Meryl Streep, eu te amo. Mas você está errada sobre a NFL
A grande atriz americana minimizou importância artística do futebol americano; dessa vez ela está equivocada
Meryl Streep, eu te amo. Você é uma das maiores atrizes da história de Hollywood, sem sobra de dúvidas. Consegue desempenhar papéis épicos em filmes lendários, como “A Escolha de Sofia” ou “Kramer vs Kramer” e ao mesmo tempo dar glamour a blockbusters, como em “O Diabo Veste Prada”. É uma artista, na mais completa acepção da palavra.
Dito isso, assisti ao seu discurso ao receber uma justa homenagem na edição deste ano do Globo de Ouro. E pude concordar muito em uma parte. E discordar veementemente em outra.
Ao comentar sobre o futuro reservado aos EUA a partir do próximo sábado, quando Donald Trump assume o comando da nação mais poderosa do planeta, você valorizou o trabalho dos imigrantes no país, inclusive na arte. E disse que, se não fosse por esse, só restaria aos americanos “ver MMA e futebol americano”, como se esses e outros esportes não fossem dignos de receber a alcunha artística.
Meryl, tirando fato de ter falado isso cerca de uma hora depois de Aaron Rodgers ter feito uma das jogadas mais espetaculares da história da NFL, contra o New York Giants, imagino que você, se não viu, ao menos ouviu os comentários acerca da partida de ontem da rodada divisional da NFC, entre Dallas Cowboys e o mesmo Packers de Rodgers, certo? Cá entre nós, não teve um roteiro digno de cinema?
Imaginemos Pulp Fiction, clássico de Quentin Tarantino, de 1994. É um filme genial formado por recortes onde os acontecimentos quase não se ligam, mas criam um resultado final fantástico. Foi isso que aconteceu ontem no Texas. Um jogo feito de momentos das duas equipes e muitos plot twists.
Um jogo onde dois calouros mostraram todo o talento e a personalidade de veteranos para trazer a sua equipe de volta à partida. E, no momento decisivo, onde o gênio criativo do time visitante mostrou sangue frio ao pedir tempo após um sack. E contou com a presença de espírito de seu recebedor para completar um passe mágico.
Ainda teve o personagem que encerrou a peça, Meryl. Um kicker que não havia acertado nenhum chute em uma distância maior que 50 jardas na temporada e, no momento decisivo, colocou para dentro bolas de 56 e 51 jardas. Não é surreal e surpreendente?
Meryl, eu amo seu trabalho e compartilho de suas preocupações com o futuro dos EUA e da humanidade como um todo. Vivemos por aqui uma era de “política pós-verdade” parecida, aliás. Mas tenho que alertar que o futebol americano, assim como qualquer outro esporte, também tem seu poder de cativar, incluir e levar o público a outra dimensão. E ontem no Texas, isso ficou ainda mais claro.
Saudações de um fã.
(Fotos: Joe Robbins/Getty Images; Wikimedia)