da temporada 2018 e só não disputou o Super Bowl por conta de um certo Tom Brady.
O time vem sendo construído para que se maximizem as qualidades de seu QB. Assim, jogadores de muita velocidade alinham como WRs e RBs. A manutenção de Travis Kelce no elenco ao longo dos anos foi um sucesso para a franquia, visto que hoje ele é uma arma difícil de ser contida. Tyreek Hill, Mecole Hardman, Sammy Watkins exercem a função de basicamente ganhar centímetros de separação, uma vez que o QB sempre irá acertar o passe no alvo.
Na defesa, após ver suas lendas irem embora, o coordenador defensivo Steve Spagnuolo recebeu Frank Clark através de troca com Seahawks, Tyrann Mathieu no período de free agency e bons valores nos últimos Drafts, com destaque para Chris Jones, DT em 2016, e Juan Thornhill, DB em 2019.
Explicando brevemente como os times foram construídos para chegar até aqui, vamos aos pontos mais importantes para que cada um possa sair vitorioso e consagrado no próximo domingo.
(Foto: Michael Reaves/Getty Images)
SAN FRANCISCO 49ERS
Os Niners foram praticamente absolutos em sua conferência neste ano. Após abrir a temporada com 8-0, a franquia enfrentou uma breve e esperada turbulência e voltou a assumir o protagonismo na parte final. De todas as equipes que foram à pós-temporada na NFC, os Niners só não derrotaram os Eagles – unicamente porque não enfretaram, convenhamos.
O ataque de San Francisco segue perfeitamente o que Shanahan pensa para a unidade. Com a utilização de três running backs, o treinador aproveita o melhor momento de cada um e pavimenta seu jogo por terra. Com boa variação de bloqueios e envolvimento de todos (não somente da OL), os gaps acabam abrindo e o time avança no campo. Isto é efetivo não somente para marcar pontos, mas também para controlar o jogo. Se o seu time corre com eficiência, ele controla o relógio e deixa o ataque adversário fora do campo, aumentando suas chances de vencer.
No jogo aéreo, Jimmy Garoppolo deve ser a grande preocupação para a partida. Apesar de conduzir o ataque que chegou ao Super Bowl, o quarterback dos Niners tem muitos problemas em proteger a bola. O trabalho de pernas poderia ser melhor, assim como sua leitura. Normalmente, em situações mais complicadas, ele busca explorar rotas para o meio do campo, tentando encontrar vitórias pessoais de recebedores rápidos (ou de Kittle) sobre linebackers.
Obviamente, ele tem condição de fazer uma partida ótima, ganhar o prêmio de MVP e ser campeão. Contudo, foram raras as vitórias dos Niners que vieram porque seu QB foi brilhante. Assim, manter seu estilo game manager deve ser o plano, protegendo melhor a bola e evitando arriscar demais, afinal, um tiroteio contra Mahomes deve ser o último desejo do time vermelho e dourado.
A chegada no Super Bowl tem como responsável a defesa. Ainda que o jogo terrestre seja muito bom, é a unidade defensiva de San Francisco que mudou completamente a forma como o time joga. Com muitos valores na DL, a equipe consegue exercer pressão rapidamente e com muito efetividade, deixando todos os outros jogadores para cobrir passes. Além disto, é muito difícil correr com a bola, visto que a leitura dos linebackers é apurada e eles patrulham muito bem as jogadas. O confronto da linha defensiva com Mahomes deve ser o grande ingrediente da noite, e acredito que vão se alternar até o final, com momentos bons de ambos os lados.
(Foto: Reprodução Twitter/San Francisco 49ers)
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KANSAS CITY CHIEFS
A campanha dos Chiefs foi um pouco diferente, enfrentando alguns problemas que os Niners não tiveram este ano. Após um bom começo, a equipe acabou sendo superada pelos Texans, o que teria implicações no quadro da pós-temporada. Para piorar, Mahomes sofreu uma lesão no joelho logo após e o time se viu obrigado a enfrentar boas equipes com seu quarterback reserva. A derrota para o Packers mostrou que o time era forte, sentimento que foi reforçado na semana seguinte ao bater os Vikings. A afirmação veio com uma grande exclamação ao derrubar os Patriots fora de casa e ganhar a folga no Wild Card.
