Os Patriots estão diante de uma ameaça real na AFC East?
Diante dos Dolphins, o time de Tom Brady enfrenta um desafio antes inimaginável logo no começo da temporada
Há 18 anos temos uma certeza na NFL: os Patriots vão dominar a AFC East. Dois times da divisão têm roubado uma vaga nos playoffs nos últimos dois anos – não que eles tenham feito algo nos playoffs – os Dolphins de 2016 e Bills de 2017, mas jamais teriam sentido o cheiro dos playoffs na NFC. Vejo isso mais como um índice do nível baixo da conferência nos últimos anos do que força das equipes.
Esse início de ano fraco pelos Patriots também não é novidade. A equipe tem a tendência de começar o ano mal e terminar vencendo a AFC. Porém parece que este ano as coisas podem ser um pouco diferentes.
Mesmo com a vitória dos Bills sobre os Vikings na semana 3 é difícil argumentar que Buffalo não tem a pior equipe da liga. Josh Allen injetou um pouco de esperança a essa equipe, mas são pontos fracos espalhados generosamente por todos os setores do time. Se os Bills conquistarem mais três vitorias este ano eu ficarei muito surpreso.
Os Jets começaram o ano de forma brilhante, atropelando os Lions dentro do Ford Field. No papel é uma das equipes que mais melhorou para esta temporada, mas em campo ainda temos uma equipe que nitidamente não tem condições de ser competitiva diante dos gigantes da conferência.
Depois de uma debandada de proporções apocalípticas, Miami, que entrou pro ano sem expectativa alguma, se encontra 3-0 liderando a divisão. Adam Gase vai encontrando uma forma de ganhar e já começa a sonhar com o título de Coach of the Year, mas os Dolphins também têm uma equipe limitada e eu não botaria minha mão no fogo apostando nesse time.
Diante disso tudo, como que eu tenho a coragem de dizer que este ano pode ser diferente?
Digo isso porque a semana 4 da NFL promete ser de suma importância. Teremos um duelo divisional que poderia ser promovido como uma mega luta de Boxe. No estilo de um Mayweather x Pacquiao, teremos Brady e Tannehill. No “undercard” desse confronto, um duelo entre quatro times que vão nos mostrar do que esses pequenos desafiantes da AFC são feitos.
Bills e Jets desfilam seus novos QBs em campo, os dois em momentos diferentes. Darnold, começou brilhante, atropelou os Lions (que venceram os Patriots), tropeçou nos Dolphins e no jogo do TNF, com todos os holofotes, a equipe teve a honra de ser a primeira a perder pros Browns em praticamente dois anos. Logo de cara, o novo líder do ataque de New York mostrou a fragilidade que afastou alguns especialistas e GMs dele durante o processo de Draft. Como que o quarterback mais jovem da era moderna do futebol americano vai se recuperar do fracasso da quinta-feira passada? O adversário é simplesmente o Jacksonville Jaguars (que também ganhou dos Patriots), com a sua defesa assustadora. Bem-vindo à NFL, Sam Darnold.
Do outro lado entre os desafiantes, temos Josh Allen no auge. O QB que mais dividiu opiniões no Draft simplesmente aterrorizou a defesa dos Vikings em Minnesota. Ok, “aterrorizou” talvez seja um exagero, mas Allen soube se aproveitar das ótimas oportunidades que sua defesa o proporcionou e montou uma liderança diante de uma das melhores defesas da liga. Semana passad, os Bills eram candidatos pra terminar o ano 0-16, e agora? Será que Buffalo é melhor do que imaginávamos ou os Vikings que nos enganaram? Diante de tantas incertezas, o time vai a Wisconsin enfrentar os Packers com Aaron Rodgers. Green Bay, que decepcionou contra os Redskins, entra em campo pressionado – uma derrota para os Bills bagunçaria de vez a NFC norte.
