Mike Mayock mostra inteligência em começo nos Raiders e se fortalece com saída de Antonio Brown
Situação dramática de AB reflete no trabalho de Mike Mayock como GM da franquia
O mundo do futebol americano vem testemunhando, desde meados da temporada passada, que o talento de Antonio Brown dentro de campo é proporcional ao drama que o jogador traz ao vestiário. Após inúmeras brigas envolvendo Brown e Big Ben, o Pittsburgh Steelers entendeu que era hora de acreditar em JuJu e se despedir de seu então wide receiver número 1.
A decisão não foi fácil, afinal, AB acumulou no mínimo 1.200 jardas e 100 recepções em cada uma das últimas 6 temporadas jogando pela equipe de Mike Tomlin. Mesmo assim, com um ambiente praticamente insustentável, a franquia colocou o produto de Central Michigan University (CMU) foi colocado no mercado de trocas. Após se negar a jogar pelo Buffalo Bills, Brown foi trocado para o Oakland Raiders por uma escolha de terceira e uma de quinta rodadas do Draft 2019.
O início da relação com a franquia da Califórnia foi uma aposta muito bem feita pelo general manager Mike Mayock. Além de pagar duas escolhas de meio de Draft por um dos melhores recebedores, o contrato de AB era dentro de valores aceitáveis para o que se esperava de produção dentro de campo. Mayock, assim, entregava a Jon Gruden e Derek Carr um verdadeiro WR 1, sem comprometer o Draft ou salary cap da franquia.
Logo na abertura do training camp, Brown não pôde estar com seus companheiros dentro de campo, em virtude da lesão sofrida em uma câmara de crioterapia. A partir disto, o jogador não estava apto a treinar, visto que queimou a sola de seus pés, porque o calçado utilizado na câmara não era apropriado. Ainda que seja um acidente evitável pelo jogador, Mayock e os Raiders permaneceram ao lado dele, dando suporte durante sua recuperação.
Uma vez recuperado, AB passou a viver o drama de seu novo capacete. Assim como os demais, este drama era absolutamente desnecessário, visto que a NFL já havia informado anteriormente que o jogador (e todos os outros que utilizavam helmets antigos) teria de se adaptar aos equipamentos que estão na lista dos aprovados pela liga. Mesmo assim, o WR ingressou com um recurso junto à NFL, e perdeu, sendo obrigado a se adequar a um novo capacete.
Por isto, o jogador não participou de um dia de treinamentos, o que causou o novo drama (e mostrou outro acerto de Mayock). Pela regra da franquia, qualquer jogador que falta a um treino sem justificativa é multado. O novo acerto de Mayock foi não ter tratado AB com privilégios, diferenciando-o do grupo. Ainda que tivesse perdido treinamentos por conta da lesão nos pés, sua falta em função do capacete foi unicamente por tristeza de ter que trocar de equipamento. Ou seja, faltou sem um motivo que justificasse.
Como todos testemunharam, o jogador publicou a carta, reclamando da atitude do GM. No dia seguinte, segundo relatos, Brown teve uma discussão muito forte com Mayock em frente ao grupo de jogadores. Muitos repórteres informaram, inclusive, que o jogador teria ameaçado agredir o GM.
A partir disto, Mayock tinha desejo de cortar Brown, visto que ele deu causa a suspender o contrato, evitando os mais de US$ 30 milhões em garantias contratuais ao recebedor. Contudo, AB se reuniu novamente com jogadores e front office, fazendo um pedido de desculpas emotivo, no qual foi apoiado pelos capitães do time.
E este, para mim, é mais um acerto de Mayock; ao perceber que os jogadores pediam, junto a AB, uma nova chance para que o time estivesse completo no Monday Night Football, o GM esqueceu qualquer orgulho e, ao lado de Gruden, garantiu a presença do jogador na partida de abertura da temporada.
Mesmo aceitando o pedido de desculpas e dando uma nova chance a Brown, Mayock foi obrigado a multar novamente o jogador, uma vez que foi ameaçado por ele. Ou seja, mesmo quando suportado pelos jogadores, o ex-comentarista entendeu que o descumprimento das regras não podia ser tolerado, privilegiando, acima de tudo, a instituição. Assim, a multa foi enviada e, pelo comportamento de Brown, seu contrato acabou sendo suspenso, o que fez o jogador perder o valor totalmente garantido.
De forma surpreendente, Brown se julgou injustiçado e, sem as garantias, pediu para ser cortado. Evitando qualquer impacto significativo no salary cap, Mayock atendeu o pedido e acertou pela quarta vez ao finalizar a relação entre Raiders e Antonio Brown ainda antes de entrar no campo.
A forma como Mayock conduziu todo este drama é digna de reconhecimento, e talvez tenha sido forte o suficiente para que ele não seja mais visto como um comentarista no cargo de GM, e sim, como um GM emergente na NFL. Ao mesmo tempo, numa situação muito difícil de se conduzir, o general manager ouviu o pedido de seu grupo de jogadores, impôs as regras que estão no código disciplinar da equipe e salvou a franquia de sofrer qualquer impacto no salary cap.
De fato, os Raiders podem vencer menos jogos com a saída de Antonio Brown, que acabou contrato pelo New England Patriots, mas não há dúvidas que os acertos administrativos podem ter um impacto muito superior a médio/longo prazo. O principal recado que qualquer jogador deve ter retirado desta situação é que ninguém é maior que a franquia, não importa seu talento.
Hoje, Mayock sai fortalecido de uma relação que não trouxe frutos dentro de campo, mas mostrou uma nova cara fora dele. AB pode não ter rendido uma jarda sequer aos Raiders e, mesmo assim, ter contribuído para o desenvolvimento de uma peça importante em qualquer equipe da NFL: o general manager. Se as escolhas principais do Draft deste ano demonstrarem que as convicções de Mayock estavam corretas ao selecioná-los, podemos testemunhar o início de um período consistente no front office dos Raiders, algo vital para o novo começo em Las Vegas e para que a franquia volte a figurar entre as melhores da liga.
Mayock, ao fim, seguiu o lema base dos Raiders, mantendo o “compromisso pela excelência” e, mesmo dispensando seu melhor jogador, ele “just won, baby”.
(Foto: Reprodução Twitter/NFL)