[PRÉVIA] Super Bowl LIII: New England Patriots x Los Angeles Rams
Tom Brady e Jared Goff se enfrentam para decidir o campeão da temporada da NFL
Me foi concedida a honra de escrever, aqui no The Playoffs, essa prévia do confronto mais importante da temporada, o Super Bowl LIII entre Los Angeles Rams e New England Patriots, que vai rolar neste domingo (03/02), no Mercedes-Benz Stadium, em Atlanta.
LA contra Boston. Lakers vs Celtics. Dodgers vs Red Sox. O confronto entre as duas cidades – e dois estilos de vida – é emocionante em todos os esportes. Na NFL, a raridade com que os times se enfrentam (uma vez a cada quatro anos) faz com que não exista tanta rivalidade, o que não significa que não há história nesse confronto. Muito pelo contrário, os times já protagonizarem um Super Bowl, em 2002, vencido pela equipe de Massachusetts por 20 a 17, o primeiro título da era Brady-Belichick. Na época, os Rams era de St. Louis.
Naquele ano, Tom Brady era um jovem quarterback em ascensão na liga, enquanto Kurt Warner – o quarterback dos Rams à época – era um veterano guiando o melhor ataque da liga, também conhecido como “Greatest show on Turf”, uma alusão ao piso sintético do estádio em St. Louis. Agora, exatamente 17 anos após aquela partida, Brady volta a campo para sua NONA aparição em Super Bowls em busca de seu terceiro título nos últimos cinco anos e sexto na carreira. Já Jared Goff tinha sete anos de idade naquela ocasião e provavelmente já havia passado sua hora de dormir quando a partida foi transmitida na televisão de sua casa. Hoje, é um dos melhores jovens quarterbacks da liga.
E rapaz… essa partida promete. O Los Angeles Rams não é um time tão sexy quanto o New Orleans Saints, o Green Bay Packers ou até o Seattle Seahawks, três figuras de tradição na NFC deste milênio. Os Rams na verdade são aquele time que parece pior do que é. A imprensa americana não coloca muita fé em Sean McVay e seus comandados. “A defesa é ruim demais contra o jogo terrestre”, “Jared Goff não tem experiência e é só um produto do sistema de Sean McVay”, “Todd Gurley está baleado e será anulado por Belichick” são frases que ecoaram nas últimas duas semanas em Atlanta. Há uma certa dose de verdade nelas, mas a ideia dessa análise é tentar esmiuçar o que é mito e o que é verdade no confronto mais interessante do ano: chega mais.
LOS ANGELES RAMS
Já que terminamos a seção acima falando do time da Califórnia, vamos seguir nessa toada. Como não cabe nessa prévia fazer um histórico da transformação desse time, vamos direto ao que interessa: por que os Rams de McVay são tão perigosos nesse confronto contra o New England Patriots?
Quando comecei a estudar para fazer o post, pensei em alguns motivos. Primeiro: Aaron Donald, melhor jogador defensivo da liga e capaz de arrebentar sozinho com o jogo adversário. Foi aí que resolvi analisar os últimos dois jogos dos Rams – algo que certamente Bill Belichick e seus assistentes fizeram milhares e milhares de vezes – para ver se Donald realmente poderia ser o fator decisivo contra os Patriots. O que encontrei foi bem interessante.
Apesar de o jogador de linha defensiva não ter anotado nenhum sack até aqui nesses playoffs, é importante destacar que em praticamente todos os snaps as linhas ofensivas de Cowboys e Saints dobravam a marcação em cima dele, o que abriu espaço para Michael Brockers e Ndamukong Suh conseguirem chegar até o quarterback adversário. Lembro aqui que o New York Giants de 1986 foi campeão com Lawrence Taylor zerado em sacks nos playoffs – certamente por conta da atenção especial dos ataques adversários – e a defesa dos Giants cedeu apenas 7,6 pontos por jogo naquela pós-temporada.
Belichick sabe que precisará também dobrar contra Donald se quiser contê-lo, e é aí que começa o xadrez humano entre os técnicos, uma vez que será necessário também impedir Suh, Brockers e Dante Fowler III vindo pelas beiradas. O provável é que os Patriots utilizem uma versão semelhante ao esquema utilizado pelo New Orleans Saints: passes curtos para os running backs, slot receivers e tight ends. Contra os Rams, Brees arriscou apenas um passe além de 25 jardas da linha de scrimmage, na tentativa de neutralizar a pressão pelo interior de sua linha ofensiva.