O crescimento do time na reta final veio junto a um crescimento defensivo. A unidade apresentava grandes dificuldades na primeira metade, mas com os ajustes certos passou a dominar os adversários. Mesmo com ausência de Chris Jones e Thornhill durante uma parte do ano, foi capaz de dar a volta por cima no Divisional Round contra os Texans e mostrou que é possível sim derrubar Derrick Henry, eliminando o Tennessee Titans.
Ainda assim, ao contrário de seu adversário na grande final, o time não chegou ao Super Bowl por conta da defesa. Este time é baseado no ataque. Sendo bem sincero, este time é baseado no ataque aéreo, já que as corridas raramente são utilizadas e os running backs se destacam muito mais recebendo passes do que fazendo a sua função originária.
Após dois anos como titular, Mahomes é o grande quarterback da liga – menção honrosa a Russell Wilson. O produto de Texas Tech, o jovem jogador provou que é capaz de vencer qualquer defesa e levar o seu time à vitória. Recentemente, ele fez algo que parecia impossível: melhorou. Ao adicionar corridas em seu jogo, Mahomes cria mais espaços para os recebedores quando é atacado pelos adversários – como ocorreu no TD de Kelce contra os Texans. E, quando não é combatido, acaba ganhando muitas jardas com as pernas e avançando o ataque.
A grande chave para os Chiefs é dar tempo a seu QB e conseguir encontrar espaços na defesa dos Niners. Como tempo costuma passar bem rápido quando Bosa está te atacando, Mahomes deverá improvisar com as pernas para dar mais chance aos recebedores e, assim, conseguir avançar no campo. Utilizar Hill contra Sherman parece uma boa estratégia, visto que o CB já não tem a mesma velocidade do início da carreira e, mesmo se tivesse, ainda não seria suficiente para acompanhar o explosivo WR dos Chiefs. Se tudo der errado, lance para Kelce, as coisas costumam dar certo quando isto acontece.
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(Foto: Reprodução Site/Kansas City Chiefs)
O JOGO
Ainda que alguma jogada especial possa aparecer no Super Bowl, como a já clássica Philly Special do Super LII, acredito que os times manterão o plano de jogo voltado para o que fizeram durante o ano. Assim, espero que os Niners apresentem uma grande força nas trincheiras e tentem vencer com o mínimo de participação de seu quarterback, enquanto os Chiefs esqueçam que é permitido correr com a bola e façam Mahomes lançar quantas vezes for preciso. Para vencer o Super Bowl, será preciso explorar os matchups em que cada time tem vantagem.
Apesar da qualidade inegável da defesa de San Francisco, não há um jogador que possa ser colocado para marcar Travis Kelce e obter vantagem durante o jogo. Defensive backs com esse estilo são raros (Kam Chancelor, por exemplo), então os Chiefs tem que explorar este fator. Kelce é um grande problema para as defesas porque costuma ser mais rápido que linebackers e mais forte que defensive backs.
Do outro lado, Kittle pode ter um pouco mais de problemas para superar a marcação. Além de ser o alvo principal em jogadas decisivas, os Chiefs contam com um inspirado Tyrann Mathieu na defesa. Mesmo fisicamente menor, o safety compensa jogando com alta agressividade e pode criar problemas para o tight end de San Francisco. Ainda assim, Kittle deve ser peça chave, tanto recebendo quanto nos bloqueios para que o time corra.
Como já citado, os Chiefs também podem explorar a velocidade de seus recebedores, principalmente de Hill, sobre o experiente Sherman. Ainda que sempre seja um perigo lançar na direção do cornerback, ele já conta com idade mais avançada e, somente na velocidade, não teria qualquer chance para vencer o confronto. Entretanto, estamos falando de um dos maiores da década, que deve estar se preparando para essa tentativa do adversário.
Por falar em velocidade e explosão, a dupla principal de recebedores dos Niners também pode explorar os erros da secundária adversária. De um lado, Deebo Samuel vem evoluindo muito em seu ano de calouro, mostrando uma incrível capacidade de ganhar jardas após a recepção. Do outro, o experiente Sanders chegou em meio ao ano e dá consistência às jogadas, com rotas bem feitas e mãos seguras. Se Jimmy Garoppolo tiver que lançar a bola, opções não lhe faltarão.