E agora ao nosso confronto principal: de um lado temos o Miami Dolphins. Uma equipe que passou as últimas temporadas evacuando seus jogadores mais talentosos, Jarvis Landy, Jay Ajay, Ndamukong Suh. Miami entrou para 2018 sem certeza de qual seria a personalidade do time. Adam Gase parecia completamente perdido e muitos (me incluo nessa) acreditavam que seria mais um ano perdido para a equipe mais popular da Flórida. Porém, depois de três semanas, os Dolphins se encontram no topo da divisão, invictos e indo para New England com a chance de afundar de vez o seu grande rival e controlar seu futuro na temporada. O time não joga bonito, não faz nada muito bem, continua sem ter um DNA especifico em campo, porém nessas três semanas os Dolphins simplesmente têm encontrado uma forma de vencer o jogo, isso não pode ser menosprezado.
No outro corner temos o rei supremo do Leste, o atual campeão da divisão (ha anos), o New England Patriots. Como eu já citei acima, é comum os Patriots começarem o ano mal e terminar levantando o Vince Lombardi. Não ficaria surpreso se esse desastre que têm sido as primeiras semanas de 2018 forem revertidas em mais uma campanha longa nos playoffs. Mas o fato é que este ano tem algo diferente no ar de Foxborough. Começando com fatores extracampo, desde aquela matéria da ESPN americana citando as divisões internas entre Brady, Belichick e Kraft até um livro publicado na última semana que desenha um divórcio eminente entre as figuras mais importantes na história do time. Parece que os Patriots não têm mais aquele ar de “quase imbatíveis”. Problemas no training camp, um Gronk pouco interessado, Brady também não demonstra tanto interesse em jogar até os 45, Belichick parece disposto a passar o bastão para McDaniels. Há um ar de mudança em Foxborough.
É obvio que os desfalques têm enfraquecido os Patriots. Edelman fora, a OL baleada, Flowers machucado, Patrick Chung ausente. São muitos obstáculos para os Patriots neste inicio de ano, sim. Porém, a falta de vontade do time, a lentidão dos jogadores defensivos e a falta de precisão de Brady em lances capitais não é algo comum em times de Belichick. Teve uma falta de 12 homens em campo durante a derrota pros Lions. Até o torcedor mais fanático dos Patriots tem que admitir que isso não é comum.
Fato é que logo na semana 4 teremos um confronto importantíssimo para as pretensões das duas equipes. Os Dolphins têm surpreendido diante dos Patriots nos últimos anos, mas dentro de Foxborough e sob pressão, New England costuma reagir bem. Ainda é muito cedo para traçar um panorama preciso sobre essa divisão (e conferência e a NFL) que está completamente aberta e maluca em 2018. Se eu tivesse que apostar, apostaria em uma vitória dos Patriots e que o time venceria a AFC East no final do ano.
Porém, vamos lembrar do último confronto entre essas duas equipes, da consagração de Xavien Howard diante de Tom Brady. Vamos nos permitir a imaginar o pass rush veloz de Kiko Alonso, Cameron Wake e Robert Quinn pressionando Brady e forcando erros como vimos durante essas primeiras semanas. Imagine a velocidade de Kenyan Drake nos passes de screen diante da lentidão dos LBs de New England. E por final, imagine que Miami vença New England no Gillette Stadium, Dolphins 4-0, Patriots 1-3.
Seria a gordura necessária para que talvez os Dolphins consigam encerrar essa supremacia dos Pats dentro da divisão. É aquele velho ditado: “You wanna be the best you have to beat the best” (“Você quer ser o melhor, você tem que vencer o melhor”). Se o time de Miami sonha em calar os críticos e assumir o rótulo de campeão da AFC East, precisa vencer New England domingo. Pela primeira vez em dez anos o lado Leste da Conferência Americana parece em aberto.
(Fotos: Jonathan Daniel/Getty Images; Divulgação Twitter / Miami Dolphins; Elsa/Getty Images)
*Por Raphael Fraga – comentarista de NFL para o USA na Rede e radialista para a Nossa Rádio USA em Boston. Me siga pelo Twitter @Fragafootball.
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