O segundo – e para mim principal – motivo pelo qual os Rams podem ser um matchup complicado para New England é a sua linha ofensiva. Andrew Whitworth, Rodger Saffold, John Sullivan, Austin Blythe e Rob Havenstein ancoraram a melhor linha ofensiva da liga em 2018 de acordo com o site Football Outsiders e sua métrica avançada DVOA. Quem lê as colunas que escrevo sabe que gosto bastante de usar esse tipo de métrica, especialmente para analisar atuações de posições menos tangíveis aos olhos como as de linha ofensiva. É muito importante notar que praticamente todos os quarterbacks da liga são capazes de operar bem quando não sofrem pressão dentro do pocket e isso é especialmente verdade para Jared Goff, que lidera várias estatísticas (avançadas e simples) da NFL quando tem um pocket limpo.
De outro lado, os Patriots foram apenas o 19º melhor time chegando ao quarterback segundo o DVOA e, apenas para servir de comparação, os Saints foram o 3º melhor time e mesmo assim não foram capazes de pressionar Goff o suficiente para impedi-lo de levar seu time à vitória. Se o pass rush de New England não elevar consideravelmente seu nível de jogo no domingo, podemos esperar uma atuação de mais de 30 pontos do ataque dos Rams. Material humano para isso tem, especialmente Trey Flowers, que teve uma ótima temporada e vem jogando muito bem nos playoffs. Outra opção é usar um número alto de blitzes vindo da secundária, algo que o coordenador defensivo Brian Flores já se mostrou disposto a fazer em outras ocasiões.
(Foto: Harry How/Getty Images)
NEW ENGLAND PATRIOTS
Essa é a terceira prévia em sequência que faço dos Patriots nesses playoffs. Por isso, assisti várias e várias vezes aos jogos de New England nesse mês de janeiro, o que me deixou convencido que ninguém no universo é melhor do que Bill Belichick no quesito estudo do oponente ou que Brady em executar o plano de jogo. Na primeira partida desses playoffs, contra o Los Angeles Chargers, Belichick focou em anular os potentes linebackers Joey Bosa e Melvin Ingram, que saíram zerados de campo por conta dos velozes passes de Brady. O resultado foi esse aqui:
Joey Bosa just wanted Tom Brady to stop throwing the ball so fast 😂 pic.twitter.com/Nju3Mrma5Y
— FanDuel (@FanDuel) January 17, 2019
Contra os Chiefs na final da AFC, Belichick sabia que teria de controlar o relógio e limitar as chances de Kansas City pontuar no jogo: dito e feito. Os Patriots ficaram com a bola por absurdos 43 minutos e 59 segundos, mais que o dobro que o time de Patrick Mahomes. “Ah, mas eles só ganharam na prorrogação”. Sim. Só ganharam na prorrogação fora de casa e contra o melhor ataque e quarterback da temporada. Foram 48 (QUARENTA E OITO) tentativas de corrida de New England contra apenas 12 do adversário. Apesar dos dois turnovers sofridos pelo ataque – e nenhum conseguido pela defesa –, o time ainda saiu vitorioso.
Chegamos ao ponto que eu queria. Os Rams cederam 5,1 jardas por tentativa de corrida nesta temporada e a frase “os Rams são ruins contra o jogo terrestre” tem origem nessa estatística. Acontece que Cowboys e Saints são dois dos melhores times da NFL correndo com a bola e nenhum dos dois teve sucesso no jogo terrestre: foram apenas 48 jardas para New Orleans e 50 para Dallas. Por essas e outras, eu estou me corroendo por dentro durante a semana pensando qual será o plano de jogo de Belichick, venham comigo nessa viagem.
*Belichick pensando*: “Os Rams cedem muitas jardas pelo chão, vou usar e abusar das corridas com Sony Michel e Rex Burkhead pelo meio”. “Porém, assistindo ao replay dos jogos deles nos playoffs, eles foram muito bem parando a corrida, então acho que vou abusar é do play action na primeira descida para tentar confundir a cabeça do coordenador Wade Phillips”. “Só que se eu fizer isso, eu libero Donald e Suh para focarem no Brady, o que pode dar num jogo igual àquele contra os Broncos de Phillips em 2015, acho que vou mesmo é correr com a bola…”
Claro que Belichick é bem mais inteligente que eu e essa sequência durou apenas 0,5 segundos na cabeça dele, mas a verdade é que o plano de jogo ofensivo dos Patriots é o grande mistério desse Super Bowl, na minha opinião.
Olha, se eu tivesse uma bola de cristal ou a mente do Tony Romo eu diria para vocês qual será a decisão de Belichick e seu ótimo coordenador ofensivo, Josh McDaniels, mas infelizmente para mim – e para Phillips e McVay – eu não tenho. A linha ofensiva dos Patriots é muito boa no jogo terrestre, o que acabou dando uma identidade para o time nessa reta final de temporada de uma equipe física que quer vencer nas trincheiras e correr com a bola. Porém (!!!), vou me colocar em risco aqui e prever que veremos Brady soltando o braço e tentando mais de 40 passes nesse jogo – todos em menos de 2,5 segundos – para tentar acompanhar o ataque de Los Angeles na pontuação. Não só isso, irá triunfar com essa estratégia e possivelmente se aproximar novamente das 400 jardas. Serão muitos passes curtos para Gronk, Edelman e James White, o famoso “death by a thousand paper cuts”, algo como “morte por mil cortes com papel”, expressão que ficou famosa para descrever esse jogo dos Patriots que prefere caminhar pouco a pouco pelo campo do que arriscar muitas jogadas em profundidade.
