Como John Dorsey pode levar os Browns ao topo em breve
Na coluna desta semana, Raphael Fraga analisa o perfil do novo GM da equipe e os recursos para reconstruir a franquia
Para o torcedor que acompanha a NFL há pouco tempo, o nome Cleveland Browns é sinônimo de derrota e piada, uma equipe que mal consegue vencer um jogo na temporada e passa longe de competir com os gigantes da própria divisão.
Mas por trás de todos os fracassos recentes, da imensa lista de QBs que decepcionaram e da tonelada de escolhas que geram o deboche alheio, a equipe tem uma brilhante história de sucesso, que faz da franquia uma das mais importantes na historia do esporte.
A verdade é que, antes da era Super Bowl, Cleveland era uma das equipes mais poderosas do futebol americano. Fundados em 1945, os Browns eram treinados pelo lendário Paul Brown (o time recebeu o nome para homenageá-lo) e venceram os primeiros quatro campeonatos que disputaram, uma marca incrível de oito títulos entre 46 e 64.
Figura cativa nos playoffs da NFL entre 80 e 94, a franquia passou por seu pior momento quando o então dono, Art Moddell, brigou com toda a cidade e levou o time para Baltimore. Os jogadores e treinadores se transformaram no Baltimore Ravens (que o leitor certamente considera uma equipe de respeito) porém o nome, a história, os títulos e paixão do torcedor seguiu guardada em Cleveland, onde esteve adormecida entre 1995 e 1999, quando a NFL ressuscitou a histórica franquia em Ohio.
O renascimento dos Browns esteve longe de recuperar o sucesso do antigo time estabelecido por Paul Brown. Se os Browns tiveram Otto Graham, um dos melhores QBs na história da liga, durante seus primeiros anos foram 28 titulares na posição nobre do jogo.
Desde 1999 os Browns só chegaram nos playoffs uma vez (2002) e nos últimos dois anos só conquistaram uma vitória em temporada regular. Mas conversaremos agora sobre os motivos para o torcedor de Cleveland acreditar em um futuro melhor e você verá que a equipe mais “loser” da atualidade pode reverter este quadro em muito menos tempo que o imaginário popular.
Mudanças no comando
Tudo isso começa com a decisão tomada durante a semana passada em demitir o general manager Sashi Brown, culminando na contratação de John Dorsey. Brown é um GM que favorece uma nova geração de “executivos” nos esportes americanos; nada contra ele e os outros dirigentes focados em números. Por sinal tenho que elogiar o trabalho feito por Brown, acredito que a espinha dorsal do time vai ajudar muito nos próximos anos, mas para dar um passo à frente era necessário um pensamento mais voltado para o conhecimento de campo.
Dorsey, por sua vez, tem sua base formada nos Packers desde os anos 80 e era o responsável para o scouting de college nos anos 2000 (ou seja, a descoberta de Aaron Rodgers e todos os outros craques da equipe passou por ele, o que resultou em 2011 na conquista do último anel de Green Bay até o momento). Como gerente geral, ajudou a reestruturar o Kansas City Chiefs de 2013 a 2016, montando a base que vemos hoje.
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Lampejos de talento do roster
A verdade é que temos muito talento em Cleveland, pois Brown trouxe destaques defensivos como Jamie Collins, Emmanuel Ogbah, Jabrill Peppers e Jason McCourty; sem mencionar a primeira escolha no Draft de 2017, Myles Garrett, que sofreu com contusões durante esta primeira temporada, porém tem tudo para ser um dos destaques no front seven em breve.
Se DeShone Kizer tem decepcionado, ele não pode reclamar da sua linha ofensiva. Nos últimos anos, Brown montou uma das melhores da liga com Joel Bitonio, Kevin Zeitler, e claro, Joe Thomas, um dos melhores tackles da NFL. Combinado com uma dupla de RBs talentosa (Isiah Crowell e Duke Johnson), um TE promissor (Njoku) e o retorno de um dos maiores talentos na posição de WR (Josh Gordon).
Picks no próximo Draft
A base de um time vitorioso já está bem encaminhada, mas talvez o maior legado que Sashi Brown vai deixar nos Browns é a situação em que ele entrega o time para seu sucessor. Em 2018, John Dorsey terá duas escolhas de primeiro round (provavelmente no top 10), três escolhas de segunda rodada e uma de terceira alta no Draft. E mais, o time terá praticamente US$ 100 milhões livres no salary cap, um sonho para qualquer franquia.