O grande problema para a franquia do Missouri é a falta de consistência na posição de linebacker. Ainda que Chris Jones esteja recuperado e apareça com ótimas jogadas na linha defensiva, uma vez bloqueado a defesa acaba expondo a fragilidade da posição. Com bons jogadores no backfield como Raheem Mostert, Tevin Coleman e Matt Breida, os Niners deverão abusar de seu monstro de três cabeças para confundir os LBs adversários e ganhar muitas jardas.
Outro matchup para ficarmos de olho é a batalha de trincheiras da linha ofensiva dos Chiefs e a defensiva dos Niners. Acredito que haja uma vantagem para a equipe da Califórnia, mas a habilidade de improvisação de Mahomes acaba equilibrando novamente o confronto. A OL vai vazar algumas vezes, será que Mahomes conseguirá fugir das garras dos defensores e vencer o jogo? A resposta, pra mim, define o vencedor do jogo.
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(Foto: Rich Graessle/PPI/Icon Sportswire via Getty Images)
QUEM PODE DECIDIR
Nick Bosa (49ers) – O rookie defensivo do ano superou o temor por suas lesões e impactou de verdade a liga. Após sua chegada, toda a linha dos Niners passou a jogar melhor, inclusive jogadores talentosos como Arik Armsted e DeForest Buckner. O produto de Ohio State pode em qualquer jogada derrubar o quarterback adversário, roubar a bola e decidir o jogo.
Patrick Mahomes (Chiefs) – Você consegue imaginar um cenário em que os Chiefs são campeões e Mahomes não é o MVP? Difícil, né?! O quarterback que nos surpreende toda semana tem força e precisão no braço para avançar rapidamente no campo e, se tiver a chance de vencer em pouco tempo, provavelmente conseguirá. Se todos os jogadores estiverem bem marcados, ele ainda pode correr e continuar liderando seu time por terra.
George Kittle (49ers) – O TE cômico de San Francisco cresceu demais em 2018 e se tornou um dos melhores da liga. Nesta temporada, manteve o alto nível e se tornou peça-chave neste ataque. Com bastante agressividade, bloqueia muito bem as jogadas terrestres e consegue ser ainda mais letal pelo ar. Depois de ver por anos Brady encontrar Gronkowski, Jimmy G deve estar feliz de ter a sua versão de Gronk.
Frank Clark (Chiefs) – O defensive end foi adquirido a peso de ouro, e pode mostrar no próximo domingo que tudo valeu a pena. Clark veio de Seattle, então ainda resguarda certa rivalidade com a equipe de San Francisco, e vai enfrentar o segundanista Mike McGlinchey no grande jogo. Sua combinação de explosão e experiência pode ser fatal no duelo, e tudo que os Chiefs gostariam é ter sua defesa dando mais chance a Mahomes.
PALPITE
Após todo esse texto, se você sobreviveu até aqui, vou arriscar e apontar quem será o campeão. O San Francisco 49ers tem um elenco mais completo, mais profundo e com talento em todas as posições. Os Chiefs têm o melhor QB do Super Bowl – e da NFL, para muitos. Contudo, embora todas as atenções estejam aos QBs, aos passes de 40 jardas e às dancinhas na end zone, a NFL é uma liga de defesas.
Dito isto, aposto na melhor defesa para levar o título máximo, e isto, neste caso, seria o San Francisco 49ers. Em algum momento, Mahomes não irá conseguir avançar, seja por drop de um recebedor, falha de bloqueio ou simplesmente mérito da defesa dos Niners. Ainda que o QB dos Chiefs seja sensacional, há um motivo para se crer que defesas vencem campeonatos e, no próximo domingo, arrisco que essa máxima se repetirá.
Palpite Fabio: San Francisco 49ers
Palpite Equipe The Playoffs: San Francisco 49ers
AGENDA: SUPER BOWL LIV
Jogo: Kansas City Chiefs x San Francisco 49ers
Local: Hard Rock Stadium, Miami
Data e hora: 2 de fevereiro, às 20h30 (horário de Brasília)
Transmissão para o Brasil: ESPN (exclusivo)
Show do intervalo: Jennifer Lopez e Shakira