Tudo isso para dizer que eu espero um jogo de muitos pontos e já conectar com o próximo tópico dessa prévia: jogadores que podem decidir a partida.
(Foto: Elsa/Getty Images)
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QUEM PODE DECIDIR
J.C. Jackson (Patriots) – eu sempre escolho um jogador nessa seção que represente toda uma unidade. No caso aqui peguei o calouro Jackson para falar da secundária dos Patriots. Nós já sabemos que o front seven de New England é muito bom, especial destaque para Trey Flowers e Dont’a Hightower, mas como falamos acima, a chave desse jogo para a defesa do coordenador Brian Flores será parar o jogo aéreo dos Rams.
Para isso, a secundária vai ter que cobrir o ótimo corpo de recebedores de Los Angeles – encabeçado pelo também excelente Brandin Cooks (alerta de lei do ex!) – com muita disciplina, já que Goff deve ter tempo de trabalhar no pocket como comentamos acima. Isso significa que o fator decisivo deve mesmo ser a cobertura, não só de Jackson mas também dos gêmeos McCourty e do bom-mas-não-teve-uma-temporada-tão-boa Stephon Gilmore. New England é notório por usar bastante man coverage (marcação individual), o que coloca muita pressão nos defensive backs. Até aqui, Jackson, Gilmore e os safeties vão dando conta do recado.
Aqib Talib (Rams) – alerta de lei do ex número dois. Talib sabe o que é jogar pelo e contra os Patriots, tendo sido jogador da equipe em 2012-2013 e enfrentando New England várias vezes enquanto atuava pelo Denver Broncos. Novamente aqui coloco destaque na secundária – dessa vez dos Rams -, que foi renovada na intertemporada com a chegada de Talib e Marcus Peters, mas não rendeu o esperado.
Eu conversei com alguns cara que gerenciam o site dos Rams no grupo de blogs Super Bowl Nation e o que me falaram foi que a grande dúvida é qual será a responsabilidade de cada um dos jogadores da unidade. Quem vai marcar Rob Gronkowski? Quem vai marcar Julian Edelman? Chris Hogan? James White? Essa é a dúvida que Wade Phillips terá de solucionar. Gronk já mostrou que se você colocar um linebacker na marcação, ele ganhará na velocidade e, se você colocar um defensive back, na força. Edelman também tem um histórico em levar a melhor contra os nickel corners – posição responsável por defender contra recebedores de menor estatura que jogam no slot – adversários, especialmente nos playoffs. Nesse jogo, essa função vai ficar com Nickell Robey-Coleman, que falou umas groselhas sobre Brady no meio de semana e certamente vai ter de jogar o jogo da vida para impedir que seu time saia derrotado no domingo.
PALPITE
Eu preferia que não tivesse essa parte, mas eu tenho certeza que 90% de vocês pulou direto para cá pra ver se me xinga ou não no twitter. No jogo Chiefs e Patriots, apostei em Kansas City com o coração (pra não dizer outra coisa) na mão e fiquei (talvez) a um cara ou coroa de acertar. Dessa vez, minha aposta vai nos Patriots com um pouco mais de certeza – ainda que eu vislumbre chances para Los Angeles – por conta justamente desse xadrez que mencionei nos tópicos acima.
Belichick deu uma entrevista esta semana dizendo que é quase impossível defender o ataque de McVay por conta da velocidade que o time se alinha, bem como a capacidade do técnico de ler a defesa e passar a melhor jogada para Goff executar dentro de campo. Concordo, por isso que espero 30 ou mais pontos de Los Angeles na partida. Porém, as duas maiores marcas de jardas aéreas na história do Super Bowl pertencem a um senhor chamado Tom Brady (464 e 505 nos últimos dois anos, respectivamente), e minha leitura é que Wade Phillips – que não muda seu sistema defensivo desde 2015, segundo o técnico dos Patriots – não conseguirá parar a dinastia.
Palpite José: New England Patriots
Palpite The Playoffs*: New England Patriots
*Resultado de votação entre os redatores da equipe de NFL do The Playoffs
AGENDA: SUPER BOWL LIII
Dia: 03/02/2019
Horário: 21h30, horário de Brasília
Local: Mercedes Benz-Stadium, em Atlanta, Georgia
Transmissão para o Brasil: ESPN e Watch ESPN