Se o maior pecado de Sashi Brown foi não puxar o gatilho em picks com QBs – passou em Wentz, Prescott e Watson nos últimos dois Drafts) – Dorsey teve coragem de apostar em Alex Smith para a posição que era ocupada pelo anêmico Matt Cassel, tirando o atual titular dos Chiefs de San Francisco.
Em um ano em que podemos ter nomes como Kirk Cousins, Eli Manning e o próprio Alex Smith na free agency, acrescidos das promessas do Draft, como Josh Allen, Josh Rosen, Sam Darnold e Baker Mayfield, fica fácil imaginar Dorsey escolhendo minunciosamente o QB do futuro de Cleveland.
Provável mudança de head coach
Uma decisão que também será tomada por Dorsey diz respeito ao comandante para 2018. Hue Jackson chegou aos Browns há dois anos, com um currículo ofensivo extenso. O ex-coordenador ofensivo de USC, dos Raiders, Redskins e Bengals era tido como o homem correto para reverter a situação desastrosa deixada por Pat Shurmur e Eric Mangini. Dois anos depois o time só conseguiu conquistar uma vitória.
Para piorar a situação, esse ano foi repleto de péssimas decisões por parte de Jackson, especialmente com seu jovem QB Kizer, que todos sabiam ser necessário um tempo para se adaptar ao futebol americano profissional antes do Draft e foi jogado “aos leões”, sendo titular absoluto na primeira semana da temporada. Quando o calouro foi mal, ele o colocou no banco e mais tarde tornou a sacar o jovem jogador, prejudicando precipitadamente seu futuro na NFL.
Pelo menos até o momento em que eu escrevo essa coluna, Hue Jackson será o treinador dos Browns em 2018, fato assegurado pelo presidente (que às vezes se mete demais nesse tipo de decisão e atrapalha). Porém, Dorsey terá carta branca para optar em trocar o comando no final do ano, coisa comum quando um GM herda uma comissão técnica montada por outro profissional.
Pessoalmente eu acredito que está na hora da mudança, pois já vimos diversas vezes que a mentalidade vitoriosa é fundamental para um time reverter seu destino na NFL. E tenho sérias dúvidas de que Hue Jackson, vindo de duas temporadas desastrosas, ainda consiga apagar a mentalidade de perdedor dos Browns.
Em um cenário perfeito, Dorsey se reuniria com o Mike Holmgren, treinador a quem ele ajudou a conquistar um Super Bowl em Green Bay. Holmgren, por sinal, tinha o cargo de Dorsey em 2012 quando o time foi comprado por Jim Haslan, que optou em demiti-lo. Não sei se ainda existe alguma animosidade entre Holmgren e Haslan, mas o lendário treinador já admitiu diversas vezes que ele deveria ter treinado os Browns e não ficado somente na administração.
Exemplo de reconstrução rápida na liga
Na temporada de 2017 ficou evidente que uma offseason bem trabalhada pode reverter o status de uma franquia. Os Rams demitiram seu treinador com espirito “perdedor”, contrataram uma jovem mente ofensiva talentosa que mudou completamente a filosofia de jogo e a mentalidade da equipe.
A diretoria de Los Angeles investiu bem, com contratações pontuais para os setores mais fracos. Foi bem no Draft, e transformou o time de uma equipe chata e completamente perdida a uma das equipes mais eletrizantes da liga e candidato aos playoffs.
A NFL proporciona tudo para esse tipo de reviravolta. Se Dorsey construir em cima do legado de Sashi Brown, trouxer um head coach de peso e se acertar em no mínimo metade das escolhas altas no Draft de 2018 (coisa que ele tem completa capacidade de fazer), tenho confiança de que em poucos anos os Browns serão uma forca a ser respeitada na AFC.
Com os Steelers prestes a perder Big Ben, os Ravens pressionados a reconstruir e um Cincinnati Bengals que também deve estar reformulando com um novo treinador, a AFC North estaria completamente aberta para um novo desafiante. E por que não o velho time de Paul Brown, Otto Graham e Jim Brown? Por que não o Cleveland Browns?
(Fotos: Divulgação/Browns e Getty Images)
Por Raphael Fraga
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