Para nunca esquecer: o dia em que o torcedor dos Vikings voltou a sorrir em janeiro
“Milagre de Minneapolis” faz torcedor dos Vikes exorcizar fantasma nascido na final da NFC de 1999
Comecei a acompanhar a NFL com mais afinco em 2008. Ao mesmo, tempo, também passei a acompanhar uma série que levo muito em meu coração e de muito sucesso também aqui no Brasil chamada “How I Met Your Mother” (“Como Conheci Sua Mãe”, em português). E, curiosamente, no final daquele ano, foi exibido um episódio muito legal nesta série chamado “Little Minnesota”.
Neste capítulo, o 11º da quarta temporada, o personagem Marshall, nativo de Minnesota e torcedor dos Vikings e que morava em Nova York, leva a amiga Robin a um bar que também abrigava filhos de seu estado natal e, consequentemente, fãs da equipe violeta. O curioso era a faixa acima da bancada do barman: “I’m Drinking till I forget the 1999 NFC Championship” (“bebo até esquecer a final da NFC de 1999”, em uma tradução livre).
Isso explica o começo de uma “maldição” recente para os torcedores dos Vikes, que começou há quase 19 anos, em 17 de janeiro de 1999. Naquele dia, os Vikings recebiam o Atlanta Falcons na final da NFC com uma campanha espetacular: 15 vitórias e uma derrota na temporada regular e um atropelo sobre o Arizona Cardinals no playoff divisional. Só que, na hora H, rateou. Com 27 a 20 no placar a favor e a 2 minutos do fim do jogo, Gary Anderson, kicker que não havia errado nenhum chute em toda a temporada, errou um chute de 35 jardas que mataria a partida. Após isso, os Falcons empataram o jogo com um touchdown, chutaram um field goal na prorrogação e venceram por 30 a 27 de maneira inacreditável.
A partir daí, ir aos playoffs se tornou uma experiência dolorosa para os fanáticos torcedores dos Vikes. Duas derrotas em especial foram quase ou tão dolorosas quanto aquela: em 2009, quando o New Orleans Saints venceu por 31 a 28 também na final da NFC e também na prorrogação e em 2015, quando o kicker Blair Walsh errou um chute inacreditável de 27 jardas contra o Seattle Seahawks na rodada de Wild Card.
Talvez por isso, o torcedor dos Vikes, tão traumatizado em janeiro, deve ter perdido as esperanças ontem após os Saints acertarem um chute a 25 segundos do fim. Seria mais uma derrota traumática, após abrir 17 a 0 e tomar a virada dos Saints, carrascos também em 2010. Quem poderia permitir, com um histórico tão traumático em janeiro, uma esperança de vitória ao torcedor violeta?
Tudo isso piorou ainda mais após jogadas pouco prolíficas de seu ataque. Case Keenum já havia feito demais para um terceiro QB, nós poderíamos imaginar. Mas aí, em uma quarta descida, o quarterback mostrou uma presença de espírito inacreditável. Quase caído, achou Stefon Diggs e o safety Marcus Williams não achou ninguém. O resto é a história já contada e recontada desde a noite de ontem. O Milagre de Minneapolis.
Mesmo que o sonho do primeiro Super Bowl acabe para os Vikings na próxima semana na Philadelphia, ou mesmo em casa contra o campeão da AFC, janeiro nunca mais será um mês tão maldito para os torcedores dos Vikes, que poderão assistir a um jogo de playoffs sem o pessimismo que os aplacou desde aquela final da NFC contra os Falcons. Keenum e Diggs trataram de mostrar que um jogo decisivo também pode trazer alegria para o pessoal do estado mais ao norte de toda a NFL.
“How I Met Your Mother” acabou em 2014. Naquela última temporada, aliás, Marshall era zoado por sua esposa, Lily, sobre a fraquíssima temporada dos Vikes na temporada de 2013. Mas, se houvesse outro episódio sobre o bar de filhos de Minnesota, a inscrição da faixa certamente mudaria para algo do tipo “I’m drinking to remember the 2018 NFC Divisional Game”. E a cada vez que alguém se lembrasse desse jogo, ao invés de bater na mesa e soltar um “DAMN!” (“droga!”, em inglês), Marshall repetiria o mesmo gesto, mas soltando um “DIGGS”, bem alto.
Fotos: Reprodução/CBS, Minnesota Vikings/Site Oficial e Twitter/NFL